Obama revisita suas raízes africanas
16 de julho de 2018"Estou ansioso pela vida após ser presidente. Não vou ter um aparato de segurança tão grande o tempo todo", anunciou Barack Obama, ainda presidente dos EUA na época, em seu discurso perante a União Africana em 2015. Ele parecia eufórico. "Isso significa que posso dar um passeio, passar tempo com minha família. Posso visitar a África com mais frequência". Levou um ano e meio para ele encontrar tempo para isso.
Seu diário para a viagem não é menos completo do que nos dias em que ele era considerado o homem mais poderoso do mundo. No domingo, chegou ao Quênia, terra natal de seu pai, para uma visita de dois dias. Pouco depois de sua chegada, ele participou de breves reuniões com o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, e com o líder da oposição, Raila Odinga. Ele também passa o tempo com sua família: na segunda-feira, visitou a casa da avó de sua mulher e depois inaugurou um centro esportivo e vocacional fundado por sua meia-irmã, Auma Obama, que estudou na Alemanha.
"Acho que Obama está agora em uma boa posição, na qual pode visitar o país e fazer o que acredita ser capaz de fazer como cidadão comum", diz Martin Oloo, analista político queniano. "Talvez como uma pessoa comum, que pode mobilizar recursos, mobilizar simpatizantes e dar uma contribuição sem fazer parecer algo político e parecer partidário."
Quando Barack Obama tomou posse em 2009 como o primeiro presidente afro-americano dos EUA, uma onda de "Obamamania" varreu o continente africano. Seu rosto esteve impresso em tecidos africanos, e todos os artistas africanos tinham retratos do estadista americano em seu repertório.
As expectativas eram grandes: os africanos acreditavam que seu continente receberia um status mais elevado com relação a política externa, investimento e ajuda ao desenvolvimento dos EUA. Após os oito anos de governo Obama, muitos africanos ainda se sentem desiludidos.
"De um a dez, eu dou um seis para as políticas dele para a África", diz Oloo. "Obama conhece a África e seus problemas; com certeza ele teria feito mais em um ambiente político mais favorável."
Mas nos primeiros anos de sua presidência, a crise econômica e o aumento do desemprego em seu próprio país, assim como problemas em política externa, como os do Afeganistão e do Iraque, deixaram pouco tempo para a África. Ele tentou compensar isso depois, fazendo quatro viagens à África e visitando sete países africanos – mais do que qualquer outro presidente dos EUA. Ele também foi o primeiro presidente dos EUA a discursar diante da União Africana. Em vez confiar apenas na ajuda humanitária, ele enfatizou o potencial econômico do continente.
"Os quenianos que esperavam muito dele ficaram desapontados, porque ele não foi um presidente queniano, ele não foi um presidente dos Estados Unidos para os quenianos, ele foi um presidente internacional, um presidente dos EUA e, portanto, tinha que mostrar serviço para diversos círculos eleitorais, não apenas os negros", avalia Oloo.
Já o sucessor de Obama, Donald Trump, mostrou pouco interesse pela África. Além de impor proibições de viagem a certos países africanos e de descrever outros como "países de merda", ele quase não disse nada até agora sobre a política dos Estados Unidos em relação à África.
Depois de visitar o Quênia, Obama viaja para a África do Sul, onde faz um discurso em homenagem a Nelson Mandela, que completaria 100 anos em 18 de julho. Obama frequentemente enfatiza o quão influente Mandela foi para ele – não apenas em sua carreira política.
"A visita privada de Obama tem grande valor simbólico para a África do Sul”, opina Andrew Feinstein, ex-deputado do partido de Mandela, o Congresso Nacional Africano (CNA). "Acho que há certa ironia quando você pensa que Ronald Reagan declarou publicamente Nelson Mandela um terrorista", diz Feinstein. "O fato de que o primeiro presidente afro-americano vem agora à África do Sul para homenagear o legado de Mandela é retrospectivamente muito importante."
O planejado encontro entre Obama e o atual presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, também é simbólico, segundo Feinstein. "Acho que um ex-presidente retém certa aura e acho que o fato de ele visitar Ramphosa é significativo, quase um carimbo de aprovação para Ramaphosa após os anos bastante sombrios na África do Sul durante o governo do presidente Jacob Zuma, envolvido em constantes escândalos de corrupção e que era visto como um presidente incompetente para o país."
Barack Obama completa sua viagem à África com um discurso para cerca de 200 estudantes de sua própria fundação, os quais ele convidou para participar de um workshop em Joanesburgo. O objetivo do programa é treinar e dar apoio a jovens líderes africanos. "Ele é um ícone muito importante, um modelo muito importante a ser seguido. Eu acho quem, quando você vê o seu próprio estilo de vida, sua integridade, quando você vê sua humildade, sua contribuição intelectual, para a sociedade, ele é um modelo", conclui Oloo.
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