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EsporteCatar

Assistir ou boicotar a Copa no Catar?

21 de novembro de 2022

A Copa no Catar é a mais polêmica da história. Os torcedores estão diante de um dilema: assistir ou boicotar os jogos? Pascal Jochem procura a resposta.

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Torcedor com lenço nas cores da Alemanha na cabeça tapa os olhos com as duas mãos
Muitos torcedores alemães estão diante de dilema sobre assistir ou não aos jogos da CopaFoto: Jens Schlueter/APN/picture alliance

É a questão crucial do nosso tempo. Só que, em vez de religião, trata-se de futebol. "Diga-me, qual sua opinião sobre a Copa do Mundo no Catar?" Assistir ou ignorar? Resignar ou protestar? A diversidade de opiniões divide famílias, amizades e mesmo colegas de trabalho.

Apesar de toda a controvérsia política em torno do torneio, ainda é legítimo assistir às partidas e até mesmo torcer? Ou isso é moralmente questionável?

Fortes críticas nos estádios da Bundesliga

Nos estádios alemães, a opinião parece ser unânime: rejeitamos a Copa do Mundo do Catar, anunciaram muitos torcedores em todo o país nas últimas semanas em faixas e cartazes. As mortes entre os trabalhadores estrangeiros e a legislação homofóbica no Catar são criticadas publicamente. Com razão.

Mas para muitos críticos o Catar simboliza muito mais: o caminho perigoso que o futebol moderno tomou. Xeiques e "sportwashing" [prática de usar esportes para melhorar reputações desgastadas], investidores desonestos, corrupção e o aniquilamento da alma do jogo − o Catar é um símbolo de tudo isso. Tudo isso pode ser rejeitado, posso entender.

Mas, simplesmente ignorar o futebol, como se o maior evento esportivo do mundo não estivesse acontecendo? Antes da Copa do Mundo de 2018, na Rússia, também houve barulho na mídia, mas não houve pedidos de boicote. A força aérea russa lançou bombas sobre a Síria e os trabalhadores convidados norte-coreanos foram sistematicamente explorados na construção de estádios. "Os escravos de São Petersburgo", dizia uma manchete.

Torcedores com cartazes de protestos à Copa no Catar em estádios alemães
Protestos à Copa no Catar em estádios alemãesFoto: Teresa Kroeger/Nordphoto/IMAGO

Um limite já não havia sido ultrapassado nessa época? Um boicote à TV pode realmente surtir efeito? Cada bar, cada torcedor pode decidir por si mesmo, e baixos índices de audiência também atingem a Fifa. Mas se na Alemanha e eventualmente no norte da Europa os índices forem baixos, outras regiões compensarão isso. A Fifa está há muito tempo no processo de abertura de novos mercados − e isso só pode ser criticado de forma limitada.

O mundo árabe merece uma Copa do Mundo − mas onde?

Um Mundial de futebol já deveria ter acontecido há muito tempo no mundo árabe. A Fifa levou mais de 90 anos para isso. A crítica à "Copa do Mundo de inverno" e à falta de tradição futebolística no Catar é eurocêntrica, alguns dizem tratar-se de arrogância ocidental. A região merece uma Copa do Mundo.

Mas tinha de ser justamente no Catar? Eu também não estou feliz com isso. Mas vou ligar a TV e assistir à Copa do Mundo. E eu já sei: vai doer. A alegria antecipada tende para zero. Os relatos iniciais de supostos "torcedores falsos" comprados para fazer a festa em Doha me deixam sem palavras. Assim como a perspectiva de ter que suportar mais mensagens de paz do presidente da Fifa, Gianni Infantino, nas próximas semanas.

Eu me apego às memórias da infância. Em 1994, quando menino, sentei-me numa sala escura em frente à televisão de tubo incandescente. Foi quando os nigerianos jogaram magnificamente e o brasileiro Bebeto comemorou seus gols com um gesto de embalar bebê.

Cartaz anunciando boicote a Catar 2022
Muitos bares alemães não transmitirão as partidas do MundialFoto: Thomas Banneyer/dpa/picture alliance

São estas as imagens que ficaram. Cada torcedor tem sua própria história; é através de tais experiências que nasce o fascínio pela Copa do Mundo. E, no final, nós nos ligamos a TV por amor ao jogo. Ou pelo menos por razões profissionais.

Assistir, mas questionar

Desta vez será um ato especial de equilíbrio: até onde chegará o campeão africano Senegal, Messi vai aproveitar sua última chance? Como estão Hansi Flick e a seleção alemã? Vale a pena contar todas essas histórias esportivas, mas na verdade estou muito mais interessado no que acontece fora dos gramados.

Onde vai desmoronar a encenação da Fifa, que já chamou o torneio de "melhor Copa de todos os tempos"? A pressão internacional vai levar a um fundo de compensação para os trabalhadores estrangeiros? Como os catarianos tratarão a liberdade de imprensa? (Os primeiros sinais não são exatamente promissores).

Como os torcedores sul-americanos e asiáticos veem esta Copa do Mundo e a questão dos direitos humanos, tão presente no Ocidente [europeu]? A equipe da Federação Alemã de Futebol ainda inventará uma ação para "representar nossos valores", como proclamou Manuel Neuer? Será que o emirado realmente vai aproveitar esta "oportunidade", como calculou Bastian Schweinsteiger na entrevista à DW? E como reagem às críticas todas as figuras de relações públicas generosamente pagas, como o embaixador do Catar David Beckham?

Eu quero saber, questionar e discutir tudo isso. Na mesa do jantar, na cantina ou no bar. Todas essas coisas merecem nossa atenção. E é por isso que olhar para o lado para mim não é opção.

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Pascal Jochem é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.