Faltam 5 anos
30 de agosto de 2010"Para começo de conversa, o importante é as pessoas saberem o que são as metas de desenvolvimento do milênio. Muita gente nem sabe que elas existem", diz Pola Roy, baterista da banda alemã Wir sind Helden em uma propaganda das Nações Unidas para divulgar sua agenda de desenvolvimento.
O músico menciona um problema importante. Na Alemanha, muita gente nem sequer ouviu falar desse ambicioso projeto da ONU, apesar de as oito metas já existirem há dez anos. Entre outras coisas, a ONU quer reduzir a pobreza pela metade até 2015, garantir educação fundamental a todas as crianças e assegurar o acesso a medicamentos para todas as pessoas portadoras do vírus HIV.
Propaganda para as metas de desenvolvimento
Renée Ernst dirige uma campanha da ONU para divulgar as metas do milênio na Alemanha. Ela vai de cidade em cidade, conversa com estudantes e participa de eventos sobre o tema. No entanto, ele tem constatado que propagar essas metas não é nada fácil: "Muita gente não tem afinidade alguma com esses conceitos, algo confirmado pelas enquetes".
Mas Renée Ernst não perde o otimismo. "Basta falar de fome e pobreza que as pessoas já começam a fazer associações. Trata-se de questões das quais as pessoas já têm consciência." Ernst só lamenta que esses sejam assuntos pouco discutidos em conversas cotidianas.
O objetivo da campanha é justamente tornar essas metas mais presentes no cotidiano das pessoas. Uma estratégia é tentar atingir a população com a ajuda de pop stars. A cantora Judith Holofernes, do Wir sind Helden, explica no videoclipe por que esse tema é importante para todos: "Para mim, o principal é ter consciência de que a pobreza é a raiz de todos os problemas do mundo. Ou seja, se a gente lutar contra a pobreza, estará lutando contra guerras, destruição ambiental, repressão e desigualdade".
Distante, mas próximo
Guerras, destruição do meio ambiente e desigualdade também acabam afetando a Alemanha. Exemplos disso são o recrutamento de soldados alemães para operações militares no Afeganistão e no Congo, os refugiados de guerra migrados para a Europa ou a elevação das emissões de CO2 em decorrência do desmatamento.
É justamente essa consciência para os problemas globais que falta na opinião pública alemã, avaliam especialistas em desenvolvimento. Para Dirk Messner, diretor do Instituto Alemão de Política de Desenvolvimento (DIE), sediado em Bonn, "o que acontece na África, na América Latina ou na Ásia é distante demais da maioria dos alemães".
Ele também acha que a ajuda ao desenvolvimento não é muito abordada. "A maioria das pessoas acha que é algo moralmente interessante e importante. Ninguém é contra. Mas também ninguém se mobiliza para que haja avanços", lamenta Messner.
Plano simples
A política de desenvolvimento praticamente não tem lobby algum. Já as metas do milênio até têm certa repercussão, em comparação com os temas gerais de desenvolvimento, argumenta Messner.
Ele acredita que os objetivos da ONU sejam de conhecimento da opinião pública alemã, sobretudo por serem princípios de simples formulação – reduzir a pobreza e a mortalidade infantil, por exemplo –, que ajudam a tornar plausível a função que a política de desenvolvimento deveria exercer.
Mas é difícil saber com exatidão até que ponto as metas de desenvolvimento do milênio são de fato conhecidas na Alemanha. Não existem estatísticas nesse sentido. A fim de informar o maior número de pessoas, campanhas como a da ONU apostam no carisma das personalidades públicas.
Para a recente campanha Sua Voz contra a Pobreza, por exemplo, a Venro (Federação das ONGs da Alemanha) havia engajado – entre outros – o cantor Herbert Grönemeyer. Para esta, a ONU contratou, além da banda Wir sind Helden, o cantor de reggae Gentleman e diversos outros.
Ole Seidenberg, da agência de publicidade berlinense Nest, considera essa estratégia sensata. "São diversos canais através dos quais se podem atingir pessoas diferentes. Quando uma pessoa famosa mostra a cara, algumas pessoas que talvez nem se interessassem espontaneamente pelo assunto acabam prestando atenção. Mas também é importante veicular os conteúdos para além desse nível de apelo, é claro", comenta o publicitário.
Abstrato demais
Campanha das Nações Unidas: esse é o nome da iniciativa. Para Seidenberg, isso é distante demais do cotidiano alemão, abstrato demais. "Eu nem chamaria o negócio de campanha. Simplesmente apresentaria oito pessoas afetadas pelos problemas implicados nas metas. Eu teria colocado o conteúdo na frente e deixado a marca para atrás", explica ele.
A ONU só tem mais cinco anos para atingir as metas que se propôs a alcançar – cinco anos durante os quais as organizações não-governamentais e a campanha das Nações Unidas continuarão tentando despertar o interesse das pessoas pelo assunto.
Renée Ernst, diretora da campanha da ONU na Alemanha, tem uma meta pessoal em vista: "Meu maior desejo é que as pessoas percebam que as distâncias estão cada vez menores e que é de nosso interesse que todos possam levar uma vida digna. Precisamos nos conscientizar da nossa responsabilidade."
Autora: Christine Harjes (sl)
Revisão: Rodrigo Rimon