O reino saudita como alvo
10 de novembro de 2003O ato terrorista ocorrido no último final de semana em um complexo residencial habitado por estrangeiros foi avaliado pelo ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer, como um ato de barbárie e evidencia que o terrorismo internacional continua sendo uma grande ameaça.
A culpa seria da própria Arábia Saudita, na opinião de quase toda a imprensa alemã, porque o Estado fomentou o radicalismo islâmico no passado e, embora tenha tirado a cidadania saudita do terrorista Osama Bin Laden, sempre deixou dúvidas na sua colaboração com os Estados Unidos na luta contra o terrorismo internacional.
A pobreza crescente no maior exportador mundial de petróleo seria outro fator de descontentamento dos radicais islâmicos e uma razão para a meta dos terroristas de desestabilizar o reino secular do clã al-Saud. Dos 19 kamikases de 11 de setembro de 2001, 15 eram oriundos da Arábia Saudita.
Pagando a conta
- Com a detonação do automóvel carregado de explosivo no complexo residencial Muhaya, "a Arábia Saudita está pagando por ter permitido a longa propagação do ideário do islã militante e ainda por tê-lo fomentado no exterior", comentou o Frankfurter Rundschau, nesta segunda-feira (10). Na opinião do comentarista, os autores suicidas do banho de sangue na capital saudita criaram sérias dificuldades para os Estados Unidos no Oriente Médio, "pois Washington tem que se preparar para enfrentar mais um problema grave no mundo árabe, além do Iraque".O General-Anzeiger de Bonn também acha que a culpa é do reino saudita: "o carro-bomba em Riad lembra a pré-história do movimento terrorista apoiado no modelo radical islâmico wahabismo, fomentado por pregadores sauditas e financiado pelos petrodólares do reino secular". No começo, como lembra o jornal alemão, o movimento se dirigia contra a existência de Israel e o avanço dos americanos na região e de uns tempos para cá é também contra a política dúbia da família real al-Saud.
Nos mesmos moldes
- Os radicais islâmicos levam cada vez menos em consideração a população indefesa na sua meta de desestabilizar o sistema em Riad. A maioria das vítimas neste fim de semana era de árabes, o que inicialmente causou grande perplexidade internacional. Entre as 35 vítimas do atentado de maio deste ano havia americanos.O comentarista da Deutsche Welle, Reinhard Baumgarten, observa que, depois do banho de sangue de maio, a família real saudita reconheceu que o seu poder está em jogo. Sua reação oficial imediata foi ordenar um tom mais moderado aos pregadores do islã e, paralelamente, uma perseguição de ativistas fanáticos, nos mesmos moldes de violação dos direitos humanos praticado pelos terroristas. Mais de 600 suspeitos foram presos no primeiro semestre de 2003, mais de uma dúzia de supostos terroristas foram fuzilados e desencadeou-se uma impaciência armada com desfecho incerto.
Assim como a maioria dos jornais alemães, o conceituado Süddeutsche Zeitung acha que o terror da Al Qaeda de Osama Bin Laden e dos partidário do ex-ditador do Iraque Saddam Hussein estão conduzindo o Oriente Médio ao caos. "E a América é co-responsável por esse caos, pois os políticos em Washington nunca preveram quais as forças destrutivas que despertariam, forçosamente, no mundo árabe com o seu apoio unilateral a Israel e mais tarde com a guerra no Iraque", escreve o jornal, concluindo que "os EUA estão apenas começando a sua luta contra a Al Qaeda".