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O que é coincidência?

13 de março de 2019

O que pensar de todas essas curiosas ligações entre o assassinato de Marielle Franco e o clã Bolsonaro?, questiona o colunista Thomas Milz.

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Carro da polícia entra para fazer apreensões na casa do assassino de Marielle: vizinho de Bolsonaro
Carro da polícia entra para fazer apreensões na casa do assassino de Marielle: vizinho de BolsonaroFoto: Reuters/S. Moraes

"Tentar fazer essa relação é mais do que absurdo, é repugnante." Com essas palavras reagiu o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, aos relatos da imprensa sugerindo uma relação do clã com Ronnie Lessa, preso na terça-feira (12/02) pelo assassinato de Marielle Franco.

Estaria a imprensa brasileira insinuando que a família presidencial está envolvida no caso? Não sei. Mas a história é, no mínimo, curiosa.

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Lessa, que segundo os investigadores foi o executor de Marielle, mora no mesmo condomínio de Jair Bolsonaro no Rio. Segundo o jornal O Globo, três casas mais à frente. Além disso, o delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, deu a entender que a filha de Lessa namorou um dos filhos de Bolsonaro.

Isso leva então à pergunta sobre como um assassino profissional conhecido da polícia pode morar ao lado do presidente da República sem que o aparato de segurança tenha feito nada ao longo de meses.

Acima de tudo: não chamou a atenção que um simples policial possa morar numa mansão no mesmo condomínio do presidente? E não deveria Bolsonaro estar incrivelmente aliviado agora, que um vizinho perigoso como esse tenha saído do caminho dele? Nesse sentido, não ouviu-se nada do presidente.

Em vez disso, Bolsonaro preferiu atacar pelo Twitter a filha do jornalista Chico Otávio, que é responsável no jornal O Globo por cobrir as atividades das milícias no Rio, assim como o caso Marielle Franco.

"Constança Rezende, do 'O Estado de SP' diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o impeachment do Presidente Jair Bolsonaro. Ela é filha de Chico Otávio, profissional do 'O Globo'. Querem derrubar o Governo, com chantagens, desinformações e vazamentos", escreveu Bolsonaro no Twitter.

O tuíte do presidente se baseou num fake news sobre Constança Rezende.

Claro que tudo isso pode ser coincidência. Mas fato é que Jair Bolsonaro nunca fez segredo de sua simpatia por milícias e grupos de extermínio.

Seu filho mais velho, o hoje senador Flávio Bolsonaro, empregou durante anos a mulher e a mãe do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega em seu gabinete. Nóbrega é um dos líderes do chamado Escritório do Crime, um grupo de extermínio que comete assassinatos por encomenda.

Membros do grupo chegaram a ser homenageados por Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. Na terça-feira, a polícia não descartou que o assassino de Marielle faça parte do "Escritório".

Claro que tudo isso pode ser coincidência.

O próprio Flávio Bolsonaro declarou que seu amigo e motorista Fabrício Queiroz era responsável por todas as coisas estranhas, por assim dizer – inclusive a transferência feita para a hoje primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O motorista do carro usado no assassinato de Marielle se chama, também, Queiroz. Mas isso é certamente só uma coincidência.

Tanto o suspeito de ter puxado o gatilho, Ronnie Lessa, como o motorista, Élcio Vieira de Queiroz, teriam sido avisados de que seriam presos na madrugada de terça-feira.

Eles devem ter, portanto, cúmplices – ou pelo menos bons amigos – em postos-chave no aparato de segurança do estado. Isso ajudaria a explicar por que todas as câmeras de segurança na noite daquele 14 de março foram desligadas.

Mas, é claro, isso pode ser também nada mais que uma coincidência.

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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como o Bayerischer Rundfunk, a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

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