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O homem que devolveu credibilidade à ONU

(ns)21 de janeiro de 2004

O secretário-geral da ONU recebe o Prêmio da Mídia Alemã. A crise do Iraque foi o maior desafio de Kofi Annan, que está no segundo mandato à frente da instituição e goza de grande reputação em todo o mundo.

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Kofi AnnanFoto: AP

Sua voz é tão suave, que mal se ouve. E talvez justamente por isso, quando ele se pronuncia, as pessoas ouvem o que Kofi Annan tem a dizer. O secretário-geral da ONU convence, entre outras coisas, pela amabilidade e sua atitude reservada. Sua atuação sob o signo da sensatez ajudou as Nações Unidas a recuperarem prestígio, pois apesar de toda a suavidade, o ganês de 65 anos não deixou qualquer sombra de dúvida quanto à sua firmeza e seus objetivos. Kofi Annan teve oportunidade de demonstrar isso novamente nos últimos dias, na disputa com os EUA sobre o papel da ONU no Iraque.

Mister diplomacia

Nesta quarta-feira (21), o secretário-geral da organização mundial recebe o Prêmio da Mídia Alemã 2003 em Baden-Baden, concedido pela empresa de pesquisa de mercado Media Control. O agraciado é escolhido por um júri composto pelos redatores-chefes dos principais jornais e meios de comunicação. Kofi Annan mereceu a distinção porque representa, como nenhum outro político, o espírito das Nações Unidas e seu empenho em prol de um mundo mais organizado e pacífico - assim foi justificada a escolha do seu nome.

Kofi Annan chegou na terça-feira a Baden-Baden, Estado de Baden-Würtemberg, para receber o prêmio, acompanhado de sua esposa, a sueca Nane Cronstedt, com quem tem três filhos. Ele aproveitará a viagem à Alemanha para descansar alguns dias na Floresta Negra. Os discursos de laudatio proferidos na entrega da distinção serão proferidos pelo ex-presidente norte-americano Bill Clinton e o presidente do Parlamento alemão, Wolfgang Thierse. Os principais nomes da mídia alemã, acompanhados de apresentadores de tevê, astros e estrelas comparecerão ao evento. Clinton, que recebeu o prêmio em 1999, será acompanhado de uma comitiva de 50 celebridades.

Firmeza na queda-de-braço com os EUA

Demonstration in Freiburg gegen Irak Krieg
Manifestação contra a guerra do Iraque, em março de 2003, em Freiburg, Alemanha. O conflilto foi um grande desafio para Kofi AnnanFoto: AP

Quando foi eleito secretário-geral da ONU em 1997, Kofi Annan era tido como "homem dos americanos". Um ano depois, porém, viajou a Bagdá em missão mediadora contra a vontade de Washington, dando uma contribuição decisiva para evitar no último momento mais uma guerra do Golfo. Mas em março de 2003 isso já não foi possível. Logo após a guerra do Iraque, Annan esteve diante de um dilema: por um lado, os Estados Unidos, vitoriosos, não queriam conceder à ONU um papel significativo na reconstrução do Iraque. O secretário-geral decidiu enviar funcionários da ONU a Bagdá. No entanto, o terrível atentado a bomba contra o quartel-general da ONU na capital iraquiana, em agosto do ano passado, com um saldo de 22 mortos, inclusive o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, colocou um ponto final nessa missão, pelo menos por enquanto.

Depois que inúmeras bombas e atentados forçaram Washington a admitir que os EUA, sozinhos, não conseguiriam controlar a situação precária no Iraque, o tom adotado em relação às Nações Unidas tornou-se mais amistoso. O administrador americano do Iraque, Paul Bremer, tratou de angariar a simpatia do diplomata africano nas últimas semanas. Annan, por sua vez, deixou claro que uma nova presença da organização mundial no Iraque só será possível se ela tiver maior influência nas decisões políticas.

Por insistência do conselho iraquiano de governo, Kofi Annan cogita o envio de uma delegação para examinar a possiblidade de realização de eleições no início do verão. Com isso, a ONU estaria novamente na jogada, servindo de mediadora entre os EUA e a maioria xiita da população iraquiana, que exige eleições o quanto antes.

Competência e credibilidade valeram reeleição

Kofi Annan é o primeiro secretário-geral das Nações Unidas que fez toda sua carreira na própria organização. Com grande apoio interno e uma indiscutível competência, o ganês é uma das poucas personalidades mundiais que possui credibilidade além das distintas fronteiras geopolíticas e culturais. Com essas qualidades, não é de se admirar que ele tenha sido reeleito por unanimidade em 2001, por mais cinco anos.

Como secretário-geral, também atuou em outros palcos que não o da diplomacia. Assim, declarou a Aids como uma ameaça à segurança mundial, elevando o seu combate a uma das tarefas mais importantes das Nações Unidas. Também iniciou reformas estruturais para enxugar a máquina burocrática e não deixou de exercer autocrítica, quando lhe pareceu necessário. Annan admitiu francamente o fracasso da ONU na Bósnia e na Ruanda, tirando a lição para as próximas missões, que irão se concentrar mais na proteção da população civil.

Nascido em 8 de abril de 1938 em Kumasi, Gana, e formado em Economia pela Universidade de St. Paul, em Minnesota (EUA), Kofi Annan conhece como ninguém a ONU, para a qual entrou como funcionário em 1962, ocupando a seguir vários cargos importantes. "Indiscutivelmente, ele é o melhor secretário-geral da história das Nações Unidas", na opinião do ex-embaixador norte-americano na ONU, Richard Holbrooke.