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O aeroporto nazista que virou parque

1 de outubro de 2018

Tempelhofer Feld é atualmente um dos espaços verdes preferidos dos berlinenses – e palco de momentos marcantes da história da capital alemã.

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Pista de pouso hoje dá lugar a área de lazer no Tempelhof
Pista de pouso hoje dá lugar a área de lazer no TempelhofFoto: picture-alliance/dpa/M. Tödt

Um dos parques mais impressionantes de Berlim e preferido dos berlinenses não nasceu com a pretensão de ser uma área de lazer ao ar livre. O areal no bairro Tempelhof foi destinado a abrigar o aeroporto central da capital alemã, construído entre as décadas 1920 e 1930.

O aeroporto Tempelhof foi inaugurado em 8 de outubro de 1923 com o voo comercial que ligava Berlim à antiga Königsberg, atualmente Kaliningrado, exclave russo entre a Polônia e a Lituânia. Em 1930, o local já era o maior aeroporto da Europa em número de passageiros, com voos para 71 cidades, 25 fora da Alemanha.

Nesta época, o aeroporto era bem diferente. O prédio, que impressiona pelo tamanho, foi erguido durante o regime nazista e, neste período, foi usado como base militar.

O aeroporto com aviões nazistas em 1943
O aeroporto com aviões nazistas em 1943Foto: Archiv F.-Herbert Wenz, Lemwerder

No fim da Segunda Guerra Mundial, em abril de 1945, o aeroporto foi ocupado pelo Exército soviético e, em julho, entregue à administração americana. Durante a divisão de Berlim, o aeroporto foi um dos principais cenários de uma das mais graves crises da Guerra Fria.

Com o bloqueio de Berlim, entre junho de 1948 e maio 1949, no qual os soviéticos impediram o acesso à cidade por vias terrestres e fluviais, o abastecimento de Berlim Ocidental foi feito pelas Forças Aéreas dos Estados Unidos e do Reino Unido, nas linhas que ficaram conhecidas como ponte aérea de Berlim e pousavam no Tempelhof.

Neste período, quase 278 mil voos foram feitos para abastecer a cidade. Além de alimentos, os aviões traziam também combustível, máquinas e todo o tipo de bens de consumo necessários para a população. Além disso, cerca de 240 mil pessoas chegaram a ou deixaram Berlim Ocidental em voos conectando Tempelhof.

Com a criação dos dois Estados alemães e a separação definitiva do país, em 1949, o bloqueio foi levantado, e o local se tornou uma das principais portas de entrada de Berlim Ocidental. A partir de 1951, as companhias aéreas Pan American e Air France começaram a oferecer voos dali.

Dachterrasse des Terminalgebäudes des ehemaligen Flughafens Tempelhof in Berlin
Turistas no aeroporto histórico em 2015Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer

No comando do local desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a Força Aérea Americana devolveu o aeroporto à cidade em 1993. Dois anos mais tarde, o local foi tombado pelo patrimônio histórico.

Em 1996, com a decisão da construção de um novo aeroporto, Berlim optou por fechar os três antigos que estavam em funcionamento. O primeiro foi o Tempelhof, em 2008, reaberto como parque em 2010, assim como ele estava. Ele passou a ser chamado de Campo do Tempelhof (Tempelhofer Feld). Em 2014, numa consulta popular, a maioria dos berlinenses foi contra destinar algumas áreas ao longo do muro do parque para o setor imobiliário.

Em 2017, os abrigos montados no parque para refugiados: cerca de 2 mil pessoas foram abrigadas ali
Em 2017, os abrigos montados no parque para refugiados: cerca de 2 mil pessoas foram abrigadas aliFoto: picture alliance/dpa/B. von Jutrczenka

O espaço ganhou destaque na imprensa novamente em 2015, quando no auge da crise migratória, a prefeitura de Berlim decidiu abrigar refugiados nos antigos hangares. Cerca de 2 mil pessoas foram abrigadas lá.

Com mais de 300 hectares de área verde, o Tempelhofer Feld é um dos maiores parques localizados dentro de cidades do mundo.

Pessoalmente, tenho algumas ressalvas com o Tempelhof, há poucas árvores e, em dias de ensolarados, sombras fazem uma enorme falta. Porém, acho o parque bem curioso, devido às pistas de pouso e decolagem, e os antigos hangares e prédio administrativo são impressionantes.

Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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