O lado sombrio de terceirização
3 de março de 2004A terceirização de serviços de uma empresa, com a meta de reduzir os custos de produção, principalmente com pessoal, valeu como receita de sucesso empresarial durante décadas, na Europa. Quanto mais enxuta, mais a empresa tinha sucesso no mercado. Agora não é mais bem assim.
Depois de verificar que sofreram desvantagens, em vez da poupança ambicionada, muitas firmas retomaram os serviços ou setores que haviam transferido a terceiros. Os casos mais comuns, ultimamente, são os serviços de limpeza de indústrias automobilísticas, bancos e hospitais.
Deutsche Bank & IBM - O maior banco alemão, Deutsche Bank, transferiu o seu centro de compensação juntamente com mil funcionários para a multinacional norte-americana IBM. Na busca por mais potencial de redução de despesas em todos os seus negócios seguiram mais 150 funcionários do setor de desenvolvimento de software. Mas, no cômputo geral, o instituto de crédito não alcançou a meta de uma redução de 30% dos seus custos.
Muitos empresários alemães e europeus continuam recorrendo à terceirização e são relativamente bem sucedidos a curto prazo. Mas, a longo prazo, o resultado muitas vezes é negativo, segundo o pesquisador Bernd Kriegesmann do Instituto de Pesquisa Aplicada de Inovação.
“A gente ouve, com freqüência, sobre uma meta de poupança de 30%, mas geralmente se esquece de calcular os custos com a terceirização em si e com a perda de qualidade resultante dela”, advertiu o catedrático.
Fracassos e custos adicionais – A redução de custos alcançada já se revela uma ilusão nos primeiros meses de terceirização, segundo um levantamento feito na Europa por pesquisadores americanos. Dois terços das empresas européias consideradas na pesquisa declaram os seus respectivos projetos como fracassados. Os custos embutidos da terceirização pulverizaram os recursos poupados com ela. Só a busca por um prestatador de serviço adequado durou meses e engoliu muito dinheiro.
As despesas com a transferência de serviços ou setores de uma empresa para terceiros são consideráveis, como constata o pesquisador Kriegesmann: “Os recursos iniciais com consultoria para a empresa decidir sobre uma terceirização são enormes. A gente tem também de contar com perda de motivação dos empregados atingidos com o processo, porque isto acaba aumentando os custos de produção a longo prazo”.
Indenização e riscos - Kriegesmann aconselha os empresários a calcularem também os custos com indenizações, porque os prestadores de serviço escolhidos raramente assumem pessoal. Devem acrescentar a isto os custos com advogado e a coordenação constante com os prestadores de serviço. Só estes encargos somam mais de 8% dos custos anteriores à terceirização.
Os riscos não param aí, segundo o pesquisador. “Existem setores em situação bastante crítica. Quando reflito sobre a onda de terceirização de departamentos e o que acontece com os empregados das empresas que optam por esta forma de redução de custos, verifico que acaba a engrenagem estratégica entre o desenvolvimento da empresa e do seu pessoal. E isto é muito perigoso para a empresa."
Foi por estes e outros motivos que muitas empresas na Europa recuaram da terceirização retomando os serviços que haviam passado para terceiros, como constatou o Instituto de Pesquisa Aplicada de Inovação. Os serviços de limpeza de bancos constituem o exemplo mais típico. Mas a lista é vasta e vai desde indústrias automobilísticas até hospitais. Segundo Kriegesmann, eles constataram que, em vez de ajudar, a terceirização gerou desvantagem.