O que explica a queda tão acentuada do euro
12 de julho de 2022O euro caiu para a marca de 1,000 dólar na manhã desta terça-feira (12/07). A última vez em que a moeda comum europeia havia alcançado a paridade com a moeda americana havia sido no início de dezembro de 2002.
Às 11h40 no horário de Berlim, o euro valia 1,0002 dólar. Em seguida, a moeda teve uma tênue recuperação e às 16h10 era negociada a 1,0056 dólar.
O tombo da moeda europeia se deve principalmente aos temores de uma recessão. Acima de tudo, o risco de um congelamento do fornecimento de gás preocupa os mercados financeiros, porque isso paralisaria a economia na Alemanha e na Europa.
Paridade como vantagem?
Uma moeda fraca também pode ter suas vantagens, pois ajuda as empresas exportadoras. Afinal, os produtos domésticos ficam mais baratos no exterior, o que impulsiona as vendas. Ao mesmo tempo, porém, o poder de compra também é exportado para o exterior, que passa a comprar produtos alemães e europeus mais baratos.
De qualquer forma, a vantagem para as empresas exportadoras locais só existe enquanto os empresários alemães fabricarem seus produtos inteiramente na Alemanha ou na zona do euro e depois os exportarem, afirma Sonja Marten, especialista em câmbio do DZ-Bank.
"Uma vez que eles comprem produtos primários de países de fora da UE [União Europeia] ou que sejam produzidos usando muita energia, esse cálculo deixa de fazer sentido", diz ela, apontando que as fontes energéticas em particular são faturadas em dólares.
Inflação também põe pressão sobre o euro
O aumento dos preços da energia foi a principal razão pela qual a balança comercial externa da Alemanha foi negativa em junho pela primeira vez em muitos anos, o que significa que o país importou mais – incluindo petróleo e gás – do que exportou.
Os altos preços de importação, especialmente de energia, também estão impulsionando a inflação. E isso não é bom para o Banco Central Europeu (BCE). Afinal, ele quer contrabalançar a inflação com aumentos planejados das taxas de juros.
Ao mesmo tempo, contudo, o BCE não deve fazer isso muito rapidamente, senão corre o risco de paralisar a economia. "Ele poderia primeiro tentar intervir verbalmente", analisa Marten. Mas a experiência mostra que é mais provável que isso atraia especuladores, que poderiam empurrar novamente para baixo a taxa de câmbio do euro dentro de poucos dias.
O movimento descendente dos últimos dias, contudo, já é incomum: "Isso mostra o nervosismo dos mercados", afirma Marten.
Temores de recessão transatlântica
O fato de o euro estar tão fraco em relação ao dólar sempre tem relação com a avaliação da moeda americana. "O Banco Central americano, o Fed, está definindo o ritmo novamente", explica o ex-economista-chefe da Allianz Michael Heise. A instituição está tomando medidas contra a inflação e já começou a aumentar as taxas de juros.
Por vezes isso chegou a assustar o mercado de ações, que temia uma recessão nos Estados Unidos, diz Marten. Mas agora os olhos estão voltados para a Europa: se a economia americana entrar em colapso, a recessão também atingirá o continente europeu.
Euro subvalorizado
Mas os mercados financeiros agora esperam que o Fed adote uma postura mais cautelosa, observa Heise, que atualmente é economista-chefe do HQ Trust.
Se o BCE realmente fizer o primeiro aumento da taxa de juros em julho e outros aumentos se seguirem, talvez até elevando as taxas de juros um pouco mais do que se pensava, ele acredita que isso poderia ajudar a taxa de câmbio do euro novamente.
Assim, a moeda comum europeia poderia voltar a ser cotada a 1,10 dólar, ou até mais. Atualmente, Heise considera que o poder de compra do dólar está supervalorizado de qualquer maneira.
Os mercados estão nervosos por causa da incerteza. Se o gás da Rússia continuar chegando aos países europeus, isso também deve ajudar o euro, espera Ulrich Leuchtmann, do Commerzbank. "De qualquer forma, uma taxa de câmbio do euro tão baixa assim não se justifica."