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Após as eleições

29 de setembro de 2009

O novo governo alemão, formado por uma coalizão entre CDU/CSU e FDP, poderá dar novos rumos à política econômica do país. Há temores de que as forças liberais queiram cortar drasticamente benefícios sociais.

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Merkel e Westerwelle: pode haver menos harmonia do que pareceFoto: AP

Uma coligação entre os conservadores cristãos (CDU/CSU) e FDP (Partido Liberal Democrata) não significa nada de novo na Alemanha. No entanto, os liberal-democratas estiveram no poder pela última vez há 11 anos, num momento em que a CDU era um partido de muito peso e o FDP um parceiro consideravelmente minoritário.

Hoje, a situação é outra: os votos de 15% dos eleitores dão aos liberais uma autoconfiança para a qual os conservadores da CDU terão que estar preparados. Guido Westerwelle, líder do FDP, não deixa dúvidas a esse respeito.

"Não estou de acordo com muita coisa que a CDU defende e quer, como, por exemplo, quanto ao tema 'mais coragem para impostos justos', ou quando se trata de colocar um fim a uma política burocrática e catastrófica para o sistema de saúde, ou em relação à disciplina nos gastos públicos. Mas para isso estamos aí, para mudar", diz categórico Westerwelle.

Redução tributária

Entre a CDU e o FDP há um consenso básico em relação a assuntos de ordem fiscal ou financeira. Em sua campanha eleitoral, a CDU e a CSU também prometeram uma redução dos impostos em duas fases, poupando dos contribuintes até 15 bilhões de euros. Angela Merkel, presidente da CDU (União Democrata Cristã) e chanceler federal, é, contudo, cautelosa ao falar sobre o assunto.

"Já que a política econômica é um pouco uma questão de psicologia, deveríamos, bem de início, deixar claras as condições fiscais para esse próximo período legislativo. Disso faz parte a redução do imposto de renda, a disponibilidade de verificar se as regras para o imposto de transmissão de patrimônio são realmente justas, a fim de que a transição empresarial de uma geração a outra possa se dar. Disso faz parte ainda discutir se a reforma tributária para pessoas jurídicas em tempos de crise pode acentuar essa crise ou não", ponderou a premiê.

Certificar-se primeiro

Verificar é o termo central neste contexto. Merkel quer, a princípio, se certificar do que será necessário e possível nos próximos anos. Muita coisa vai pesar sobre o orçamento público, já que o Estado está afundado em dívidas. Os governos federal, estaduais e municipais terão que assumir uma dívida adicional de aproximadamente 100 bilhões de euros somente no próximo ano. De 2011 a 2013, serão mais 200 bilhões.

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Endividamento cada vez maior do Estado é preocupanteFoto: DWMontage

Guido Westerwelle, líder do FDP, não contesta essa situação. Seu partido, porém, tem uma ideia exata de onde existe, na Alemanha, possibilidade de redução de gastos. "Temos, no país, tantos recursos nos cofres públicos. Só há muito desperdício. O problema das finanças alemãs é, acima de tudo, o fato de que os gastos aumentam de forma galopante e muito mais rápida que a receita. Isso tem que ser revertido."

Onde cortar?

Mas onde exatamente o FDP pretende economizar? Hoje já há temores de que os liberais queiram cortar os gastos públicos, principalmente reduzindo benefícios sociais. Michael Sommer, presidente da central sindical DGB, alerta a CDU para que isso não ocorra.

"Os partidos CDU/CSU foram também eleitos por muitos trabalhadores, o mesmo aconteceu com Merkel. E ela não foi eleita para que agora a coligação CDU/CSU-FDP faça uma política pró-especuladores e avessa aos trabalhadores. A questão agora é tirar esse país da crise, pois continuamos nela", resume Sommer.

Isso não é negado pelos partidos da atual coalizão. Tanto a CDU quanto o FDP defendem um crescimento econômico, a fim de salvar o país da crise. Isso não significa, contudo, que o novo governo vá aprovar novos pacotes de auxílio à conjuntura.

O crescimento deverá vir do empresariado, impulsionado pela redução de impostos e pela desburocratização. Além disso, de acordo com Merkel, deverão ser tomadas medidas como, por exemplo, programas de crédito do banco estatal de desenvolvimento (KfW) e uma ampliação das garantias estatais de exportação.

Apoio à conjuntura

"Não posso excluir a possibilidade de que ainda tomemos medidas de apoio à conjuntura neste setor, mas não vejo no momento nenhum grande programa, como uma reedição do bônus para a venda de carros velhos ou a prorrogação da redução da jornada de trabalho", afirmou Merkel.

As principais associações de empresários se mostraram, em suas primeiras reações, satisfeitas com os propósitos do futuro governo. Segundo Hans-Peter Keitel, presidente da Confederação da Indústria Alemã, é preciso esgotar todas as possibilidades de redução de impostos. Para ele, no entanto, igualmente importante é que o Estado recupere sua estabilidade financeira.

"Precisamos trabalhar juntos para consolidar o orçamento e isso se dá com um planejamento para os setores de educação, pesquisa e desenvolvimento e com um crescimento econômico geral. Para isso, vamos trabalhar e nos empenhar", promete Keitel.

Essa meta será perseguida também num simpósio organizado pela Câmara Alemã da Indústria e Comércio (DIHK), onde serão discutidas medidas concretas para solucionar a crise, como: maior flexibilização do mercado de trabalho, afrouxamento das leis que garantem a segurança no emprego e fomento a contratos temporários de trabalho.

Além disso, dizem os empresários, a regulamentação dos mercados financeiros deveria ser conduzida com discernimento, a fim de se evitar um entrave no setor de crédito.

Autora: Sabine Kinkartz (sv)
Revisão: Augusto Valente