Olimpíadas admiráveis, mas não infalíveis
13 de agosto de 2012"Estes foram os melhores Jogos de todos os tempos." Com esse elogio, o ex-presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) Juan Antonio Samaranch costumava exaltar a cidade anfitriã ao final de cada edição dos Jogos Olímpicos.
Seu sucessor, Jacques Rogge, não chegou a ir tão longe na cerimônia de encerramento na noite de Londres. Mas, ainda assim, fez uma avaliação altamente positiva da organização inglesa, dos atletas e do público. "Foram jogos animados, maravilhosos", afirmou o belga. "Seu legado será mostrado de diversas maneiras. O legado humano alcançará todos os cantos do planeta, e vai inspirar jovens a tornar seus sonhos realidade."
Poucos dias antes do fim das competições, Rogge já havia se mostrado surpreso: "A vila olímpica estava fantástica, os estádios funcionaram bem, e o público foi grandioso. Londres revigorou o movimento olímpico".
As Olimpíadas de Londres trouxeram disputas empolgantes com grandes atletas e desempenhos extraordinários, que não raramente levaram o público ao delírio. "Só podemos agradecer", declarou o vice-presidente do COI, Thomas Bach. "Obrigado ao presidente do comitê organizador, Sebastian Coe, obrigado a Londres, ao Reino Unido", disse ele, agradecendo ainda ao "deus do tempo", que manteve as temperaturas de verão e que afastou por 16 dias o temido clima londrino.
Erros de arbitragem
Mas enquanto público e atletas foram espetaculares, alguns dos árbitros não deram exatamente bons exemplos durante as Olimpíadas. Em parte, o comportamento deles é explicável pelas regras usadas para marcar a pontuação, em outros casos, porém, não.
Foi assim que um japonês perdeu a luta numa competição do boxe, por exemplo, embora tenha levado seu adversário por seis vezes à lona. Este foi apenas um de vários erros de arbitragem que precisaram ser corrigidos depois. Vários juízes de lutas e ajudantes foram mandados de volta para casa.
Na esgrima, o vídeos foram decisivos na hora de decidir a marcação de pontos. Não raro, atletas e espectadores tiveram que esperar minutos a fio pelo resultado da avaliação dos juízes, que determinariam uma vitória ou uma derrota. E a decisão nem sempre foi aceitável.
Menos dramáticas, mas bem constrangedoras, foram as duas gafes cometidas no atletismo e que prejudicaram temporariamente as alemãs Lilli Schwarzkopf, atleta do heptatlo, e Betty Heidler, do lançamento de martelo.
Em seu balanço final sobre os Jogos Olímpicos, o alemão Thomas Bach enumerou várias decisões discutíveis dos árbitros, cuja atuação criticou. "O número de decisões controversas foi relativamente alto", alfinetou Bach, que também é presidente do Comitê Olímpico Alemão.
Diplomático, porém, o ex-esgrimista quis mostrar compreender o lado dos árbitros. "Pode ter a ver com o fato de tudo ter que ser muito rápido. Hoje, eu não gostaria de ser árbitro do meu esporte, a esgrima, que se tornou muito rápido e dinâmico."
O espírito olímpico também foi totalmente desprezado no triatlo feminino, quando a atleta suíça Nicola Spirig, que depois se sagrou campeã, e a sueca Lisa Norden, cruzaram juntas a linha de chegada depois de correrem dez quilômetros, pedalarem 40 quilômetros e nadarem 1,5 quilômetro. Teria sido mais fácil para a arbitragem da prova ter dado a medalha de ouro às duas.
Reforço na segurança
O tema mais discutido em Londres foi a segurança. Um dia depois de divulgada a notícia de que a cidade receberia os Jogos, ainda em 2005, ocorreu um atentado a bomba na capital britânica. As precauções vieram logo em seguida. Mas talvez por isso o torneio tenha ocorrido sem incidentes.
Algumas medidas da segurança, porém, chegaram a ser exageradas. Ao voltar para a vila olímpica, depois de festejar a noite toda, o campeão olímpico de lançamento de disco Robert Harting foi impedido de passar pelo portão, pois perdera sua credencial durante a comemoração.
E ele teve nobres companhias. Até mesmo a rainha Sophia, o príncipe Felipe e a princesa Letizia, da Espanha, tiveram negada a entrada na área dos atletas, ao tentar parabenizar o espanhol Nicolas Garcia Hemme pela medalha de prata no taekwondo.
Testes de doping
A organização das Olimpíadas de Londres também divulgou como um êxito sua ofensiva antidoping, a maior da história dos Jogos Olímpicos. Cerca de 5 mil testes foram anunciados – e até agora o Comitê Olímpico confirmou oficialmente seis casos de doping.
Dezenas de atletas foram cortados de suas delegações, logo antes do início ou durante as competições. "Peixes grandes", no entanto, não caíram na rede dos caçadores de doping de Londres. Uma coisa é tida como certa: em grandes competições mundiais, apenas os mais bobos se deixam apanhar em flagrante.
O futuro mostrará se os Jogos foram "limpos" ou não, uma vez que ainda não se sabe exatamente quais os efeitos de novas substâncias dopantes. Pois estas continuam a se desenvolver, na mesma medida que os métodos de teste.
As provas coletadas em Londres poderão ficar até oito anos armazenadas abaixo de zero, podendo ser submetidas a futuros testes. Por isso, não será surpresa se um ou outro medalhista tiver que devolver seu prêmio até 2020.
Autor: Andreas Sten-Ziemons (msb)
Revisão: Augusto Valente