O ferrolho multicultural suíço
16 de junho de 2018Os pontos fortes
A seleção da Suíça é extremamente organizada no retorno defensivo. O novo xerife da defesa, o jovem zagueiro Manuel Akaji, do Borussia Dortmund, é uma das maiores promessas da equipe. Recentemente, mesmo adversários de destaque como Portugal e Espanha tiveram dificuldade em encontrar meios de furar o ferrolho suíço. Nos últimos seis jogos, a Suíça sofreu apenas um gol – empate em 1 a 1 com a Espanha. Desde a Eurocopa de 2016 na França, a Suíça sofreu menos de 0,5 gol por jogo – uma média excelente.
Em geral, a seleção suíça é muito bem coordenada, os mecanismos funcionam e os jogadores se conhecem. O time titular na partida contra o Brasil será praticamente o mesmo que na estreia na Eurocopa de 2016 contra a Albânia – exceção feita a uma ou duas posições. O treinador Vladimir Petkovic aposta na calma, confiança e estabilidade – e com sucesso.
Nas Eliminatórias para o Mundial na Rússia, a Suíça perdeu apenas na visita a Portugal, e venceu todas as outras nove partidas. Apesar de ter conquistado os mesmos 27 pontos que Portugal, teve que encarar a Irlanda do Norte na repescagem.
As fraquezas
O setor problemático da seleção suíça é claramente o ofensivo. Todos os candidatos para a única posição no comando de ataque tiveram uma temporada difícil. O supertalento Breel Embolo, do Schalke 04, esteve lesionado por um longo período e agora busca recuperar a boa forma – o mesmo vale para Josip Drmic, do Borussia Mönchengladbach.
Haris Seferovic mal jogou pelo Benfica recentemente. E Mario Gavranovic até marcou muitos gols, mas na tecnicamente fraca liga croata pelo Dinamo Zagreb. Falta à Suíça um centroavante matador do calibre dos ex-jogadores da Bundesliga Stéphane Chapuisat ou Alexander Frei.
Mas também há dúvidas no meio-campo ofensivo. O criado Blerim Dzemaili, que atua pelo Bologna, tem a confiança do treinador Petkovic, mas ultimamente tem tido atuações moderadas pela seleção. E Xherdan Shaqiri, o mais famoso jogador suíço e que leva o apelido de "brasileiro dos Alpes", tem conseguido inspirar a equipe apenas raramente. Além de um artilheiro, a equipe precisa também de jogadores rápidos e habilidosos nas extremidades.
A estrela
Muitos conhecedores apontam para Shaqiri, que jogou pelo Bayern de Munique e pela Inter de Milão e, atualmente, defende as cores do Stoke City, como o craque do time. Mas a verdadeira estrela da seleção suíça é Granit Xhaka. O meia defensivo é quem dita o ritmo, impulsiona, cria e comanda o jogo suíço. Ele sempre está desmarcado para receber a bola, inicia investidas ofensivas com seus excelentes passes e tem a qualidade para efetuar lançamentos longos e precisos.
Desde a Eurocopa de 2016, a Suíça registrou mais posse de bola do que seus adversários em mais de 90% dos jogos, e Xhaka é responsável por isso. Com a transferência do Borussia Mönchengladbach ao Arsenal por aproximadamente 45 milhões de euros, ele é o jogador suíço mais caro da história. Xhaka é o único que se encontra no limiar do mais alto escalão internacional.
Ninguém deu mais passes do que Xhaka na última temporada da Premier League. Na Eurocopa de 2016, apenas o meia alemão Toni Kroos o superou. De certa forma, Xhaka representa a esperança da Suíça de finalmente ter uma estrela mundial também no futebol – assim como Roger Federer, no tênis, como Dario Cologna, no esqui cross-country, como Simon Ammann, no salto de esqui, entre outros tantos esquiadores.
O treinador
Petkovic, de 54 anos, teve um começo difícil como técnico da seleção suíça no segundo semestre de 2014. Ele herdou o trabalho do aparentemente insuperável Ottmar Hitzfeld, que treinou com bastante sucesso os clubes alemães Borussia Dortmund e Bayern de Munique. O treinador nascido em Sarajevo perdeu os dois primeiros jogos e encontrava dificuldades em se comunicar.
E seu retrospecto como treinador do Young Boys e da Lazio era modesto demais para resultar numa aceitação imediata. Porém, durante a qualificação para a Eurocopa de 2016, Petkovic se soltou, tornou-se mais aberto e corajoso. O ex-assistente social da organização Caritas uniu uma equipe que tem jogadores com diferentes raízes, culturas, idiomas e mentalidades.
E, no final das contas, Petkovic levou a Suíça a jogar um futebol mais vistoso do que Hitzfeld, o que fortaleceu sua posição. Posse de bola, com coragem e sem negligenciar o ataque – esse é o credo de Petkovic.
Uma história especial
Na segunda metade de 2015, a seleção suíça passou pela sua maior crise dos últimos anos – e sequer dizia respeito ao desempenho atlético. Na equipe predominava um clima pesado, que acabou tornado público. Um jornal descreveu a situação como "Balkangraben" (vala dos Bálcãs, em tradução literal), que simboliza a separação dos jogadores com raízes nos Bálcãs do resto.
O termo foi inspirado no "Röstigraben", expressão em alemão que descreve os ressentimentos entre as partes alemãs e francesas da Suíça. Houve também questões sobre a integração do crescente grupo de jogadores com raízes africanas, cuja maioria fala francês.
O treinador Petkovic, um croata bósnio com passaporte suíço, manteve muitas conversas, afastou o sobrecarregado capitão Gökhan Inler e estabeleceu uma nova hierarquia. E pouco antes da Eurocopa de 2016, a equipe efetivamente encaixou. Hoje, a seleção suíça representa o poder de integração que caracteriza o pequeno Estado alpino.
O prognóstico
A estreia será apertada, embora os brasileiros possuam significativamente mais qualidade técnica individual. Na sequência, a Suíça encerrará em segundo lugar no grupo atrás do Brasil. Nas oitavas de final, os suíços provavelmente terão de enfrentar a Alemanha e podem evoluir para se tornar a surpresa do torneio.
Provável escalação contra o Brasil:
Yann Sommer (Borussia Mönchengladbach); Stephan Lichtsteiner (Arsenal), Fabian Schär (La Coruña), Manuel Arkanji (Borussia Dortmund), Ricardo Rodríguez (Milan); Valon Behrami (Udinese), Granit Xhaka (Arsenal); Xherdan Shaqiri (Stoke City), Blerim Dzemaili (Bologna), Steven Zuber (Hoffenheim); Haris Seferovic (Benfica).
*Samuel Burgener tem 30 anos e é repórter de Esportes do Neue Zürcher Zeitung, o jornal mais renomado da Suíça. Na Copa do Mundo na Rússia, ele acompanha a seleção da Suíça de perto. Seu clube favorito é o Sion, por onde jogou Roberto Assis, o irmão de um certo Ronaldinho Gaúcho.
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