O que está por trás da decisão de Trump sobre Jerusalém?
9 de dezembro de 2017O coro de críticas contra a decisão do presidente americano, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e de transferir a embaixada americana, atualmente em Tel Aviv, tem ganhado cada vez mais força nos Estados Unidos e no mundo desde o anúncio feito na quarta-feira passada.
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Nesta sexta-feira, enquanto o Conselho de Segurança das Nações Unidas se reunia em Nova York para discutir a ação unilateral dos EUA, protestos tomaram as ruas de países árabes e muçulmanos.
Ao fim do encontro, diplomatas de cinco países europeus – Reino Unido, França, Alemanha, Suécia e Itália – emitiram um comunicado conjunto afirmando que a decisão de transferir a embaixada americana em Israel para Jerusalém não contribui para as "perspectivas de paz na região".
Em meio a tamanho criticismo após Washington ter quebrado um precedente de décadas, a questão que surge é por que a administração Trump decidiu criar tamanha crise, ignorando, inclusive, os alertas de seus aliados próximos na região e na Europa.
Agradar aos evangélicos
Para Martin Indyk, ex-enviado especial dos EUA para as negociações entre israelenses e palestinos e ex-embaixador americano em Israel, a lógica por trás da decisão de Trump é estritamente doméstica e pode ser facilmente explicada.
"Foi um apelo à sua base cristã evangélica, pura e simplesmente", diz Indyk, que é hoje vice-presidente da Instituição Brookings.
Steven Spiegel, diretor do Centro para o Desenvolvimento do Oriente Médio da Universidade da Califórnia, concorda que agradar à base evangélica de Trump e aos que apoiam os judeus conservadores foi um elemento-chave na decisão.
Durante a campanha presidencial, Trump prometeu repetidas vezes reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e transferir a embaixada americana para a cidade disputada.
Com o anúncio, Trump, que tem enfrentado dificuldades para vencer batalhas legislativas nos EUA apesar de os republicanos controlarem ambas as casas do Congresso, cumpriu uma promessa de campanha e o fez de maneira relativamente fácil.
Poucos esforços
Ao contrário dos vários esforços de Trump para cumprir suas promessas eleitorais, como a revogação da reforma de saúde do ex-presidente Barack Obama e a restrição de entrada de refugiados no país, reconhecer Jerusalém como capital de Israel não foi difícil por depender apenas de um decreto presidencial.
Mas há outro fator que ajuda a explicar a decisão de Trump de mudar a política externa americana em rigor há décadas: a inclinação do presidente em agitar o cenário, opina Spiegel. É uma propensão do líder republicano, e que não é necessariamente uma má ideia.
"Isso se ele agitar as coisas e aparecer com uma ideia nova, é claro. Mas essa não foi a intenção dele, especialmente se ele não menciona que Jerusalém Oriental será a capital palestina", analisa.
Decisão desequilibrada
Ambos os especialistas discordam da decisão de Trump, bem como da forma com que ela foi tomada, principalmente por prejudicar a abordagem americana para o Oriente Médio, uma das poucas áreas onde a política do presidente vinha sendo aceita de forma positiva, observa Spiegel.
"As coisas pareciam, de fato, ter melhorado", diz o especialista. "Em geral, eles não gostavam de Obama no Oriente Médio, e parecia que ele [Trump] tinha tirado vantagem disso."
Para Indyk, a decisão sobre Jerusalém vai contra a ampla estratégia dos EUA para o Oriente Médio. "Os assessores dele tentaram ajustar [a decisão] à estratégia de pacificação, mas ela é muito desequilibrada para aliviar a ira palestina", avalia.
Spiegel acrescenta que a atitude de Trump é como uma bomba no processo de paz na região e vai manchar a imagem de Washington no Oriente Médio e no mundo.
"É muito simbólico, especialmente porque a embaixada não será movida por muitos anos", diz Indyk, referindo-se ao longo processo burocrático envolvendo uma transferência de sede diplomática. "Mas o conflito no Oriente Médio é repleto de símbolos."
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