"Não podemos permitir que a ordem de paz se desmanche"
8 de maio de 2020Com a capitulação incondicional da Wehrmacht (Forças Armadas nazistas) perante os Aliados, terminava no dia 8 de maio de 1945 a Segunda Guerra Mundial na Europa, que durou quase seis anos e havia sido deflagrada pela Alemanha de Adolf Hitler.
Em vários pontos da Europa, eventos lembraram os 75 anos do fim do conflito nesta sexta-feira (08/05), mas sem as amplas celebrações que haviam sido planejadas, devido à pandemia do novo coronavírus e às medidas impostas para conter a disseminação da doença.
Na Alemanha, a cerimônia com 1.600 convidados que reuniria chefes de Estado e de governo deu lugar a um evento menor, em que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, depositou uma coroa de flores na Neue Wache em Berlim, principal memorial do país para homenagear as vítimas de guerras e ditaduras.
Um chamado Staatsakt, ou cerimônia com honrarias de Estado, do tipo só havia sido realizado uma vez para marcar o dia 8 de maio, em 1995, sob o presidente Roman Herzog.
Nesta sexta-feira, participaram ainda do evento reduzido na Alemanha o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, e os presidente do Bundestag (Parlamento alemão), Wolfgang Schäuble, do Bundesrat (conselho dos estados), Dietmar Woidke, e do Tribunal Constitucional Federal, Andreas Vosskuhle.
Em discurso, Steinmeier apelou à população alemã para que demonstre mais responsabilidade em relação à Europa e ao mundo. Ele lembrou o juramento feito após o fim da guerra na Alemanha: "Nunca mais." "Em nenhum outro lugar, essa frase é mais significativa do que na Europa. Precisamos manter a Europa unida", disse Steinmeier.
O presidente alemão alertou ainda que, se essa premissa não for cumprida, "também durante e após esta pandemia", os alemães não serão dignos do 8 de maio. "Se a Europa fracassar, fracassará também o 'nunca mais'", disse o presidente, destacando que, após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha se transformou de uma ameaça à ordem mundial a um incentivador dela. "Não podemos permitir que essa ordem mundial de paz se desmanche diante de nossos olhos."
Steinmeier ainda pediu maior cooperação internacional, também em meio à pandemia de coronavírus. O país ajudou a organizar recentemente uma reunião de países que doaram bilhões de euros para financiar uma vacina contra o coronavírus, da qual os Estados Unidos não participaram.
A célebre frase do ex-presidente Richard von Weizsäcker, que chamou o 8 de Maio de "Dia da Libertação", deve ser reinterpretada, afirmou Steinmeier. Na época, a declaração "ele nos libertou do sistema desumano da tirania nacional-socialista" tinha como contexto a relação da Alemanha com o passado. Hoje em dia, segundo Steinmeier, é preciso pensar no futuro. "Naquela época, fomos libertados. Hoje, precisamos libertar a nós mesmos", discursou. "Fomos libertados – libertados para assumir responsabilidade sobre nós mesmos."
Steinmeier ainda lembrou as vítimas de recentes ataques extremistas em Hanau, Halle e Kassel, apontando que é preciso resistir a um novo nacionalismo, ao "fascínio pelo autoritário", à desconfiança, ao isolamento entre as nações, à difamação e à xenofobia. "Essas manifestações não são nada mais do que os velhos fantasmas do mal com nova roupagem."
De forma inédita, foi declarado feriado na capital federal, Berlim. O partido A Esquerda pediu no Bundestag que o governo federal transforme o 8 de Maio num feriado nacional, mas a reivindicação não obteve maioria no Parlamento na quinta-feira. Apenas o Partido Verde aprovou a medida, além do A Esquerda.
A líder da legenda no comitê de Relações Exteriores do Bundestag, Sevim Dagdelen, depositou na quinta uma coroa no Monumento Soviético no Tiergarten de Berlim e disse que sentiu falta de um gesto similar por parte de Merkel. "Teria sido um sinal importante de reconhecimento e apreciação", afirmou.
Nesta sexta-feira, na França, o presidente Emmanuel Macron depositou uma coroa de flores aos pés da estátua do general Charles de Gaulle em Paris, antes de participar de uma cerimônia em homenagem ao 8 de Maio no Arco do Triunfo, onde reacendeu simbolicamente a "chama eterna". De Gaulle liderou as tropas francesas durante a guerra a partir do exílio em Londres, depois que a França havia sido invadida pelos alemães em 1940. A França foi libertada em 1944.
No Reino Unido, a rainha Elizabeth 2ª deverá fazer um discurso para marcar a data às 21h locais, horário exato em que seu pai, o Rei George 6º, se dirigiu à população pelo rádio, há 75 anos.
RK/dpa/rtr/ap
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