O caminho certo era a ONU
20 de março de 2003Em sua primeira reação aos ataques dos Estados Unidos ao Iraque, o chanceler federal alemão Gerhard Schröder, reafirmou que o caminho certo para resolver a crise era a ONU. "Estou certo de que havia um outro caminho para desarmar o ditador: o caminho das Nações Unidas. (...) Foi tomada uma decisão errada. A lógica da guerra derrotou as chances de paz. Milhares de pessoas vão sofrer terrivelmente com isso", disse o chanceler federal alemão Gerhard Schröder, em pronunciamento oficial transmitido em rede nacional de tevê, na tarde desta quinta-feira (20).
Schröder disse que "este não é o momento para apontar culpados e contar as falhas. O que resta fazer agora deve apontar para o futuro: a guerra começou. Ela deve terminar tão rápido quanto possível. As bombas caem. Esperamos que as vítimas entre a população civil sejam tão mínimas quanto possível", afirmou. A Alemanha ofereceu ajuda humanitária e auxílio médico aos iraquianos.
"Esperamos todos que não se chegue a usar armas de destruição em massa nesta guerra e que o regime criminoso de Saddam Hussein possa ser encerrado rapidamente", afirmou nesta quinta-feira (20) Wolfgang Thierse, presidente do Parlamento alemão (Bundestag), durante a sessão extraordinária convocada para o debate sobre a guerra no Iraque.
O social-democrata Thierse procurou assim equilibrar as opiniões divergentes entre os parlamentares alemães, divididos entre o apoio incondicional à guerra dado pela oposição democrata-cristã e a rejeição ao conflito armado defendida pela social-democracia do premiê Gerhard Schröder. Espera-se para o fim da tarde uma declaração oficial de Schröder, que deverá ser transmitida pela TV para todo o país. Para o ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer, "uma solução pacífica teria sido possível".
Divergências -
A líder da União Democrata Cristã (CDU), Angela Merkel, lamentou a "tragédia para as pessoas no Iraque" que a guerra significa, reafirmando a posição de seu partido e da União Social Cristã (CSU) "ao lado dos Estados Unidos". Já para o líder da bancada do Partido Social Democrático (SPD) no Parlamento, Franz Münterfering, "a ação militar prova que venceu o direito do mais forte", acentuando que as divergências na política interna alemã deverão ser resolvidas "de acordo com regras democráticas".Para os líderes verdes, o início dos ataques ao Iraque significa o "fracasso da política externa alemã". Para a presidente do partido, Angelika Beer, a posição norte-americana é prova "da arrogância unilateral" dos EUA, que se opôs à opinião de uma clara maioria no Conselho de Segurança da ONU. Nas palavras de Ludger Vollmer, porta-voz do Partido Verde para questões de política externa, "as Nações Unidas saem prejudicadas, quando uma superpotência conduz uma guerra ignorando a opinião do Conselho de Segurança e desconsiderando alternativas pacíficas para o conflito".
Protestos de rua -
Mais cem mil pessoas saíram às ruas na Alemanha para protestar contra os ataques do EUA e participar de manifestações pela paz. Segundo o movimento pacifista, à tarde ocorreram protestos em mais de 350 cidades. Pela manhã, mais de 70 mil pessoas haviam se reunido ao redor da sede o governo, em Berlim, para exigir o fim da guerra. Dezenas de milhares de colegiais protestaram em diversas cidades contra a intervenção norte-americana no Iraque. As igrejas alemãs abriram suas portas para orações pela paz.França - Em Paris, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores demonstrou na manhã desta quinta-feira (20) a "profunda preocupação do país", afirmando que o governo francês espera "um breve fim" do conflito armado. O primeiro comunicado oficial, divulgado poucos momentos após o início dos ataques ao Iraque, não continha nenhuma crítica explícita à iniciativa norte-americana.
Reino Unido -
Braço direito número um de Bush na condução da guerra, o premiê britânico Tony Blair convocou para a manhã desta quinta-feira (20) uma reunião extraordinária de seu gabinete. Maiores detalhes sobre a participação das tropas britânicas no conflito deverão ser divulgadas no decorrer do dia, afirmou um porta-voz do governo em Londres.Dezenas de milhares de ingleses protestaram contra a participação do país no conflito. As manifestações do chamado "dia da vergonha" foram organizadas pela "coalizão contra a guerra"."Esta guerra não tem o apoio do povo britânico. Este é o dia da vergonha para a Grã-Bretanha", disse Andrew Murray, representante do movimento.
Rússia, e Japão -
De Moscou, as reações aos bombardeios foram de "lamento profundo". Segundo agências de notícia do país, o presidente Putin espera que o número de vítimas da guerra seja o menor possível. Na China, o discurso de George W. Bush foi transmitido ao vivo, com legendas em chinês. Pequim conclamou os EUA a por um fim aos ataques ao Iraque, reafirmando que a posição norte-americana fere a Carta dos Direitos da ONU. Ao contrário da China, o governo japonês manifestou seu total apoio a Washington. O premiê Junichiro Koizumi afirmou nesta quinta-feira (20), em Tóquio, "entender porque os EUA começaram com os ataques, dando total apoio às ações militares".