O apoio chinês para a Itália
20 de março de 2020Uma equipe de especialistas com médicos chineses e italianos está atualmente no norte da Itália, região particularmente afetada pela epidemia de coronavírus. Eles estão avaliando a situação no local e dando aconselhamento específico.
Marcello de Angelis, porta-voz da Cruz Vermelha Italiana disse à DW: "Os especialistas chineses conseguiram angariar muita experiência e isso é o que a Itália precisa urgentemente. A China alcançou um sucesso considerável no combate à epidemia até agora. Portanto, queremos cooperar com os especialistas chineses em nível internacional."
Há muito que existe uma estreita cooperação entre as seções da Cruz Vermelha na Itália e na China, acrescentou Angelis. Não é preciso explicar que numa crise tão grande, o parceiro é solicitado a aconselhar e ajudar.
Ajuda da China para outros países da UE
A primeira equipe de nove pessoas da China desembarcou em Roma na quinta-feira da semana passada. Também a bordo: 31 toneladas de equipamentos urgentemente necessários, incluindo respiradores, roupas e máscaras de proteção e medicamentos.
Os produtos foram doados em parte pelo governo chinês e em parte por empresas privadas. Uma segunda aeronave com pessoal e equipamento desembarcou em Milão na quarta-feira (18/03). A Itália não está sozinha, "ainda há pessoas que gostariam de ajudar a Itália", disse o ministro italiano das Relações Exteriores, Luigi Di Maio.
Novas remessas de ajuda com equipamentos médicos da China já chegaram à Espanha. Outras também são esperadas na França. No auge da epidemia na China, vários países da União Europeia (UE) forneceram 56 toneladas de equipamentos de primeira necessidade para o Império do Meio.
Thorsten Benner, diretor do Instituto de Política Pública Global (GPPi) em Berlim, enfatiza o aspecto positivo de a China estar fornecendo ajuda humanitária à Itália numa situação de emergência. "A China superou o pior. Agora há muita capacidade livre disponível para o resto do mundo."
Ao mesmo tempo, a China também tem obrigação, disse Brenner. "Porque é em grande parte culpa do governo chinês que a epidemia tenha sido capaz de se espalhar tanto." Somente algumas semanas depois de ser constatado, as autoridades chinesas informaram a população sobre o então desconhecido coronavírus.
"Nova Rota da Seda para a saúde"?
Alguns observadores temem que Pequim possa agora aproveitar a oportunidade para dividir a UE. Afinal de contas, a Itália foi o primeiro país da Europa Ocidental a aderir oficialmente à iniciativa "Nova Rota da Seda" de Pequim.
De acordo com o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, o chefe de Estado e líder do Partido Comunista da China, Xi Jinping, disse em conversa telefônica com o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, que os dois países são os "pilares de uma Nova Rota da Seda para a saúde."
Benner, do GPPi, afirmou considerar normal que a China também busque seus objetivos geopolíticos quando se trata de fornecer ajuda: "Outros países fariam o mesmo". Ele disse estar antes preocupado com o fato de os europeus não terem demonstrado solidariedade na atual crise.
O ministro italiano do Exterior, Di Maio, também se queixou disso na semana passada, afirmando que os vizinhos europeus não teriam oferecido ajuda comparável à da China. Roma "clamou por ajuda no caso de respiradores e máscaras", mas sem sucesso, criticou o ministro.
Itália irritada com entregas bloqueadas
Em jornais italianos, há até relatos de que o fornecimento de suprimentos médicos foi impedido na Alemanha. Uma entrega de 830 mil máscaras cirúrgicas, que uma empresa italiana havia encomendado à China, teria sido bloqueada na Alemanha na semana passada, embora a proibição de exportação de dispositivos médicos para combater a epidemia, imposta por Berlim em 4 de março último, não se aplique a mercadorias em trânsito.
Após negociações em nível diplomático, o fornecimento foi liberado, mas, segundo a empresa italiana, não pôde ser mais encontrado ‒ na Alemanha. Assim informou o jornal regional Il Giorno. E de acordo com o Corriere della Sera, mais de 190 milhões de máscaras de proteção foram bloqueadas por países vizinhos da Itália nas últimas semanas.
O cientista político berlinense Thorsten Benner disse ver prejudicada a credibilidade e a reputação da UE e da Alemanha: "A UE não conseguiu ajudar efetivamente a Itália, que atualmente é o país mais afetado. Em parte porque nós mesmos estamos mal preparados, mas a impressão que ficou entre os italianos é fatal. Muitos na Alemanha falam de uma comunidade europeia com um destino comum. Mas, quando o destino bate à porta, parece que não estamos ajudando nossos parceiros da UE."
Enquanto isso, a proibição alemã de exportação de produtos medicinais para o combate à pandemia de covid-19 foi relaxada para vizinhos da UE, como a Itália, e ajudas emergenciais também estão sendo enviadas de Berlim para Roma, mas "essa decisão chegou tarde demais, a impressão na Itália agora é extremamente negativa", avaliou Benner.
"Europeus precisam aprender com a crise"
Em conversa com a DW, Benner também mencionou o acesso de raiva do presidente sérvio, Aleksandar Vučić, que nesta semana condenou a solidariedade europeia como um "conto de fadas somente no papel". Segundo o presidente da Sérvia, seu país não recebeu nenhum material médico da UE para combater a epidemia e, assim, pediu ajuda chinesa.
A China entrega e também faz propaganda. A agência de notícias estatal Xinhua escreveu: "Se os apertos de mão não são mais válidos na Europa, a mão amiga da China pode fazer a diferença".
Benner lembrou o pedido feito pelo ex-ministro das Relações Exteriores da Alemanha Sigmar Gabriel, em 2017, de que a China respeitasse a "política de uma Europa única". Na época, Gabriel alertou Pequim para não prejudicar a solidariedade europeia. Segundo o cientista político Benner, o problema não está na tentativa de divisão pela China: "Países como a Alemanha devem finalmente investir mais em 'One Europe'."
No entanto, ele também diz estar otimista quanto ao futuro: "Ainda temos a chance de mostrar solidariedade, particularmente na área de reconstrução econômica. Cabe a nós aprender com essa crise."
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