Novo choque depois do estudo Pisa
1 de novembro de 2002A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) atesta à Alemanha, em seu relatório anual sobre a situação do ensino, déficits em todos os níveis do sistema escolar, desde o pré-primário até a universidade.
Entre os jovens que nascem num determinado ano na Alemanha, apenas 37% concluem o segundo grau, adquirindo a habilitação para um estudo superior. A média nos países que compõem a OCDE já chega a 64%.
O mesmo descompasso se registra quando se trata de fazer e concluir um curso superior: na Alemanha, 30% dos componentes de uma geração começam um estudo universitário e apenas 19% adquirem um diploma. Em países como a Finlândia, Nova Zelândia e Suécia, a taxa dos que vão para a universidade chega a 60-70%. A média dos que concluem um curso superior, nos países da OCDE, é de 26%.
Investir nos estudos compensa
A Alemanha só teria a ganhar com um maior empenho neste setor. O estudo comprova claramente que existe uma correlação entre o desemprego e o nível de instrução. Quanto melhor a formação de uma pessoa, maior sua chance de conseguir e manter um emprego.
A própria ministra da Educação da Alemanha, Edelgard Bulmahn, ressalta que apenas 3,4% das pessoas que têm um diploma universitário estão desempregadas, enquanto a taxa sobe para 15,6% entre aqueles que não têm uma formação profissionalizante.
As chances de ganhar bem também sobem, quando se tem um diploma: profissionais do sexo masculino entre 30 e 44 anos, com curso universitário completo, podem chegar a ganhar 60% mais do que os não acadêmicos.
A Alemanha está ameaçada de uma falta de mão-de-obra de alto nível, adverte Andreas Schleicher, autor do estudo da OCDE, mesmo considerando que o país forma mais técnicos e operários especializados por meio de cursos profissionalizantes regulamentados do que outros países em média.
Investimentos no ensino fundamental são insatisfatórios
O que a Alemanha investe em jardins-de-infância e nas escolas primárias fica muito abaixo da média internacional, afirma o estudo. Em 1999, por exemplo, a Alemanha investiu por aluno da escola primária 3818 dólares, enquanto a Dinamarca investiu 6721 dólares, e a Áustria, 6568 dólares.
Chama a atenção também o fato de que nos primeiros anos escolares, os alunos têm menos horas-aula (752 por ano) do que a média na OCDE (829 por ano). Nas séries subseqüentes, porém, a carga horária dos alunos vai se equiparando.
Falta motivação e incentivo
A ministra Bulmahn declarou-se abalada com o fato de grande parte dos alunos ter feito uma avaliação muito crítica do clima reinante nas aulas. Apenas 41% dos estudantes de 15 anos acham que os professores estão realmente interessados no desenvolvimento individual dos alunos. No Reno Unido, Irlanda e Portugal, por exemplo, 70% dos alunos estão satisfeitos com seus professores.
O relatório confirma ainda deficiências já apontadas pelo estudo Pisa: na Alemanha falta fomento ao indivíduo, e crianças de famílias desprivilegiadas têm dificuldade de integração no sistema de ensino.
Para a realização do relatório, os sistemas de ensino dos países da OCDE foram comparados com os de outras nações por meio de diversos indicadores.