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O sucesso dos verdes e liberais entre jovens alemães

27 de setembro de 2021

Partido ambientalista e legenda liberal conquistam quase metade dos votos de eleitores alemães com menos de 24 anos. Mas envelhecimento da população beneficia conservadores e social-democratas.

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A verde Annalena Baerbock e o liberal Christian Lindner, candidatos a chanceler federal alemão
A verde Annalena Baerbock e o liberal Christian Lindner, candidatos a chanceler federal

As eleições de domingo (26/09) na Alemanha evidenciaram um fosso geracional. Quase metade dos eleitores com cerca de 18 anos que votaram pela primeira vez escolheu o ambientalista Partido Verde e o pró-mercado Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão). Já entre eleitores veteranos com mais de 70 anos, mais de dois terços dos votos foram direcionados para as duas siglas tradicionais que nas últimas décadas se revezaram no comando da Alemanha: a União Democrata Cristã (CDU) e o Partido Social-Democrata (SPD), que tiveram votação pífia entre os eleitores jovens.

Segundo um levantamento divulgado pela emissora ARD, 23% dos eleitores estreantes votaram nos verdes, um partido de centro-esquerda fundado em 1980 que tem a proteção climática como principal bandeira e costuma abordar insistentemente a necessidade de preservar o meio ambiente e diminuir emissões em nome das gerações mais jovens. Já os liberais conquistaram também 23% desses eleitores.

O cenário foi similar quando a pesquisa foi expandida para incluir o grupo de 18 a 24 anos. Nesse caso, 23% desses eleitores favoreceram os verdes, e 21%, os liberais de centro-direita.

No caso dos liberais, houve um crescimento de nove pontos percentuais nessa faixa etária em relação ao pleito de 2017. Entre os verdes, dez pontos percentuais.

Em 2013, o Partido Liberal Democrático, fundado em 1948, passou por uma reformulação após desabar na preferência do eleitorado em geral, passando a focar numa presença mais forte nas redes sociais e abordando temas sociais, como a defesa da liberação da maconha, mas sem abandonar suas velhas plataformas a favor de mais "laissez-faire" na economia e menor intervenção estatal.

O apelo desses dois partidos entre os jovens também parece se refletir entre os candidatos a chanceler federal que as siglas apresentaram nestas eleições. A verde Annalena Baerbock tem 40 anos, e o liberal Christian Lindner, 42. Um contaste com os candidatos da CDU e SPD: o democrata-cristão Armin Laschet tem 60 anos, e o social-democrata Olaf Scholz, 63.

Entre os eleitores de 18 a 24 anos, o SPD conquistou 15% dos votos. A CDU de Angela Merkel, meros 10%. As duas porcentagens estão bem abaixo da votação geral que os partidos obtiveram no domingo. Entre todos os eleitores, o SPD recebeu cerca de 26% dos votos. A CDU, em torno de 24%.

Rejeitados pelos jovens, a CDU e o SPD dependeram majoritariamente de eleitores mais velhos. Entre os votantes com mais de 60 anos, a preferência pelos dois partidos foi evidente. De acordo com a pesquisa da ARD, 34% dos eleitores desse grupo votaram nos democrata-cristãos, e 33%, nos social-democratas. Liberais e verdes amargaram 8% e 7% dos votos nessa faixa etária, respectivamente. Entre os eleitores com mais de 70 anos, o percentual de voto na CDU sobe para 38%.

Os jovens também rejeitaram majoritariamente os ultradireitistas do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que só conquistou 7% dos votos entre eleitores de 18 a 24 anos. O partido socialista A Esquerda (Die Linke), que normalmente investe esforços para conquistar o voto jovem em cidades como Berlim, amargou 8% nessa categoria em toda a Alemanha.

No geral, a eleição garantiu aos verdes a maior votação da sua história. Os liberais consolidaram os resultados do trabalho de reformulação iniciado em 2013. Para os conservadores da CDU, foi o pior resultado nacional da história da legenda. Já os social-democratas, embora não tenham expandido sua base, pelo menos frearam o declínio que seu partido vinha sofrendo na última década.

Mais velhos decidem eleições

Mas para efeitos eleitorais, pelo menos por enquanto, a preferência da CDU e do SPD entre os mais velhos trouxe mais resultados. Isso porque mais de 57% dos eleitores têm mais de 50 anos. Ou 34 milhões dos 60 milhões de eleitores. Os eleitores estreantes, que incluem jovens de 18 anos, somam apenas 2,8 milhões, ou 4,5%. 

É uma tendência que vem se acentuando nos últimos anos. Nas eleições de 1987 na Alemanha Ocidental, 23% dos eleitores tinham menos de 30 anos. Em 2021, a porcentagem caiu para 15%.

E eleitores mais velhos também tendem a ter um comparecimento maior. No pleito de 2017, 81% dos eleitores de entre 60 e 69 anos votaram. No grupo entre 21 e 29 anos, o comparecimento foi de 67,9%, segundo um levantamento realizado pelo Deutsche Bank.

Foi graças aos mais velhos que a CDU e o SPD terminaram a eleição no topo. O candidato de um deles vai ser o próximo chanceler dependendo do resultado da fase de formação de coalizões.

Tal cenário levou vários analistas a apontarem que "os velhos estão decidindo o futuro dos jovens" na Alemanha.