O segredo da nova fascinação por games retrô
10 de janeiro de 2024Quando eu tinha uns 11 ou 12 anos, brincava horas a fio com o DuckTales no meu Gameboy. Caçando tesouros com o Tio Patinhas, eu subia pelos cipós verdes, explorava uma casa mal-assombrada verde e saltitava pelas paisagens verdes. Do ponto de vista gráfico, não havia mais do que tons de verde claro ou escuro.
As possibilidades técnicas eram extremamente limitadas: se eu caía no precipício ou esbarrava num esqueleto, era "game over", e tinha que recomeçar lá do início, os pontos não eram acumulados. Apesar de tudo, eu adorava esse jogo, mesmo que, como hoje sei, nunca tenha chegado ao nível final.
Quase 30 anos mais tarde, os retrogames estão super na moda. Jogos como Super Meat Boy (2010) – estilisticamente orientados pelos clássicos da era dos 8 bits – ou o lançamento de coleções para miniconsoles como a Nintendo Classic Mini (2016) impulsionaram o entusiasmo pelos games 2D em gráficos pixelados.
Também eu me deixei contagiar pela nostalgia e voltei a jogar DuckTales, agora a cores e na televisão. Mas, depois de meia hora, pus de lado o controle, irritada, sem nem ter cumprido a metade do primeiro nível. Aquela euforia de jogar simplesmente não tomou conta de mim.
Inovações para os mais jovens
Quem hoje em dia se dedica aos games das décadas de 80 ou 90 precisa ser extremamente resistente a frustrações, pois as expectativas, em termo de visual e mecânica ludológica, cresceram muito. O atrativo deles e o que suscitou seu revival no começo dos anos 2010, porém, é a estética pixelada retrô.
Até hoje ela é cultivada por diversos estúdios independentes, pois possibilita, a desenvolvedores individuais ou a equipes pequenas, produzir games criativos sem um grande orçamento. O resultado é esse charme discretamente tosco, atraente sobretudo para quem cresceu nos anos 80 e 90.
Mas não só, assegura o designer Arthur Eckmann: juntamente com um amigo, ele desenvolveu em 2023 Super Catboy, um jump 'n' run game rico em referências à era dos videogames de 16 bits, cuja apresentação na feira GamesCom foi num televisor a válvulas.
"É claro que temos os jogadores mais velhos, que cresceram com o NES ou o SNES [Nintendo Entertainment System ou Super Nintendo Entertainment System], que adoram justamente isso, e dizem: 'Uau, me lembra tanto aqueles tempos!'".
"Mas tem também os mais novos, crianças de cinco, seis ou sete anos de idade, que jogam pela primeira vez e, em parte, nunca viram uma TV à válvula, que ficam totalmente fascinados com a tecnologia antiga e aprendem rápido", complementa Eckmann. "As primeiras tentativas fracassam, óbvio, mas eles melhoram a cada vez, se divertem e desenvolvem a ambição de chegar até o fim."
A rigor, Super Catboy não é um retrogame, pois foi lançado em 2023. Seus designers o veem como uma evolução de jogos icônicos como o Mega Man X, de 1993, Donkey Kong Country, do ano seguinte, ou Metal Slug, de 1996. Do ponto de vista visual e da mecânica, ele se inspira nos clássicos, e a trilha sonora poderia vir diretamente dos anos 90.
Mas ele também satisfaz as necessidades dos usuários contemporâneos, o que o torna mais acessível. "Tem levels que são mais puxados. É preciso algumas tentativas até entender como solucionar de modo mais fácil. Mas também temos checkpoints nos levels [fases em que o status do jogo é em parte gravado]. Ou seja, é mais simples do que nos anos 90, quando ou não havia checkpoints ou só um."
Além disso, os participantes têm um número relativamente grande de "vidas". Embora isso dependa do idioma escolhido ao ser dada a partida: como – a exemplo do Brasil – o provérbio na Alemanha reza que os gatos têm sete vidas, esse é o número inicial, na variante alemã. No mundo anglófono, porém, gatos têm nove vidas, e quem escolhe jogar em inglês parte dessa vantagem. E mesmo depois da tela de "game over", os participantes não precisam recomeçar desde princípio, podendo retomar do level em que "morreram".
Homebrew: jogos novos para aparelhos antigos
Atualmente os passatempos digitais de inspiração retrô são tantos quanto os grãos de areia na praia. Paralelamente, contudo, formou-se uma pequena cena homebrew (literalmente: cozido caseiro), especializada em desenvolver novos jogos para consoles antiquíssimos.
Christian Gleinser, fundador do estúdio Dr. Wuro Industries, que cria jogos para PCs C64, explica que, entre esses desenvolvedores, "o interesse vem do fato de que tiveram esses aparelhos na infância, e na época ainda não sabiam programar para eles".
"No meio tempo, adquiriram esses conhecimentos, e para muitos é um desafio programar algo que funcione numa velharia daquelas."
O C64, por exemplo, foi lançado no mercado alemão em 1983, e hoje é uma peça de museus tecnológicos.
Atualmente, 100 ou mais entusiastas podem jogar ao mesmo tempo, conectados pela internet. Mas, na vida real, cada um está sozinho diante de seu console ou computador. Nos anos 80 e 90, era diferente: os gamers sentavam-se lado a lado, colaborando, se combatendo ou simplesmente assistindo-se, alternadamente.
Por essa razão, todos os jogos que Gleinser desenvolveu para o C64 podem ser jogados a quatro, com joysticks conectados diretamente. Isso mostra que o interesse pelos retrogames ultrapassa o que acontece no monitor: a proximidade física e o lazer comunitário desempenham também um papel decisivo.
Na realidade, não é preciso um C64 para mergulhar na história dos videogames, já que, através de emuladores, os jogos antigos também funcionam em PCs e consoles modernos, e até em smartphones. Ainda assim, permanece uma fascinação pelos softwares originais que Gleinser compara com a paixão dos colecionadores de automóveis oldtimer com suas antiquadas porcas e parafusos.
Saudade de tempos mais simples
O que une os aficionados por retrogames, ou por novos jogos em estilo retrô, é a nostalgia, essa saudade idealizada por um local ou coisas que não existem mais, ou que nunca existiram nessa forma. Pois, embora os novos jogos com gráficos pixelados despertem a recordação dos velhos tempos, eles não funcionariam nos velhos consoles, pois exigem uma capacidade de computação muito maior.
Everdeep Aurora, com lançamento para PCs marcado para 2024, é um desses games neoretrô. Ele evoca visualmente os softwares do Gameboy com uma palheta de cores extremamente reduzida, mas, ao contrário da maioria dos jogos da época, se concentra na história e prescinde de lutas. Seu protagonista é um gatinho que desperta num mundo distópico e, à procura da mãe, cava túneis para descobrir o que aconteceu no planeta.
Os criadores de Everdeep Aurora, os espanhóis Mikel Ojea e Juan Abad, escolheram intencionalmente o estilo retrô: "A gente acredita que, com mais restrições, é capaz de contar mais coisas do que com gráficos melhores e mais pixels."
Eles apostam que há um mercado grande para os games que evocam recordações de infância.
É possível que tenham razão: segundo a associação do setor, a Game, a idade média dos adeptos na Alemanha é de 37,9 anos. Muitos cresceram com o Gameboy e sentem uma onda de nostalgia ao mergulhar nos jogos que lhes trazem lembranças de uma época relaxada e despreocupada, tão diferente do mundo atual, veloz, digitalizado e conectado em escala global.