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HistóriaAlemanha

O muro que ainda divide a Alemanha

20 de julho de 2021

"Cresce junto o que foi criado para estar junto", disse Willy Brandt sobre a queda do Muro de Berlim. Trinta anos depois, Leste e Oeste parecem estar mais distantes do que nunca. Especialistas analisam esse abismo.

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Bonecos em cima de moedas, ao lado de placas que indicam leste e oeste
Pessoas do Leste alemão ainda se veem como cidadãos de segunda classe, aponta pesquisaFoto: picture-alliance/blickwinkel/McPHOTO/C. Ohde

Economicamente, o Leste da Alemanha, ou seja, os estados da antiga Alemanha Oriental, se desenvolve a todo vapor. Esse é o resultado do último relatório do governo federal sobre o estado da unidade alemã. O texto afirma que "o crescimento em conjunto da Alemanha e a equiparação das condições de vida progrediram muito".

Em termos políticos e emocionais, por outro lado, a divisão parece se aprofundar. Segundo uma pesquisa, 57% dos alemães do Leste se veem como cidadãos de segunda classe, e pouco menos da metade afirmou estar insatisfeita com o funcionamento da democracia. A avaliação sobre a reunificação entre Leste e Oeste varia bastante.

O psicoterapeuta Hans-Joachim Maaz, originário do Leste do país, diz acreditar que, devido à experiência na antiga Alemanha Oriental, os alemães do Leste têm uma relação distanciada com o Estado: "As pessoas no Leste são geralmente mais críticas ao capitalismo, à autoridade, à mídia. [...] Portanto, há um movimento de protesto contra a política, que é dominada pelo Oeste alemão."

Por outro lado, a psicóloga social Beate Küpper, do Oeste, explica que, dada a longa separação causada pelo Muro, "não é de se esperar que alemães do Leste e do Oeste sejam iguais". Segundo ela, o problema não são as diferenças em si, mas a impressão de uma "desvantagem coletiva". Trata-se de "um sentimento de reconhecimento, de valorização, de participação e de direito de voz", afirma.

Avanço da AfD no Leste

Talvez a manifestação mais óbvia dessa divisão sejam os resultados eleitorais da legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Enquanto em eleições estaduais no Oeste o partido alcançou por volta de 10% dos votos; no Leste essa porcentagem girou em torno de 25%, como recentemente nos estados de Brandemburgo, Saxônia e Turíngia.

No Leste, justamente a AfD, que teve sua origem no Oeste, assumiu o papel de partido de protesto no lugar da legenda A Esquerda – uma sigla que, como sucessora do Partido Socialista Unitário da Alemanha (SED), que governou o regime comunista, foi concebida para expressar o sentimento de nostalgia da antiga Alemanha Oriental.

"Completar a reunificação" – esse foi o slogan usado pela AfD, aparentemente com sucesso, nas campanhas eleitorais no Leste do país. O psicoterapeuta Maaz diz ser um grande erro tachar os eleitores da AfD no Leste de direitistas: "Insultá-los e discriminá-los é a forma mais eficaz de fortalecer esse partido."

"Democracia sempre em desenvolvimento"

Algumas vezes, os políticos do Oeste reagem com arrogância aos bons resultados da AfD no Leste. Quando o copresidente do Partido Verde Robert Habeck disse num vídeo de campanha no início deste ano que "estamos tentando todo o possível para fazer da Turíngia um estado aberto, livre, liberal e democrático", isso provocou uma avalanche de indignação no Leste.

Pois sua declaração soou como se, em sua opinião, a Turíngia não fosse um estado democrático. Carsten Schneider, membro do diretório do Partido Social-Democrata (SPD) e originário da Turíngia, indagou no Twitter: "Em que prisão eu vivi nos últimos anos?" E durante um debate parlamentar, o deputado da AfD Leif-Erik Holm disse que os alemães do Leste não precisam de "nenhuma aula de reforço sobre democracia".

A psicóloga Beate Küpper afirma que nem o Oeste se democratizou da noite para o dia em 1945, com o fim do regime nazista, nem o Leste em 1989, com o fim do regime comunista. Segundo ela, a democracia está sempre em desenvolvimento: "Por isso, teria sido mais justo se Habeck tivesse dito que devemos nos democratizar como um todo."

Contudo, "não é de se admirar que, de certa forma, há mais atraso a se recuperar no Leste do que no Oeste, já que o Leste teve menos tempo", afirma Küpper.

Quanto aos cidadãos do Oeste, o psicoterapeuta Maaz diz sentir falta de que eles se ocupem com o pensamento e o sentimento dos alemães do Leste: "O outro também pode estar com a razão, e eu posso estar errado com minha opinião. Essa seria a base de um discurso democrático."

Dinheiro pode resolver?

A política do Partido Verde Katrin Göring-Eckardt pediu especialmente investimentos em infraestrutura como resposta para a guinada à direita no Leste: "Pessoas em regiões remotas não confiam em nenhum Estado que aparentemente as esqueceu." É assim que muitos políticos veem o problema em praticamente todos os partidos.

Para Küpper, o problema não tem como ser resolvido apenas com dinheiro. Pois, dessa forma, não se pode eliminar nem o sentimento de discriminação nem a vivência da população de que a Reunificação da Alemanha lhes exigiu privações profundas.

Ao mesmo tempo, muitos alemães orientais não querem ser vistos como "vítimas das circunstâncias", afinal, eles tomaram suas vidas em suas próprias mãos e lidaram com as mudanças, aponta a psicóloga.

"Diferenças não precisam ser um problema"

Christian Hirte, encarregado do governo alemão para assuntos do Leste, faz um balanço diferenciado da situação: "O cenário econômico e social no Leste é muito melhor do que poderíamos imaginar 30 anos atrás." Ao mesmo tempo, ele diz que as pessoas na região estão "cansadas de mudanças" e adverte: "Não devemos sobrecarregá-las."

Hans-Joachim Maaz dá um conselho aos alemães do Oeste do país: "Ouçam os cidadãos do Leste, não os insultem! Não os tachem de neonazistas!" Segundo ele, é preciso levar em consideração o conteúdo de suas críticas. O "movimento de protesto do Leste", expressado nos votos para a AfD, é uma "ajuda para entender melhor o que precisa ser mudado", aponta o psicoterapeuta.

Beate Küpper chegou à conclusão surpreendentemente positiva de que as diferenças entre Leste e Oeste não são ruins por si só: "Eu realmente não sei se isso é realmente um problema, se não fosse tão carregado de juízo de valor. Acho que esse juízo de valor é o problema."

A psicóloga social diz ver a diversidade como bem-vinda, assim como os bávaros se diferem dos alemães do norte. "É enriquecedor e interessante que tenhamos diferentes regiões na Alemanha e que tudo não seja simplesmente igual em todas as partes."