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O Brasil na imprensa alemã (30/05)

30 de maio de 2018

A greve dos caminhoneiros e suas consequências para as pessoas que vivem nas metrópoles brasileiras são o destaque desta semana.

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Prateleiras vazias em supermercado de Porto Alegre
Prateleiras vazias em supermercado de Porto AlegreFoto: Reuters/D. Vara

Frankfurter Allgemeine Zeitung – Brasil, tremendo de medo em direção à paralisia, 29/05/2018

Há uma calma fantasmagórica em São Paulo, também nesta manhã, o nono dia da greve dos caminhoneiros. As ruas, normalmente engarrafadas com o tráfego de trabalho matinal, estão quase vazias – assim como os tanques dos milhões de automóveis que se arrastam pela metrópole, todos os dias. Quem ainda tem alguma gasolina dirige devagar e em marcha econômica. Muitos deixam o carro na garagem e pegam o ônibus.

[...] A escassez de combustível dá margem a todo tipo de pérolas. Os postos de abastecimento que têm algum, o vendem a preços escorchantes. Também táxis e serviços de transporte como o Uber adaptaram suas tarifas à situação de emergência. E funcionários públicos foram observados roubando gasolina de ambulâncias.

[...] Certos produtos estão totalmente esgotados. As prateleiras vazias lembram a Venezuela – ainda que só de longe. Mas enquanto a Venezuela afunda em gasolina e não tem nada para comer, no Brasil os alimentos frescos apodrecem nos caminhões parados.

Greve dos caminhoneiros chega ao 10º dia

[...] "Se Deus quiser" tudo vai se normalizar logo, disse o presidente Michel Temer na segunda-feira. Mas as quilométricas filas de caminhões nas autoestradas se recusam a se mover. Em vez disso, ouve-se nos bairros o bater de panelas, em protesto coletivo quando Temer se dirige à nação. O barulho é bem conhecido dos brasileiros. A última vez que ele se fez ouvir foi dois anos atrás, antes de a presidente Dilma Rousseff ser deposta.

[...] Neste meio tempo, o bloqueio dos caminhoneiros ganhou uma dimensão política. Surpreendentemente não foi a esquerda que entrou na onda, mas a direita. Na Avenida Paulista, coração de São Paulo, reuniram-se na segunda-feira grupos radicais exigindo não só a renúncia de Temer, mas uma intervenção militar. Eles voltarão, pois se sentem fortalecidos em suas convicções pelo caos. "Fora, Temer!", eles gritam – algo que até agora só se escutava partindo da esquerda. É o momento das soluções fáceis. E pode ser que o candidato presidencial Jair Bolsonaro emerja do caos como vencedor. Ele precisa disso, para poder louvar a lei e a ordem nas eleições presidenciais de outubro.

Die Tageszeitung – Acabou a gasolina, ruas vazias como nunca, 28/05/2018

No Brasil reina um clima de crise: uma greve de caminhoneiros levou o país a sérios gargalos de abastecimento. Na maioria das cidades, há dias já não há mais gasolina. Frutas e verduras sumiram das prateleiras. No Rio de Janeiro quase não trafegavam ônibus no fim de semana, as ruas estavam vazias como nunca.

[...] Embora há semanas já se soubesse do clima no setor de transportes, o governo reagiu com despreparo. Um acordo com os grevistas, inclusive uma redução temporária dos preços do diesel, não foi aceito pela base. Em reação, o governo enviou os militares para apoiar a polícia no desbaratamento dos bloqueios. Os responsáveis estão sob ameaça de multas elevadas.

Grandes parcelas da população aparentemente têm simpatia pelos grevistas, apesar de todos os problemas. Também a polícia investe sem muita convicção contra os bloqueadores e seus apoiadores. Os aumentos de preço constantes nos postos de abastecimento atingem a todos e agravam o clima no país, que já é ruim devido à estagnação da economia e ao alto desemprego.

A greve parece servir como válvula de escape para a insatisfação generalizada com o governo malquisto – apesar de ser altamente heterogênea: a frente grevista, até o momento inteiramente pacífica, compõe-se desde sindicatos, tanto de esquerda como de direita, até ativistas de extrema direita e empresários gananciosos.

O governo está praticamente sem espaço para manobra. Todo subsídio faria buracos bilionários nos apertados cofres públicos. Além disso está em jogo o dogma neoliberal aplicado desde a mudança de governo em 2016, que também rege as práticas de negócios da Petrobras. Os sindicalistas criticam os planos de privatizar a multinacional implicada num escândalo de corrupção: as promessas eram de saneamento.

AV/ots

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