ONU condena "crime de guerra" em Madaya
15 de janeiro de 2016O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou nesta sexta-feira (15/01) sobre os casos de desnutrição infantil na cidade síria de Madaya, sitiada há seis meses pelas forças armadas do país. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, alertou nesta quinta-feira que utilizar a inanição como estratégia é claramente um "crime de guerra".
De 25 crianças com idade abaixo dos cinco anos examinadas pela equipe da Organização Mundial de Saúde (OMS), 22 apresentaram desnutrição "moderada ou severa", segundo o Unicef. Além disso, seis em cada dez crianças ou jovens com idade entre 6 e 18 anos apresentam sinais de desnutrição aguda.
Em relatório, o Unicef reconheceu que, apesar de não serem uma amostra representativa da situação, os exames servem como reflexo da realidade em Madaya, localizada a 24 quilômetros de Damasco.
Equipes do Unicef e da OMS testemunharam a morte de um jovem de 16 anos por inanição e afirmaram que algumas pessoas deveriam ser evacuadas do local para que pudessem receber atendimento médico adequado.
A cidade de Madaya, controlada por rebeldes na Síria, ganhou fama internacional após a divulgação de imagens de homens, mulheres e crianças em péssimas condições. Segundo relatos, dezenas morreram de fome, enquanto crianças se alimentavam de grama para poder sobreviver no local, que há meses viu seus suprimentos acabarem em razão do cerco das tropas sírias.
Segundo o Unicef, as pessoas estavam "exaustas e extremamente fragilizadas" e os médicos que restaram na cidade apresentavam perturbações emocionais e esgotamento mental.
Outras quatorze "Madayas"
Segundo a ONU, aproximadamente 450 mil pessoas vivem em 15 localidades sitiadas na Síria, em áreas controladas pelo regime de Damasco, por rebeldes ou ainda pela organização extremista "Estado Islâmico" (EI).
"Enquanto manifestamos nosso choque em relação à situação em Madaya, não nos esqueçamos que ainda existem quatorze outras 'Madayas'", diz o relatório do Unicef. "São lugares em que as diferentes partes envolvidas nos conflitos utilizam o cerco como tática de guerra, e civis inocentes são impedidos de ter acesso a recursos e serviços de resgate."
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, disse que os responsáveis devem ser processados criminalmente.
A França, o Reino Unido e os Estados Unidos convocaram para esta sexta-feira uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, para exigir o fim dos cercos e permitir que a ajuda humanitária chegue até os civis.
A Rússia, o maior aliado da Síria, afirmou ter pedido ao governo do presidente Bashar al-Assad que coopere com a ONU para permitir o acesso de ajuda humanitária às localidades sitiadas. O mesmo poderia se alcançar se governos de outros países usassem sua influência sobre grupos rebelde, disse Moscou.
Acusações mútuas
Nesta semana, uma missão humanitária das Nações Unidas, do Crescente Vermelho Sírio e da Cruz Vermelha Internacional chegou finalmente a Madaya, após um acordo intermediado pela ONU entre o governo e os rebeldes. O acordo também inclui a cidade vizinha de Zabadani, controlada pelos insurgentes.
A oposição síria acusa o cerco das tropas do governo e o grupo xiita Hisbolá pela gravidade da situação, enquanto Damasco culpa os rebeldes de confiscar e acumular alimentos.
Como parte da trégua mediada pela ONU, a ajuda humanitária chegou também a dois vilarejos controlados pelos xiitas no norte da província de Idlib, atualmente cercados pelos rebeldes.
A ONU pediu o fim de todos os cercos no país, como medida de fortalecimento da confiança, em antecipação a conversações de paz marcadas para o dia 25 de janeiro. A organização visa promover cessar-fogos e operações humanitárias em âmbito regional, os quais poderão ser ampliados para o resto do país durante as negociações.
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