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O sofrimento da Amazônia vai continuar em 2020?

20 de dezembro de 2019

Mais desmatamento, mais incêndios: especialistas alertam que cenário semelhante ameaça Floresta Amazônica no próximo ano. Enquanto isso, governo pouco faz contra redes criminosas responsáveis pela situação.

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Galerie Indigene Guardians of the Forest
Desmatamento na Amazônia atingiu níveis que há tempos não se viaFoto: Survival International/Fiona Watson

Durante a Conferência sobre o Clima (COP25), organizada pela ONU em Madri, o porta-voz do Greenpeace no Brasil, Márcio Astrini, disse ter sido questionado repetidamente: "O que está acontecendo com o Brasil?"

Astrini conta que o Brasil, pioneiro da proteção climática, recebe agora críticas de todo o mundo. "Hoje, o Brasil se apequenou, é atualmente um mínimo pedaço do que foi nessas conferências", afirma.

Nos anos 1990, o desmatamento chegou a quase 30 mil quilômetros quadrados por ano. O governo liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) endureceu os controles por satélite e no solo, reduzindo as queimadas para menos de 4 mil quilômetros quadrados até 2012. Isso corresponde ao nível que o Brasil estabeleceu como meta para os próximos anos, nas conferências climáticas de 2009 em Copenhague e no Acordo de Paris de 2015.

Como abriga dois terços dos 7 milhões de quilômetros quadrados da Floresta Amazônica, a maior floresta tropical do mundo e um gigantesco repositório de CO2, o Brasil pode fazer muito pelo clima. Mas as más notícias se acumularam neste ano que passou.

Pela primeira vez desde 2009, mais de 10 mil quilômetros quadrados de floresta foram devastados, um aumento de 30% em relação a 2018. E em agosto, com mais de 30 mil incêndios, foram computadas três vezes mais queimadas que no mesmo período em 2018, um número que não se via desde 2010.

Concomitantemente, o número de ataques às terras indígenas por agricultores e garimpeiros também aumentou. Nos últimos dias, o governo foi forçado a enviar soldados para proteger a região: "A Amazônia é uma área sem lei", escreveu o New York Times no início de dezembro.

"O ano de 2020 tende a ser bem pior", prevê Astrini. "O governo não apresentou nenhuma solução para os problemas ambientais, que ele mesmo criou, na grande maioria."

Bolsonaro planeja legalizar área ocupada, incluindo uma anistia para os agricultores que ocuparam terras estatais. "Isso pode estimular ainda mais o desmatamento", disse o porta-voz Astrini.

O presidente Jair Messias Bolsonaro tem mais planos para a Amazônia. A região, protegida anteriormente por parques naturais e áreas indígenas, deve ser aberta à exploração econômica. Isso também inclui facilitar a venda de terras para investidores estrangeiros. Consta que em Brasília está circulando uma lista de 67 áreas protegidas, cujo status de proteção pode ser rebaixado.

Além disso, o governo já aprovou o plantio de cana-de-açúcar subsidiado pelo Estado na Amazônia. Paralelamente, foram cortados recursos para a autoridade indígena Funai e os órgãos ambientais ICMBio e Ibama. Não são bons sinais para 2020, segundo Astrini.

"Se você pegar os meses de setembro, outubro, novembro, você tem 100% de aumento do desmatamento. E ainda vêm todas essas medidas que agravam a situação. O resumo é: está ruim, está péssimo, e o governo está se esforçando demais para que fique muito pior", reclamou o porta-voz do Greenpeace.

Também Sérgio Leitão, do think tank ecológico Instituto Escolhas, diz acreditar que o fogo vai atingir a Floresta Amazônica também em 2020. "Mantidas as condições atuais, sim." O desmatamento, explica ele, serve para grilagem de terras estatais. Depois que a floresta é removida, coloca-se simplesmente um pouco de gado no prado para comprovar sua reivindicação de propriedade.

"A queimada é uma espécie de passaporte para tomar uma terra que é da sociedade brasileira, para que isso seja privatizada em nome de alguém", denuncia o ativista.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, discorda da afirmação de que o governo Bolsonaro é responsável pelo aumento do desmatamento e incêndios florestais. Por um lado, a destruição da floresta para abrir novas áreas para uso agrícola seria "culturalmente determinada", disse Salles, acrescentando que, por outro, o governo herdou a tendência negativa. Desde a baixa recorde de 2012, a destruição das florestas aumentou, apontou o ministro.

Em Madri, ele reiterou a exigência de que o Brasil tenha direito a pelo menos um décimo dos 100 bilhões de dólares anuais que as nações industrializadas prometeram em Paris aos países em desenvolvimento para a proteção das florestas. Portanto, o preço da conservação da Floresta Amazônica brasileira é de 10 bilhões de dólares por ano.

Sobre isso, Astrini avaliou: "É a retórica do sequestrador. Tenho uma floresta, e se você não me pagar, ela vai morrer."

Também a ONG Human Rights Watch (HRW) está pessimista em relação à Amazônia. Em setembro, ela apresentou o relatório Máfias da floresta tropical: como a violência e a impunidade alimentam o desmatamento na Amazônia. Ele aborda quadrilhas criminosas que cada vez mais rapidamente destroem a Floresta Amazônica e matam ativistas ambientais, enquanto as autoridades e a Justiça só ficam geralmente assistindo.

"As perspetivas para a Amazônia são muito preocupantes. Temos o governo do presidente Jair Bolsonaro culpando as ONGs, os indígenas e até o ator Leonardo DiCaprio pelas queimadas na floresta", disse à DW César Muñoz, um dos autores do relatório da HRW.

O presidente Bolsonaro acusou o ator de provocar os incêndios na Amazônia com suas doações a ONGs ambientais. Para tal, Bolsonaro se apoiou em notícias falsas que circularam na internet.

"Em comparação, o governo não está culpando as redes criminosas, que realmente estão por trás do desmatamento ilegal e das queimadas e que estão também intimidando, ameaçando e até atacando as pessoas que estão defendendo a floresta", apontou Muñoz.

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