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Esporte

O despertar de outro futebol

19 de maio de 2020

O mundo da bola olha com atenção para a Alemanha. O experimento alemão mostra como poderá ser o futebol em tempos de pandemia.

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Dortmund x Schalke: dérbi foi uma das partidas que reabriram o campeonato alemão
Dortmund x Schalke: dérbi foi uma das partidas que reabriram o campeonato alemãoFoto: picture-alliance/R. Ibing

Em seus 57 anos de história, a Bundesliga foi capaz de produzir incontáveis imagens que ficaram gravadas na memória coletiva de milhões de torcedores. Qual é o torcedor que não se lembra das grandes conquistas e dos momentos felizes ao comemorar com dezenas de milhares num estádio lotado o triunfo do clube do seu coração? Até outro dia, a onda contagiante de uma torcida em êxtase tomava conta das arenas, empurrando sua equipe rumo à vitória.

Essas imagens, pelo menos por ora, fazem parte do passado. O futebol sem público é outro futebol. Sem torcida nos estádios, falta aquela forte emoção que desce das arquibancadas, invade o gramado e faz com que o jogador reúna forças até então inimagináveis para, a qualquer custo, atingir seu objetivo supremo – a vitória. 

Agora temos um outro futebol, mas apesar dos milhares de assentos vazios, continua sendo futebol. Do ponto de vista puramente esportivo, ao contrário do que era esperado após mais de dois meses de pausa forçada, houve pelo menos três partidas de bom nível técnico.

Em Dortmund, o Borussia celebrou seu futebol ofensivo contra um fraco Schalke 04. Em Frankfurt, o Gladbach não tomou conhecimento do Eintracht, e em Bremen, o Leverkusen humilhou o Werder. Das equipes que ponteiam a tabela de classificação, Bayern e Leipzig decepcionaram e ainda estão longe dos seus melhores desempenhos na atual campanha.

Ressalta aos olhos que, com estádios às moscas, desaparece a vantagem de jogar em casa. Apenas o Borussia Dortmund venceu no seu alçapão. Cinco mandantes de campo foram derrotados e outros três apenas empataram.

Isto posto, a preocupação dos céticos de que haveria aglomerações nos arredores das arenas acabou não se concretizando. As torcidas, especialmente os agrupamentos conhecidos como Ultras, deram mostras de sua responsabilidade ficando longe dos estádios e, além disso, ainda promoveram campanhas pelo distanciamento social.

Herbert Reul, ministro do Interior da Renânia do Norte-Vestfália, o estado com maior concentração de times de futebol das duas divisões profissionais da Bundesliga, agradeceu publicamente aos torcedores pelo comportamento responsável: "Devo fazer um forte elogio a todos os fãs. No passado, vez por outra, cheguei a criticar os Ultras, mas nesse fim de semana eles tiveram um comportamento exemplar".

Os jogos-fantasma (jargão alemão para partidas sem público) em cidades como Dortmund, Colônia e Düsseldorf foram realizados sem que houvesse aglomerações ou perturbações públicas nas proximidades dos locais das partidas. "Este fim de semana mostrou que a proteção à saúde pública e o entusiasmo pelo futebol podem conviver", acrescentou Reul.

Por sua vez, Horst Seehofer, ministro do Interior da Alemanha, também ficou satisfeito: "Graças ao comportamento profissional das equipes e à prudência dos fãs, posso ver que o plano de segurança sanitária da liga está funcionando de forma impressionante. A alegria pelo futebol e a proteção contra a infecção não são excludentes”.

De fato, quase tudo correu bem durante o reinício do campeonato e assim deverá continuar para que a realização de jogos de futebol em tempos de covid-19 continue sendo justificável perante a opinião pública.

A Bundesliga se tornou um modelo para o qual as grandes ligas europeias estão olhando com muita atenção e não se pode perder de vista que nesse experimento a céu aberto está inclusa a possibilidade de um eventual fracasso. Os jogadores já deixaram sua quarentena de uma semana e retornaram à sua vida normal. O perigo de infecção está em cada esquina e pode atingir um ou mais jogadores de um time.

A pergunta que continua pairando no ar e que não pode calar é: como a Bundesliga vai agir se um ou dois clubes forem obrigados a colocar os seus times em quarentena? Já prevendo essa possibilidade, os 36 clubes da liga concordaram em estender o prazo para o término do campeonato até o final de julho.

Definitivamente, é mesmo o despertar de um outro futebol. Sem torcida e sem calendário fixo.   

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no TwitterFacebook e no site Bundesliga.com.br

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