O artista Günter Grass
Os livros do escritor alemão, morto em abril de 2015, são conhecidos mundo afora. Mas poucos sabem que o Prêmio Nobel de Literatura também foi um excelente pintor, escultor e desenhista.
Desenhos e capas de livro
Após a Segunda Guerra Mundial, Günter Grass iniciou uma formação de profissional de cantaria. Em seguida, ele estudou gravura e escultura em Düsseldorf. Durante toda a vida, ele se manteve fiel à arte e desenhava ele mesmo as capas de seus livros. Entre seus trabalhos gráficos e esculturas, estão ilustrações para o seu romance mais conhecido, "O tambor", de 1959.
Sempre desenhando
"Eu sempre estou desenhando, mesmo que não o esteja, por estar escrevendo ou não fazendo nada. E também ao desenhar, prosseguem-se as frases iniciadas em outro papel. A escrita elimina a lentidão ou a rapidez do tempo. Ao desenhar, encontra-se a expressão mais sucinta", filosofava Grass em 1979 em sua obra "Escrita e desenho".
"Linguado sob controle"
Após o livro "O linguado", de 1977, Grass fez a escultura em bronze "Linguado sob controle", como parte de uma série. O motivo foi a entrega do primeiro Prêmio Alemão do Livro, na Feira de Leipzig em 2002. Também há uma escultura dessa série na casa em que Grass vivia, em Behlendorf, no estado de Schleswig-Holstein, como também no museu Casa Günter Grass, em Lübeck.
Escritor ou desenhista?
Sobre a relação entre as atividades artísticas e as literárias, Grass escreveu certa vez: "Perguntas do público, como 'você é, em primeira linha, um escritor ou um ilustrador?', são tão compreensíveis quanto risíveis. Por isso, minha resposta só pode levar ao desenvolvimento lúdico de contradições, ou seja, longe da seriedade do 'isto ou aquilo'."
"Nas peles da cebola"
Em 2006, a autobiografia de Günter Grass "Nas peles da cebola" desencadeou um enorme debate. Nela, ele confessou ter sido membro da Waffen-SS, o braço militar da SS, a partir de 1944. A partir daí, os críticos passaram a questionar a integridade moral e a credibilidade do escritor. O autorretrato, desenhado em seu primeiro manuscrito do livro, mostra Günter Grass como soldado.
"A ratazana"
Em "A ratazana", de 1986, Günter Grass dá continuidade ao seu romance "O tambor". A escultura de bronze "Menina com ratazana" faz alusão à sua obra. No livro, o narrador comunica-se com uma ratazana. As fronteiras entre sonho e realidade desaparecem.
O eu e o outro
Em "Zunge zeigen" (sem versão em português), Grass relata suas impressões de uma viagem à Índia. Na capa do livro de 1988, ele desenhou a deusa hindu Kali. Ela é a deusa da morte e da destruição, mas também da renovação. No desenho, ela estende, em posição de cócoras, a língua para fora e joga os braços para o ar.
O último tango
Após o romance "Passo de caranguejo", uma pausa em seus escritos resultou para Grass num frenesi criativo de natureza artística. No livro ilustrado de poesias "Últimas danças", publicado em 2003, corpos balançam em harmonia com a música. O título alude ao próprio Grass, um habilidoso e apaixonado amante da dança.
Arte erótica
A sexualidade foi um grande tema para Grass. Em 2002, ele abordou o tema numa série de litografias com títulos traduzidos livremente como "Amor em agosto", "Choques intensos" ou "Depois de uma subida íngreme". Nelas estão representados casais de amantes copulando nas mais aventureiras e provocantes posições. Sobre esse tema, também há esculturas como aquela com o sugestivo título de "Ela domina".
Amor ao conto de fadas
Em seu recém-publicado livro "Palavras dos Grimm. Uma declaração de amor", Grass não escreve somente sobre o surgimento do primeiro dicionário alemão e sobre os irmãos Grimm, mas também sobre a própria vida. Pois o autor escreve, ao mesmo tempo, sempre sobre si mesmo. Em homenagem ao 200° aniversário do famoso escritor de contos de fadas Hans Christian Andersen, Grass desenhou o autor.