O Brasil na imprensa alemã (28/07)
28 de julho de 2021Der Spiegel – "Força das trevas em ação" (24/07)
O presidente Jair Bolsonaro coloca em dúvida a confiabilidade das eleições no Brasil. [Em entrevista à Spiegel], o cientista político brasileiro Oliver Stuenkel explica o que ele pretende com isso.
Spiegel: Há meses, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro vem semeando dúvidas sobre o funcionamento das urnas eletrônicas. Entre outras coisas, ele afirma que, sem o uso dessas máquinas supostamente propensas a fraudes, ele teria vencido as eleições presidenciais de 2018 no primeiro turno. O que exatamente Bolsonaro tem a expor?
Stuenkel: Na verdade, não muito, afinal ele mesmo foi eleito várias vezes com essas urnas [eletrônicas]. Acho que ele está interessado em outra coisa, uma espécie de plano B: ao enfraquecer a confiança dos eleitores em nosso sistema eleitoral, ele está dando uma desculpa para contestar o resultado caso perca a eleição presidencial no ano que vem.
Spiegel: Como os apoiadores dele lidam com isso?
Stuenkel: Muitos veem supostamente forças das trevas em ação com interesse em manipular eleições: globalistas, chineses, ONU e George Soros. Aos seus olhos, são as mesmas pessoas que supostamente roubaram a vitória eleitoral de Donald Trump e agora têm como alvo o Brasil.
Spiegel: Depois da invasão do Capitólio, em Washington, Bolsonaro disse que a situação em Brasília poderia ser pior. Até que ponto isso deve ser levado a sério?
Stuenkel: Muito sério, eu acho. Bolsonaro não foi apenas um dos últimos chefes de Estado do mundo a parabenizar Joe Biden [pela vitória nas eleições americanas]. Para espalhar a lenda de Trump sobre a eleição roubada entre seus apoiadores, ele até aceitou consequências negativas para as relações entre Brasil e EUA.
Spiegel: Neste momento, o ex-presidente Lula está claramente à frente em todas as pesquisas eleitorais. Suponhamos que Bolsonaro realmente perca as eleições no próximo ano, o que poderá acontecer depois?
Stuenkel: Uma cópia dos eventos em Washington ainda seria o melhor dos casos. Mas também pode haver muito mais violência, envolvendo policiais militares e militares. Mesmo generais moderados poderiam apoiar isso, e as consequências seriam incalculáveis.
Der Tagesspiegel – "Vai queimar de novo" (25/07)
Enquanto o guarda-florestal Alesandro Amorim bebe seu café, a sinfonia matinal ressoa ao seu redor. Apesar do alegre concerto, Amorim franze a testa. Ele olha para cima e procura nuvens escuras, mas o céu está azul claro e limpo. "Faz meses que chove muito pouco", diz o guarda-florestal Amorim, que faz uma profecia sombria: "Vai queimar de novo no Pantanal este ano. Provavelmente com mais violência do que no ano passado." Ele nunca vivenciou tamanha seca.
Mas, neste ano, a chuva demorará muito para chegar, apesar de fortes precipitações caírem ocasionalmente na região. "Mas foi muito pouca [chuva]", diz Alesandro Amorim. "Em tempos normais, iríamos viajar a cavalo ou de barco e ficaríamos molhados." Em vez disso, ele esfrega a poeira dos olhos.
De acordo com cientistas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o Pantanal está passando pelo pior período de seca em pelo menos 60 anos. Especialistas acreditam que um dos motivos para isso é o desmatamento da Bacia Amazônica, localizada ao norte do Pantanal. Desde a década de 1970, cerca de 20% da floresta tropical local foi desmatada para a agricultura. Embora o desmatamento tenha diminuído drasticamente na década de 2000, o ritmo aumentou de forma dramática novamente desde 2012, e novos máximos são alcançados ano após ano.
O atual governo brasileiro sob o presidente de ultradireita Jair Bolsonaro também é o culpado por isso. Ele incentiva não somente os madeireiros ilegais, garimpeiros e ladrões de terras – por exemplo, prometendo-lhes anistias e reduzindo a aplicação de multas ambientais –, mas também desmonta drasticamente as instituições de proteção ambiental. Orçamento, equipe e atribuições são reduzidos, e seus funcionários mais esforçados são transferidos como punição.
As consequências são dramáticas, porque menos floresta significa que cada vez menos água evapora e cada vez menos nuvens se formam na Bacia Amazônica. A cada minuto, uma área do tamanho de um campo de futebol é, em média, desmatada.