O perigo latente das armas militares da Venezuela
12 de agosto de 2017Após o levante na base militar de Forte Paramacay, na Venezuela, no último domingo (06/08), muitos se questionam até que ponto os arsenais do país politicamente instável estão em segurança, e se poderiam ser utilizados no caso de uma guerra civil.
Os Exércitos das nações latino-americanas não contam necessariamente entre os mais bem armados do mundo. No índice Global Firepower (GFP), compilado pelos Estados Unidos, a Venezuela aparece num modesto 45º lugar. Na América Latina, o país abalado por crises está em sexto lugar, atrás da Colômbia (40º), Peru (39º), Argentina (35º), México (34º) e o Brasil, de longe o de mais forte militarmente, ocupando a 17ª posição do GFP.
Força e perigo são relativos
Força é em conceito relativo, neste contexto, e dependente de diversos fatores, como o tipo das armas, sua idade ou construção. Contudo o consenso entre os analistas é que a região praticamente não dispõe de armamento pesado.
"Nesses países não há grandes quantidades de tanques blindados, navios de guerra ou similares, que em outros lugares se consideram representativos de uma grande potência militar", comenta Matt Schroeder, do projeto internacional de pesquisa Small Arms Survey.
Num contexto político instável, como no caso da Venezuela, porém, cada arma tem potencial de perigo, independente de seu tamanho. "Estamos apreensivos com armas de mão, granadas e mísseis de curto alcance que possam cair em mãos criminosas", alerta Schroeder.
Nesse contexto, mesmo tendo fracassado, o recente ataque contra um quartel no norte venezuelano suscita preocupação. "Terroristas, narcotraficantes e traficantes de armas não querem armamentos high-tech, mas sim pequenos e simples. Caso a situação na Venezuela siga piorando e incidentes assim se repitam, aí temos um problema."
Meio milhão de soldados voluntários
Para Diego Sanjurjo, politólogo paraguaio da Universidade Autônoma de Madri, também em outro aspecto o país em questão é ímpar na América Latina: "Enquanto no resto da região houve desarmamento maciço nos últimos anos, a Venezuela é uma grande exceção", tendo aumentado seus arsenais como nunca antes. Como justificativa, evoca "o perigo latente de invasão pelos EUA".
Além disso, a república bolivariana não tem excedentes de armas, pois, além do Exército regular, mantém um de voluntários, com cerca de 500 mil cidadãos fiéis ao governo estão à disposição das Forças Armadas. O presidente Nicolás Maduro anunciou que até o fim do ano cada um deles deverá dispor de uma arma.
Segundo o especialista Matt Schroeder, uma determinada arma abriga potencial de ameaça especialmente elevado: "Durante o governo de Hugo Chávez, a Venezuela adquiriu um número inusualmente alto de mísseis russos Igla-S", dos quais dispõe atualmente, no mínimo, de 4 mil a 5 mil unidades.
No resto da região esse sistema portátil, lançado a partir do ombro, não é muito difundido. O Brasil, por exemplo, possui um número bem mais modesto de Igla-S. "O problema, no caso da Venezuela, é a quantidade de armas de mão e mísseis, e a situação de segurança precária no país. É grande o risco de um soldado cair na tentação de vender armas a qualquer um, para alimentar a própria família", adverte Schroeder.
"Perfeitos para uma guerra civil"
O pesquisador Pieter Wezeman, do Instituto de Estudos da Paz em Estocolmo (Sipri), partilha essa apreensão. "Todos os países latino-americanos têm arsenais armamentistas que servem perfeitamente para uma guerra civil. No caso, sua idade não é importante: armas de pequeno porte adquiridas 40 anos atrás bastam perfeitamente para inflamar um conflito."
De uma maneira geral, em caso de guerra civil costumam se empregar as armas que já se encontram no país, pelo menos de início. Exemplos mais recentes são a Líbia, Síria e Iraque, onde os rebeldes assaltaram bases militares a fim de se armar, lembra Wezeman.