O controverso "Medo dos Tiros"
29 de setembro de 2003A divulgação do vencedor da "Concha de Ouro" este ano em San Sebastián, na Espanha, foi recebida pelos jornalistas presentes ao festival com vaias e reclamações. Indo contra as opiniões que gostariam de ver o prêmio máximo para o espanhol Te doy mi ojos, os jurados foram responsáveis pelo que o diário El País chegou a chamar de "um escândalo": a entrega do prêmio máximo ao alemão Schussangst (Medo dos Tiros).
Com uma boa dose de humor negro, o longa narra a história de Lukas, um desertor de guerra, que enquanto cumpre seu serviço civil levando comida a idosos e enfermos, se apaixona perdidamente e acaba por perder o controle sobre sua própria vida. Baseado em um romance de Dirk Kurbjuweit, o filme retrata as desventuras de um jovem pacifista, que termina cometendo um assassinato."Pais da violência" -
Para o diretor (natural da Geórgia e radicado na Alemanha, que levou um Leopardo de Prata em Locarno com On the Verge, em 1993, e chamou a atenção da crítica em Cannes três anos atrás com a comédia Lost Killers), as críticas recebidas por Medo dos Tiros são estimulantes."A vida é controversa e o cinema deve ser seu espelho", comenta Tsintsadze a recepção negativa de seu longa na cidade espanhola. Quanto ao filme, "é uma história forte e trágica, que fala da perda da identidade de um jovem. O tema é a solidão e a frustração no amor, que são os pais da violência".
Cinema engajado -
O centro das discussões em San Sebastián girou no entanto este ano em torno do polêmico longa espanhol La Pelota Vasca, La Piel contra La Piedra, que marca, segundo o diário Der Tagesspiegel, a "volta do cinema engajado" como tendência atual da produção européia. "Filmes que abandonam o salão da arte pura e voltam o olhar para o mundo, tomando posições tanto morais quanto políticas", analisa o jornal alemão.O controverso La Pelota Vasca, La Piel contra La Piedra, de Julio Medem, é uma documentário de viés político sobre o País Basco, que chegou a causar furor em Madri antes mesmo de ser visto. O diretor Medem foi acusado de não olhar criticamente o bastante para a história dos atos terroristas cometidos pela organização separatista ETA.
O longa, meticulosamente montado, dá voz a mais de 70 pessoas, entre elas artistas, políticos, defensores e vítimas do terrorismo, oferecendo ao espectador uma galeria de entrevistas permeada por canções bascas.