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EducaçãoBrasil

O desafio de ser mãe adolescente no fim do ensino médio

 brasilianische Studentin Karoline Vitória Lima Medeiros,
Karoline Vitória Lima Medeiros
14 de abril de 2022

Quando tive filho pensei em desistir dos estudos, mas entendi que aquela batalha me permitiria dar um futuro melhor para ele. Com muita ajuda e incentivo, consegui entrar na faculdade, escreve Karoline Medeiros.

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Barriga de uma mulher grávida
Foto: Evgeny Atamanenko/Colourbox

Descobri que estava grávida no final do segundo ano do ensino médio e, assim que iniciei o mais temido terceiro ano, acabei ganhando meu bebê. Isso me causou um mix de emoções e sentimentos. Quando descobri que estava grávida pensei em desistir de tudo, porque sempre ouvi que meninas que engravidam aos 17 anos nunca conseguem ser felizes e realizadas, mas a minha mãe, que sempre esteve ao meu lado, me encorajou a continuar e a nunca abandonar meus sonhos.

Quando dei à luz o meu filho, estava começando o terceiro ano, e isso me gerou muito medo, porque além de estar cuidando de um bebê durante uma pandemia, eu ainda tinha que estudar. Por vários momentos pensei em desistir, passei várias noites em claro estudando, porque era meu único tempo livre.

Felizmente, a escola em que estudei foi bem compreensível com tudo, eles entenderam a minha situação e deixaram meus horários de aula bem mais flexíveis, o que facilitou muito. Ainda assim, não fez com que os obstáculos desaparecessem. Eu poderia "abrir mão" dos estudos e me dedicar 100% ao meu filho, porém entendi que teria que me desdobrar e dividir meu tempo entre cuidar dele e estudar para que, daqui a alguns anos, eu pudesse dar um futuro melhor para ele.

E junto a tudo isso, chegaram as temidas provas e o pré-Enem, e foi nesse momento que me senti mais frágil e menos motivada a continuar, pois não tinha o mesmo tempo que outros alunos da minha sala para me dedicar aos estudos. Mas busquei forças onde não tinha mais e segui em frente, passei noites e noites acordada estudando, me esforçando ao máximo, e foi com todas essas dificuldades que finalmente consegui concluir o ensino médio.

Karoline Vitória Lima Medeiros
Karoline Vitória Lima Medeiros tem 18 anos e mora em Rio Branco, no AcreFoto: privat

Guardo até hoje a fala de uma pessoa que me ajudou a ter força durante todo esse período, que foi a diretora da escola em que estudava: "É, Karolzinha, ser mãe já é difícil, agora ser mãe no ensino médio e não desistir é mais difícil ainda, e isso só te mostra o quanto tu és forte e corajosa". Guardo isso comigo, e vai ficar guardado para sempre no meu coração, pois todos os dias me lembro dessa fala, e isso me dá forças para não desistir.

Ao final de 2021, quando me formei, recebi a notícia de que tinha conseguido uma bolsa de 70% para o curso de psicologia em uma faculdade particular. O meu sonho estava bem na minha frente, mas, mesmo assim, pensei por inúmeras vezes em desistir do meu projeto de vida, por medo de não conseguir dar conta. Foram meus professores que me encorajaram a seguir em frente e conquistar o meu sonho – sou eternamente grata a eles por isso. Então, aceitei a proposta da faculdade, e hoje estou cursando o primeiro período de psicologia.

Quando descobri que as aulas voltariam a ser presenciais, confesso que isso me gerou um certo nível de ansiedade, pois não queria ter de deixar meu filho, mas tive a grande ajuda de meu marido que me fez aceitar que isso seria melhor para ele daqui a alguns anos. Hoje conto com ajuda da minha sogra, que fica com meu filho durante a noite. Minha rotina é bem corrida, passo o dia cuidando dele e da casa, e minhas aulas começam às 19h e vão até 22h30. É bem cansativo, mas sempre olho para meu filho e vejo que tudo está valendo a pena.

No início, imaginei que um filho só iria me atrapalhar e me atrasar em relação aos meus estudos, mas, com o tempo, entendi que cheguei até aqui graças a ele e que todo o esforço que estou fazendo é por ele. Me tornei uma pessoa mais responsável e encorajada depois que dei à luz.

Desejo muito ajudar outras adolescentes que enfrentam a mesma situação que a minha, e fazê-las entender que um filho na adolescência não é o fim do mundo, que eles vêm para nos mostrar o quanto somos fortes, corajosas e que podemos alcançar todos os nossos sonhos. Espero que a cada dia que se passa mais jovens entendam que elas podem sim realizar todos os seus sonhos mesmo sendo mães, que a vida não acabou ali, e que elas tenham o mesmo apoio que tive de pessoas que estavam ao meu redor.

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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.