O muro da confusão
24 de agosto de 2020Resquícios do Muro de Berlim estão entre as maiores atrações turísticas da capital alemã. Fotos nos pedaços que ainda restam dele na Potsdamer Platz, na East Side Gallery ou no Memorial do Muro de Berlim, ao longo da rua Bernauer, são lembranças obrigatórias registradas por turistas alemães ou estrangeiros que visitam a cidade.
Durante anos, muitos turistas estrangeiros também tiravam fotografias num pedaço de muro de tijolos colocado atrás do Reichstag, acreditando se tratar da famosa barreira que dividiu a capital alemã por 28 anos, 2 meses e 26 dias. A posição dessa peça, bem próxima à marcação que indica por onde passava o Muro de Berlim, era um convite ao erro.
Ao se aproximar do objeto, a placa explicativa apenas em alemão e polonês não ajudava muito a esclarecer detalhes sobre o objeto, reforçando apenas a confusão entre turistas que não falavam nenhuma dessas duas línguas.
Durante mais de uma década, essa falta de informação no local levou turistas do mundo inteiro a tirar fotos do tal muro achando se tratar do Muro de Berlim. Apesar de não ser a famosa barreira, o pedaço de tijolos também é histórico.
Ele é parte do muro do estaleiro de Gdansk, na Polônia, no qual Lech Walesa subiu em 14 de agosto de 1980 para organizar uma greve que deu origem ao sindicato independente Solidarnosc (solidariedade). O movimento sindical contribuiu para o fim do comunismo e para a queda do Muro de Berlim. Dez anos depois do episódio, Walesa se tornou o primeiro presidente eleito livremente na Polônia do pós-Guerra.
O muro do estaleiro polonês veio parar em Berlim em 2009. Presente do Parlamento da Polônia ao Bundestag, ele acabou sendo colocado junto ao prédio do Reichstag e representa a luta pela democracia na Europa. Provavelmente, na época, ninguém deve ter achado que, embora posicionado bem próximo de onde passava a antiga divisa da cidade, ele poderia confundir turistas desavisados. Afinal, sua estrutura é bem diferente da do Muro de Berlim.
Mas aquele pedaço de muro num local central acabou se tornou um ímã de turistas. Funcionários do Bundestag e policiais na região frequentemente esclareciam os desavisados sobre o engano que estavam cometendo. Porém, somente neste ano, 11 anos após a inauguração do presente, o Bundestag resolveu colocar uma placa em inglês no local para encerrar essa década de confusões históricas.
Instalada em meados de julho, a placa partiu da iniciativa de um deputado liberal, que estava cansado de alertar turistas sobre o erro que estavam cometendo.
O pedaço de muro continua atraindo muitos turistas, que agora param para ler a explicação sobre o objeto. Ele, porém, deixou de ser cenário de fotografias. Diversos passam por ali, leem a plaquinha e continuam o passeio pelo centro da cidade sem registrar o objeto em imagens.
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Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a no Twitter.
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