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"Não haverá impunidade", diz 1ª presidente mulher da RCA

Dirke Köpp/Kossivi Tiassou (rc)28 de janeiro de 2014

Catherine Samba-Panza assume interinamente o poder com o desafio de restaurar a paz na República Centro-Africana, que passa por violenta crise há quase um ano. Em entrevista à DW, ela promete reconciliação nacional.

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Foto: Eric Feferberg/AFP/Getty Images

Ela é a primeira mulher a ser presidente da República Centro-Africana (RCA). Catherine Samba-Panza é a sucessora de Michel Djotodia, que renunciou em janeiro passado, sob pressão da comunidade internacional. O motivo da saída foi sua incapacidade de por fim à violência no país, instaurada após o golpe, em março 2013, que derrubou François Bozizé.

Logo após ser escolhida para ocupar o cargo interinamente, Samba-Panza lançou um apelo para o cessar-fogo: "Peço a que todos ajudem na reconstrução de nossa pátria." Ela terá a árdua tarefa de trazer paz aos conflitos sectários, além de promover o retorno de centenas de milhares de refugiados ao país e fazer com que o governo volte a funcionar dentro da normalidade.

A nova presidente, de 59 anos, nasceu no Chade e estudou Direito na França, onde seus dois filhos ainda vivem. Antes de entrar para a política, trabalhou como advogada corporativa e atuou em uma organização de defesa dos direitos das mulheres. Após a derrubada de Bozizé pelos rebeldes, Samba-Panza se tornou prefeita da capital da RCA, Bangui.

Deutsche Welle:A senhora tem um ano para organizar as eleições na República Centro-Africana. Acha que isso pode ser feito?

Samba-Panza: Esse foi o prazo que a comunidade internacional estabeleceu para nós. É nosso dever cumpri-lo, assim como honrar os compromissos que nós mesmos estabelecemos há um ano em Libreville. A prioridade será assegurar que a autoridade encarregada de organizar as eleições tenha condições plenas de realizar seu trabalho.

Quando a senhora se elegeu, muitos esperavam o fim da violência. No entanto, os confrontos continuaram. O que a senhora pretende fazer para pôr fim aos conflitos?

Logo após a minha eleição, diversos grupos sinalizaram apoio ao meu governo. Tanto os anti-balaka quanto os seleka declararam que estariam dispostos a interromper os confrontos e me ajudar em minha missão. Tive encontros com os líderes das duas facções, e eles lamentaram tudo o que aconteceu. Mas os movimentos ganharam a adesão de muitas pessoas, e agora não podem mais ser controlados.

Vim para fazer um apelo ao bom senso deles, para fazê-los entender que, apesar de todos terem suas exigências, após a minha eleição elas perderam suas justificativas. Devemos, sim, trabalhar juntos pelo nosso país. Mas isso não significa que haverá impunidade. Aqueles cuja participação nos massacres venha a ser comprovada serão processados judicialmente.

Alguns dizem que a senhora deve o seu novo cargo à influência da França.

Eu não vejo dessa forma. Na verdade, há um movimento composto por homens, mulheres e jovens de todas as esferas, que me levou ao poder. Há anos eles vêm tentando me colocar no cargo mais alto do país, apesar da minha resistência.

Após a saída do presidente Djotodia, esse movimento ganhou força. Como resultado, eu passei por avaliações detalhadas por parte da França e de países da região, que me consideraram elegível e me encorajaram a concorrer à presidência.

A senhora nomeou André Nzapayeke como primeiro-ministro. Quais são os critérios para a escolha dos membros do gabinete?

São os mesmos utilizados na escolha do primeiro-ministro: competência e sinceridade. Mas sejamos realistas: estamos em um contexto político onde algumas sensibilidades devem ser levadas em conta. Aqueles que são excluídos acabam frustrados e podem sentir-se inclinados a pegar em armas novamente. Se a minha intenção é unificar o país, tenho que integrar todas as forças da nação e levar em conta certas sensibilidades.

Seu primeiro-ministro não é apenas um banqueiro, mas também um antropólogo social. Foi uma coincidência ou trata-se de uma escolha intencional?

Eu analisei com cuidado o currículo dele, sua personalidade e experiência. Como antropólogo social, ele compreende os problemas da República Centro-Africana. Nzapayeke trabalhou por muito tempo no Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e atualmente trabalha para o Banco de Desenvolvimento dos Estados da África Central (BDEAC).

Ele conhece o setor bancário internacional, e nós vamos aproveitar essa experiência. Além disso, ele não pertence a nenhum partido político. Dessa forma, poderemos tomar nossas decisões sem maiores restrições.

A senhora pretende criar um ministério para a reconciliação, assim como foi feito no Mali?

Sim, mas não haverá um ministro que atue com exclusividade na reconciliação nacional. Ele terá um departamento voltado especialmente para esse tema. Devemos assegurar o objetivo de chegar a uma reconciliação, designando essa tarefa a um departamento especial.

Líderes religiosos da RCA vêm há meses trabalhando para promover a reconciliação, até agora com pouco sucesso. De onde vem esse ódio profundo?

No momento, lidamos com forças que estão fora de controle. Aqui em Bangui, e em todo o país, existem iniciativas de incentivo à reconciliação entre as comunidades cristãs e muçulmanas. No momento, ainda não somos capazes de controlar essas forças. Estamos em conversações com os anti-balaka para que eles restaurem a ordem em suas fileiras.

Existem propostas de levar de volta às províncias aqueles que de lá vieram para se juntar às milícias. Essas pessoas não têm o que fazer lá, não têm dinheiro para se sustentar e acabam se tornando milicianos. Essa situação deve ser colocada novamente na direção certa. Com a ajuda da comunidade internacional, iremos estabelecer as forças de defesa e de segurança, que deverão restaurar a ordem no país.