O Brasil na imprensa alemã (05/06)
5 de junho de 2019Süddeutsche Zeitung – Polícia no centro de treinamento, 04/06/2019
Quando Neymar retornou no domingo (02/06) ao centro de treinamento da Granja Comary em seu helicóptero particular, acompanhado de seus colegas de Paris Saint-Germain Dani Alves e Thiago Silva, o atacante deveria estaria sabendo que a polícia estava atrás dele.
Autoridades estavam no local para interrogá-lo sobre as alegações que abalaram profundamente o ambiente da seleção brasileira pouco antes da estreia na Copa América (14 de junho contra a Bolívia).
O tema em questão é sensível. No sábado se tornou público que uma mulher de identidade não revelada acusou Neymar de estupro. A brasileira foi convidada pelo jogador a ir a Paris, onde os dois tiveram relação sexual num hotel próximo ao Arco do Triunfo, em 15 de maio. Até aí, tudo indiscutível.
Em 31 de maio, a jovem apresentou uma queixa em São Paulo na qual acusa Neymar de – em estado alcoólico – ter forçado ela ao ato sexual.
Depois de confirmado oficialmente de que a Justiça brasileira abriu investigações, Neymar partiu para a ofensiva na madrugada de domingo. Uma medida que resultou na abertura de uma segunda investigação – por suposta violação de privacidade – e fez com que as autoridades fossem ao centro de treinamento.
Em suas redes sociais, Neymar divulgou um vídeo no qual rejeitou veemente a acusação de estupro: "Caí em uma armadilha." Depois do monólogo de quase cinco minutos, ele divulgou trechos das conversas com a jovem. Vieram a público não apenas flertes em tom melodramático, mas também uma série de imagens reveladoras – as partes íntimas foram ocultadas.
Caso a transcrição seja autêntica, a conversa sugere que a mulher trocou mensagens amigáveis com Neymar mesmo após a fatídica noite, inclusive sugeriu um novo encontro no dia seguinte.
Simultaneamente, a empresa responsável pela imagem de Neymar emitiu um comunicado em que afirma que o boletim de ocorrência emitido pela jovem foi precedido por uma tentativa de extorsão por intermédio de um advogado em São Paulo.
Aconteça o que acontecer, onde quer que esteja a verdade: o escândalo se encaixa no ano repleto de alvoroços e boatos em torno de Neymar.
No final de janeiro, Neymar sofreu uma lesão no metatarso e ficou de fora dos jogos decisivos da Liga dos Campeões. Mesmo assim ele se manteve nas manchetes. Neymar celebrou seu 27º aniversário com uma festa pomposa e desapareceu por duas semanas no carnaval brasileiro, aparentemente com a permissão do PSG.
Após a eliminação da Liga dos Campeões, Neymar publicou críticas pesadas à arbitragem e foi suspenso pela Uefa. O caso mais recente ocorreu na final da Copa da França, na qual o PSG perdeu para o modesto Rennes. O jogador reagiu a provocações e agrediu um torcedor. Neymar foi suspenso pela federação francesa. No Brasil, o treinador Tite lhe tirou a braçadeira de capitão.
Frankfurter Allgemeine Zeitung – A morosidade selvagem do Brasil, 31/05/2019
Na quinta-feira (30.05), os adversários do presidente Jair Bolsonaro voltaram aos holofotes. Dezenas de milhares de estudantes foram às ruas em várias cidades do Brasil para protestar contra os cortes na educação. Após o primeiro protesto ocorrido há algumas semanas, os participantes foram rotulados de "idiotas úteis" pelo presidente.
Desta vez, o ministro da Educação [Abraham Weintraub] proibiu os professores de escolas públicas e universidades, e até mesmo estudantes e pais, de estimulares os protestos. Ele ameaçou que quem o fizesse assim mesmo teria que contar com consequências.
Os protestos contra e pró Bolsonaro foram expressivos, mas não tiveram tantas pessoas como os organizadores esperavam. Depois de cinco meses, o governo Bolsonaro ainda está sem uma coalizão efetiva no Congresso que permita avançar reformas e legislações importantes.
Bolsonaro acusa o Congresso e, acima de tudo, o bloco do chamado "Centrão", formado por vários partidos de tradição conservadora, de preservar a "velha política". Esta se basearia no sistema em que partidos fazem com que seu apoio político dependa de algumas compensações, tais como cargos no governo e a liberação de recursos financeiros para os distritos dos principais membros dos partidos.
Após cinco meses sob o novo governo, o Brasil parece estar tão dividido quanto antes da eleição. A paralisação no Brasil não é evidente apenas nas ruas e nas redes sociais, mas também na economia. Na quinta-feira, os dados econômicos do primeiro trimestre foram divulgados. Após um crescimento extremamente frágil nos últimos dois anos, o país computou um decréscimo de 0,2%.
Economistas apontam que a louvada reforma da Previdência, pela qual o governo Bolsonaro tem divergido com o Congresso, não é suficiente para melhorar a situação em médio prazo, mas que medidas adicionais são necessárias.
PV/ots
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