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Tráfico de drogas no Peru

Steffen Leidel (jl)10 de maio de 2007

A máfia das drogas ameaça sufocar o Peru, diz a procuradora especial para assuntos de drogas, Sonia Medina, em entrevista à DW-WORLD. Ela luta contra moinhos de vento e tem 25 mil processos sobre sua mesa de trabalho.

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Procuradora Sonia Medina: vigiada por seguranças, 24 horas por diaFoto: Steffen Leidel

DW-WORLD: Qual a dimensão da problemática das drogas no Peru atualmente?

Sonia Medina: No que diz respeito ao tráfico de drogas, é preciso que se diga, que o Peru está vivendo um dos piores momentos de toda a sua história. Em 2007, a situação se agravou ainda mais. Isso pode ser explicado pelo fato de o tráfico ser visto como um crime normal. A respectiva legislação é fraca demais. Os infratores sempre foram penalizados de forma muito complacente pelos promotores públicos e juízes. Há simplesmente muito dinheiro a se ganhar no comércio de drogas. Isso gerou muita corrupção e violência.

O Peru está a caminho de se tornar um Estado das drogas?

Eu não iria tão longe. Mas o tráfico está nos sufocando: ele atinge todas as esferas da sociedade, inclusive as mais altas. Os traficantes encontraram um solo fértil no Peru. Além de termos, com a planta de coca, a matéria-prima da cocaína, há pouco controle sobre o que se precisa para a produção da droga. Pelo menos o governo reconheceu isso agora.

Como se manifesta o poder da máfia das drogas?

A máfia é visível em todo lugar. No momento, tenho sobre a minha mesa de trabalho 25 mil processos sobre delitos relacionados com as drogas. Antigamente, só a pasta de coca, a substância básica para a produção da cocaína, era produzida no Peru. Ela era levada até a Colômbia, por exemplo, e só então processadas em cocaína pura. Hoje a cocaína é produzida diretamente no Peru.

Quem controla o mercado?

Ainda não temos cartéis peruanos. Mas é claro que há integrantes dos cartéis internacionais que operam no Peru. Refiro-me aos cartéis do México, da Colômbia, da África do Sul e também da Ásia.

O conflito entre o governo e os plantadores de coca (cocaleros) vem se intensificando. O governo voltou a destruir lavouras de coca. Em que medida os cocaleros estão envolvidos com os traficantes?

Eu pessoalmente acredito que há uma espécie de ligação umbilical entre os produtores de coca e os traficantes. No entanto, os traficantes exploram a falta de informação e a pobreza dos cocaleros. É só olhar para a maioria desses agricultores: eles não são milionários. Eles mal conseguem sobreviver. A única explicação para o interesse que eles têm em plantar coca é que a máfia das drogas esteja por trás, forçando-os a fazer isso. E o que o Estado faz por essas pessoas? Até agora, muito pouco foi feito para tirar os agricultores desse beco sem saída. Ele precisa dar para essas pessoas o que um cidadão deste país merece, seja moradia ou educação.

Foi pura negligência ou por causa da corrupção que o Estado fez tão pouco?

Por causa dos dois. Há inércia, ineficiência, corrupção. Veja: a folha de coca em si não é droga, mesmo que ela contenha substâncias alcalóides. Ela precisa ser processada. Precisa-se de lixívia, ácido sulfúrico, querosene e até de cimento para a produção de cocaína. O comércio desses ingredientes poderia ser controlado. Se isso não aconteceu até agora, é porque não se quis isso.

Por que a senhora aceitou este cargo, no qual tem que ser vigiada por três seguranças 24 horas por dia.

Eu investigo a vida de pessoas que até então eram consideradas intocáveis. Eu sacudi as estruturas da máfia. Isso obviamente me transforma em alvo. É verdade que eu simplesmente não posso mais ir ao cinema em paz. Mas eu quero fazer algo de bom pelo meu país. Além disso, em tudo há um risco e nós não podemos viver em função do medo. Essas drogas atingem nós todos, inclusive a Alemanha. Eu tenho filhos e quero que eles cresçam num bom ambiente.

Para isso, seus filhos também precisam de seguranças.

É verdade, meus filhos também já foram ameaçados. E isso já gerou conflitos familiares. Eles querem o espaço deles, a liberdade, são adolescentes. Mas vamos dar um jeito.