O "doutor sexo" dos adolescentes alemães
10 de setembro de 2006Sandra, 16, posa com olhar tímido nas páginas da Bravo, usando uma gargantilha preta e nada mais. Seu namorado Elias, 18, força um sorriso na página seguinte, também em seu estado natural. "Contem por que vocês se amam", lê-se no título. E o jovem casal conta por que e exatamente como se ama.
Em outros países, a revista arriscaria ser processada por pornografia. Mas na Alemanha isso não é nada espantoso, ela é a revista mais popular da Alemanha, e acaba de celebrar seus 50 anos.
Considerada uma instituição na Alemanha desde 1969, Dr. Sommer combina nudez e sexo sem moralismo. Nota-se aí uma diferença cultural básica entre a Alemanha e outros países, a maneira aberta como o sexo é discutido, especialmente entre os jovens.
Alex Gernandt, vice-editor da revista alega que não se trata de pornografia e que se lida de maneira muito sensível com a nudez. "Há muito menos casos de adolescentes grávidas na Alemanha do que nos Estados Unidos ou no Reino Unido, por exemplo, e eu acredito que a Bravo tem seus créditos nesse sucesso", disse Gernandt.
Quebrando tabus
A coluna do Dr. Sommer, atualmente assinada por Eveline von Arx, aposta na atitude sexual liberal que há na Alemanha. E acrescenta que a questão não é mais a quebra de tabus; afinal, nada mais choca os adolescentes. Claro que a situação era outra quando a coluna foi lançada.
Cada edição semanal da revista apresenta fotos de dois adolescentes, geralmente entre 16 e 20 anos, nus, com reportagens de como se sentem em relação à aparência e suas experiências. O candidato que tenha menos de 16 anos deve ter autorização dos pais. Os entrevistados recebem 400 euros e muitos deles afirmam que a experiência impulsiona a auto-estima.
A edição publicada no Leste Europeu tem pouco a ver com a versão ocidental, que conta com carícias explícitas e galeria de fotos com nus. Mas na Alemanha, até mesmo professores e líderes religiosos parecem estar abertos à coluna. Gisela Gille, presidente da Sociedade da Saúde da Mulher na Alemanha, disse que a Bravo tem uma função importante na educação sexual de jovens entre 12 e 15 anos, particularmente para os que têm menos escolaridade. Ela acrescenta que a maioria lê a revista por um certo tempo, mas pára quando adquire mais experiência.
Surgimento por exigência popular
Foi o grande número de cartas pedindo conselhos que fez com que os editores elaborassem esse tipo de coluna . Desde o início a coluna levou a missão a sério. O time composto por psicólogos, sociólogos, cientistas sociais e políticos, conselheiros familiares e pais passavam horas analisando cartas do tipo:
"Estou apaixonada por um menino muito legal. Se ele me beijasse, eu seria feliz pelo resto de minha vida. Como eu posso fazer com que ele me beije? [...]" Janne, 14.
O time tentava responder de maneira estimulante e sem pré- julgamento. Muitas vezes foram surpreendidos pelo número de cartas que recebiam, até cinco mil por mês. "Acredito que os jovens queriam ser escutados", lembra-se Martin Goldstein, o primeiro Dr. Sommer. Com o tempo, o tom de seriedade das perguntas elevou-se com cartas do tipo "O namorado de minha mãe abusou de mim sexualmente".
A coluna não mudou muito durante os anos, mas recentemente Eveline von Arx tem observado a preocupação dos jovens por irem mal na escola devido às preocupações amorosas. Ela defende a necessidade da existência da coluna, afirmando: "As pessoas pensam que nossa sociedade é sexualizada, e que nudez e sexo estão por toda parte, e que os jovens já sabem tudo, mas muitas vezes eles não têm a menor idéia".