Novo "polo de poder", Brics busca aproximação com América do Sul
17 de julho de 2014Depois da reunião em Fortaleza, a 6ª Cúpula do Brics continou em Brasília nesta quarta-feira (16/07) e, além dos líderes do grupo, contou com a presença de 11 presidentes da América do Sul. Para especialistas, a reunião ampliada é um sinal de que o Brasil continua comprometido com a região e também de um esforço para o estabelecimento de uma nova ordem multipolar.
Roberto Menezes, do Instituto de Relações Exteriores da Universidade de Brasília (UnB), vê a relação entre Brics e América do Sul como uma oportunidade para o Brasil reforçar a liderança na região, mas ressalva que a característica do Brics é o pragmatismo e que não haveria espaço para outros membros.
"O grande significado dessa reunião é a ideia de que o Brasil se apresenta para a região compartilhando o espaço decisório que é o Brics. Mas o Brasil não tende a acolher novos países, de tal modo que a coalizão se amplie muito e vá perdendo seu foco", avalia Menezes.
Integração sul-americana
O encontro dos 16 líderes, fechado à imprensa, começou de manhã e se estendeu pela tarde. Todos os presentes tiveram oportunidade de falar, após o discurso de abertura da presidente Dilma Rousseff. Segundo fontes do Ministério das Relações Exteriores, Dilma focou no tema central da cúpula deste ano – crescimento inclusivo: soluções sustentáveis – e detalhou programas sociais brasileiros.
"A integração sul-americana e as iniciativas comuns do Brics são parte de um mesmo processo, que busca um desenvolvimento justo e equilibrado e uma projeção global autônoma e soberana", disse a presidente no discurso de abertura, de acordo com a transcrição disponibilizada aos jornalistas. "Reitero a absoluta prioridade que o Brasil atribui à integração da América do Sul", completou.
Para Sergio Veloso, pesquisador do Brics Policy Center, o encontro ampliado desta cúpula – a exemplo do que aconteceu em Durban, em 2013, com a participação da União Africana – mostra uma tendência coerente com a atuação do Brics, a de ser um grupo fechado, mas também buscar a constituição do que chama de "uma nova multipolaridade".
"Neste ano, isso [o encontro ampliado] atinge outro patamar com o lançamento do banco [de desenvolvimento], que institucionaliza essa busca por consolidar o Brics como novo polo de poder", diz. "A gente só não sabe até onde isso vai ser bem sucedido", pondera.
Argentina e a crise
Há alguns meses, uma possível entrada da Argentina no bloco vem sendo motivo de especulações. Ainda em Fortaleza, o presidente russo, Vladimir Putin, saudou a iniciativa argentina de aproximação, mas descartou uma análise prática da entrada do país no bloco. "Primeiro, é preciso ajustar os trabalhos de vários formatos de cooperação já existentes no âmbito da união", disse.
Ao falar à imprensa após a reunião, a presidente argentina, Cristina Kirchner, reclamou da atuação dos chamados "fundos abutres", que estariam tentando "destruir a reestruturação da dívida". Ela afirmou ter recebido apoio de outros presidentes da região. O líder colombiano, Manuel dos Santos, disse, em coletiva, que a situação pela qual passa a Argentina é "irracional".
Para Menezes, a procura pela Rússia – e mesmo pela China – no momento de crise é "um meio de quebrar esse bloqueio parcial [ao qual a Argentina estaria submetida] no sistema internacional". Já a presença no bloco, segundo ele, não receberia o apoio do Brasil.
Ele também não acredita que a Argentina venha a ser uma prioridade quando o banco de desenvolvimento e o fundo monetário alternativo do Brics – cuja criação foi anunciada na cúpula desta semana – estejam em funcionamento.
"Começar com a utilização do fundo para um país de fora pode atabalhoar o início de sua formatação", argumenta, apesar de indicar que o Brasil tem trabalhado pela Argentina nos bastidores.