O Brasil na imprensa alemã (03/10)
3 de outubro de 2018Der Tagesspiegel - "Jair Bolsonaro: o pistoleiro do Brasil", 1º/10/2018
Jair Bolsonaro pode se tornar o próximo presidente do Brasil. [...] Ele lidera em todas as pesquisas para a primeira votação em 7 de outubro e certamente chegará ao segundo turno. Se ele vencer, isso não seria apenas um ponto de virada para o Brasil, mas, após a eleição de Donald Trump, um novo choque geopolítico.
Jair Bolsonaro combina a raiva, o medo e a insatisfação de muitas pessoas. Eles estão com raiva da classe política corrupta e têm medo do aumento da criminalidade. E sofrem com a miserável situação econômica, com 13 milhões de desempregados e uma taxa de desemprego de 12%. Muitos brasileiros estão cansados.
Até este final de semana, Bolsonaro fez campanha a partir do leito do hospital – através de redes sociais. Como Trump, ele despreza a mídia tradicional e usa o Facebook, Instagram e Twitter para espalhar sua mensagem. O atentado serviu para ele se apresentar ao mesmo tempo como agredido e agressor. Em uma das primeiras fotos tiradas no hospital, ele fez seu gesto favorito: as duas pistolas.
Frankfurter Allgemeine Zeitung - "A desmistificação do mito", 1º/10/2018
Uma semana antes do primeiro turno no Brasil, cresce uma oposição generalizada ao candidato de direita Jair Bolsonaro, que continua liderando as pesquisas. A investida chega atrasada – e ajuda sobretudo um candidato.
"Ele não", grita metade do Brasil, referindo-se ao candidato presidencial de extrema-direita Jair Bolsonaro. Neste final de semana, dezenas de milhares tomaram as ruas em várias cidades do país para protestar contra o deputado de 63 anos do Rio de Janeiro, notório por uma série de declarações misóginas, racistas e homofóbicas no passado. As manifestações foram lideradas por mulheres e movimentos de esquerda, mas atraíram manifestantes até o centro do espectro político.
De qualquer forma, a ida de Bolsonaro para o segundo turno dificilmente será abalada. Poucos dias antes da primeira votação, no próximo domingo, o deputado e capitão da reserva, que é aclamado por seus simpatizantes como "mito" e que louva a ditadura militar brasileira como uma época gloriosa, continua a liderar as pesquisas. A desmistificação do "mito" na mídia tradicional e nas redes sociais chegou, portanto, com muito atraso. Seus seguidores fiéis são de um jeito ou de outro resistentes às reportagens da mídia tradicional, cujas revelações eles classificam como fake news ou como uma campanha do establishment, que teme por sua própria sobrevivência política.
Quem sai ganhando com a campanha contra Bolsonaro não é o candidato favorito desse establishment, o conservador Geraldo Alckmin, mas Fernando Haddad, do partido de esquerda PT. Haddad tem, depois de Bolsonaro, as melhores perspectivas de ir para o segundo turno – e, num segundo turno contra Bolsonaro, boas chances de vitória. Haddad é o candidato substituto do antigo presidente Lula da Silva, que não pode concorrer por causa de uma condenação por corrupção e lavagem de dinheiro.
Badische Zeitung - "O Brasil diante de uma volta à direita", 02/10/2018
Para os candidatos do centro, que também existem na campanha eleitoral brasileira, mal existe espaço em meio à luta de emoções e polêmicas. A ambientalista Marina Silva, com sua prudente proposta de se concentrar em energia sustentável, não recebe o espaço de que precisa para ser levada a sério, seja na mídia nacional, seja na internacional. No momento, a candidata indígena parece não ter chance alguma na luta de homens brancos pela presidência.
Sobre os reais problemas do Brasil, ninguém fala: o país sofre com uma queda econômica. Os grandes projetos Copa do Mundo e Jogos Olímpicos de 2016, adquiridos ainda no governo Lula e planejados por [Dilma] Rousseff, não levaram o país para frente, mas o afundaram numa enorme lama de corrupção. Há alguns anos, o Brasil era visto como a próxima superpotência, mas a queda dos preços do petróleo e os erros estratégicos na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos anularam o progresso alcançado pelos programas sociais.
Tanto na esfera esportiva quanto financeira, a Copa do Mundo terminou em desastre para o Brasil, culminando no controverso impeachment de Dilma Rousseff pouco mais tarde. Isso foi o começo do que o Brasil vive hoje: o renascimento de uma extrema direita brasileira que, após os dois turnos de 7 e 28 de outubro – e independentemente da vitória ou não de Bolsonaro –, será mais forte do que jamais foi desde a ditadura militar.
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