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O que é neutralidade climática?

Ruby Russell
3 de junho de 2019

Cada vez mais se debate, sobretudo na Europa, a viabilidade de virtualmente zerar as emissões de carbono para combater o aquecimento global. Mas o que significa isso de fato?

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Jovem mulher sentada no chão, ao lado de um cartaz feito a mão que diz: "faca amor, não CO2"
Foto: picture-alliance/dpa/P. Zinken

No Acordo de Paris, em 2015, quase 200 países apresentaram planos para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Como ficou claro que as medidas não seriam suficientes para atingir as metas, o documentou previu que os signatários apresentassem propostas mais radicais cinco anos depois, ou seja, em 2020.

Nos últimos anos, tempestades, inundações, secas e incêndios florestais tornaram as mudanças climáticas uma realidade tangível para um número cada vez maior de pessoas. E, no ano passado, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertou que o pior está por vir se a marca de 1,5°C de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais for excedido.

Para atingir a meta, o IPCC afirma que é necessário que o balanço das emissões de CO2 seja zero até 2050, a chamada neutralidade climática. Em novembro do ano passado, a Comissão Europeia publicou uma "visão estratégica" para atingir esse objetivo, que a União Europeia deve analisar em uma cúpula em Bruxelas em junho de 2020.

O que significa neutralidade climática"?

É uma mudança radical em toda a economia, eliminando combustíveis fósseis e outras fontes de emissões de CO2 onde for possível nos setores de transporte, geração de energia e na indústria. Para o resto, a cada tonelada de CO2 emitida, uma tonelada deve ser compensada com medidas de proteção climática, com o plantio de árvores, por exemplo.

Quais setores podem ser "descarbonizados"?

Até agora, especialistas dizem que foi feito o mais fácil: a eletricidade proveniente de fontes renováveis caiu de preço e já está mais barata que o uso de combustíveis fósseis em alguns países. A partir daí, fica mais complicado, porque a energia dependente do clima precisa do apoio de algo mais constante, como os biocombustíveis – ou nuclear, estratégia com a qual a UE espera gerar 15% de sua neutralidade climática.

Provavelmente, também será preciso redes inteligentes e formas de armazenar eletricidade, como fábricas de baterias gigantes. Essa tecnologia ainda não existe, mas o setor de energia é visto como de desenvolvimento rápido.

Mais difícil de descarbonizar, mas em certa medida ainda possível - com a implantação em massa de bombas de calor e convertendo a energia renovável em gás - são processos de aquecimento, transporte e industriais. Nesta conta estão itens tão diversos quanto aviões e vacas. Os voos com energia renovável ainda não ocorrem, e o apetite por carne bovina implica em metano, que prejudica o clima.

O que são emissões negativas?

Para atingir a meta de neutralidade climática será preciso, literalmente, sugar CO2 da atmosfera. O caminho mais óbvio é através das árvores e plantas, que já fazem isso.

Isso significaria transformar vastas áreas de terra em florestas e zonas úmidas, além de buscar outras formas naturais de "sequestro" de carbono. Uma ideia é a bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS). As culturas energéticas, como o milho, absorvem carbono à medida que crescem. Seria preciso queimá-las (gerando energia que poderia ser usada), capturando o carbono que elas emitem para que ele possa ser enterrado ou reciclado ao invés de voltar para a atmosfera. Mas isso exigiria tanta terra agrícola que poderia ameaçar a segurança alimentar.

A tecnologia de captura e armazenamento de carbono (CCS) não progrediu muito além do projeto-piloto, e tem sido usada principalmente em usinas de combustível fóssil ou para capturar emissões industriais.

Há também a captura direta de ar (DACCS), que divide o CO2 do ar ao nosso redor. Mas esta técnica está em estágios de desenvolvimento ainda mais iniciais do que a CCS.

E quanto à compensação de carbono?

Deixando de lado a captura de carbono, existe outra maneira de alcançar a neutralidade: os créditos de carbono. Ao invés de um país compensar as emissões que não pode - ou não quer -, o modelo permite que ele pague, por exemplo, o plantio de árvores ou a conservação de florestas no exterior.

Mas o esquema de compensação vem sendo criticado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima por não ter "integridade ambiental" e violar os direitos territoriais indígenas. E obviamente não funciona se todos os países quiserem emitir mais do que podem neutralizar. Em última análise, a compensação significa que alguns países terão um saldo negativo - absorvendo mais carbono do que emitem.

Qual é a adesão à neutralidade climática na União Europeia?

Dinamarca e Noruega se comprometeram, em lei, a atingir a meta até 2050, e a Suécia, até 2045. Os três países nórdicos, no entanto, não excluem a possibilidade de compensação internacional de carbono para alcançar o objetivo. Países como França, Espanha, Reino Unido, Alemanha e Holanda debatem a questão.

Por que 2050?

O ano alvo de 2050 é uma negociação entre o necessário e o possível. O IPCC diz que se as emissões globais forem reduzidas a zero até 2050 ainda se poderá manter o aquecimento abaixo de 1,5°C. Se a meta for atingida até 2070, ainda será possível manter o aquecimento em menos de 2°C.

Qual a participação da Europa na meta global?

Ambientalistas dizem que a Europa, responsável por uma parcela desproporcional do CO2 que está aquecendo o planeta desde o início da revolução industrial, deve se esforçar mais. A Climate Action Network Europe, formada por 160 organizações ambientais e de desenvolvimento, quer que o prazo seja adiantado para 2040.

Já a Comissão Europeia acredita que a meta de 2050 tornará a União Europeia uma das primeiras a alcançar a neutralidade climática, sugerindo que os outros países serão menos ambiciosos e, portanto, a meta global não será atingida.

O que fazer nessas três décadas?

Uma economia de neutralidade climática não será construída da noite para o dia. O prazo final é de pouco mais de 30 anos. Até lá, as ruas devem estar livres de motores a combustão. A Comissão de Mudanças Climáticas, que assessora o governo do Reino Unido, diz que nenhum novo carro a gasolina e a diesel deve ser vendido a partir de 2035, o mais tardar. Enquanto isso, vários países da União Europeia têm novas usinas movidas a combustíveis fósseis, que têm uma vida útil média de 50 anos, em planejamento ou em construção no momento.

A maior parte do que é necessário para a neutralidade climática já é tecnicamente possível. Mas, quanto mais tempo se leva para mudar os sistemas e comportamento, mais dependente a Terra será do questionável negócio de extrair carbono da atmosfera.

Existem alvos mais importantes para focar?

Comprometer-se com a neutralidade climática deixa claro que cortar emissões não é o suficiente. Isso significa, por exemplo, que não há sentido em construir infraestrutura de gás natural, mesmo que isso possibilitasse menos emissões vindas do carvão. Falar em 2050 pode dar a impressão de que se pode deixar os trabalhos mais difíceis para o final, apostando em tecnologias que ainda não foram inventadas e em gerações futuras mais capazes de lidar com mudanças ainda mais drásticas do que as que se enfrenta agora.

Os cientistas dizem que, em termos de ação, os países devem se concentrar em metas para 2030, que, segundo o Acordo de Paris, devem ser mais duras e representativas em 2020. Até agora, a Europa não está no caminho certo nem mesmo para alcançar os objetivos originais de 2015.

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