O otimismo dos rebeldes
24 de novembro de 2002Embora a juventude de cada época tenha tido características próprias, o pensamento dos jovens alemães basicamente não mudou nos últimos 50 anos. Os jovens especialmente engajados politicamente eram e continuam sendo uma minoria. "Engana-se quem pensa que eles eram muito mais ativos tempos atrás", ressalta Beate Grosseger, que acaba de publicar o livro Von Fräuleinwunder bis zu neuen Machern. A autora comparou os resultados de 14 pesquisas em 50 anos, sobre o que pensam os jovens de 12 a 15 anos.
O estudo, patrocinado pela empresa petrolífera Shell, já é consagrado em âmbito nacional. Ele foi realizado pela primeira vez em 1952, para verificar o pensamento da juventude no pós-guerra. Em agosto último, foi publicada sua edição de número 14.
Beate Grossegger destaca em sua análise que os jovens de hoje se interessam da mesma maneira pelo que acontece à sua volta. "A década de 60 ficou marcada pelos protestos nas ruas, que eram promovidos por uma minoria especialmente engajada. Também naquela época, os jovens já tinham enorme interesse pelo lazer, pela música, nos encontros com os amigos e nas discotecas", explica.
A diferença é que os protestos políticos de hoje são muito menos militantes, mas em compensação, mais irônicos, aponta a análise da escritora austríaca. Na sua opinião, isto é uma conseqüência da educação liberal dada pelos pais de hoje. Estes, por seu lado, representantes da juventude pós-guerra, objeto das primeiras edições do Estudo Shell, tiveram uma educação bastante rígida. Além disso, faltava-lhes informação política.
Cobrança sobre o papel dos pais na História
Os jovens de hoje estão mal-acostumados pela sociedade prestadora de serviços em que vivem. "Eles esperam em vão uma prestação de serviço por parte da política. Frustrados, deixam de votar e não se interessam por uma carreira nesta área", assinala a pesquisadora Beate Grossegger.
Ao traçar um paralelo entre os jovens das duas Alemanhas, de regimes políticos opostos até 1990, ela lembra que, na parte ocidental do país, a década de 60 foi o período em que os filhos cobraram dos pais seu papel durante o nazismo.
Os questionamentos pós-ditadura comunista na Alemanha Oriental ainda estão por vir, acredita Christel Riemann-Hanewinckel. A secretária parlamentar no Ministério da Família, natural do leste do país, salienta que, no momento, as pessoas ainda não querem tocar no assunto. Mas ela entende como plenamente plausíveis perguntas como "Por que você ingressou no partido?", "Fez isso só para ter seu sossego?" ou "Por que vocês não fizeram nada, deixaram as coisas acontecer?".
O último Estudo Shell sobre a Juventude, divulgado em agosto, revelou que os jovens que cresceram na Alemanha de regime comunista ainda não se sentem completamente integrados no país unificado em 1990. Os protestos e a rebeldia, típicos da segunda metade do século passado, desapareceram, e predomina o otimismo, apesar dos atuais problemas do desemprego e da estagnação econômica.