Biblioteca da Unesco dá acesso à ciência
18 de novembro de 2014"Saber é poder", diz um ditado popular. Aplicado à atual sociedade de informação, isso significa que para quem tem um bom acesso ao conhecimento, abrem-se novas oportunidades de participar na definição do mundo.
Estimulada por tal princípio, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou a biblioteca digital World Library of Science (WLoS). Apoiada pela prestigiada revista americana Naturee pela empresa farmacêutica Roche, essa "biblioteca mundial das ciências", oferece acesso gratuito a artigos científicos, livros e outros materiais didáticos em língua inglesa.
Atualmente, compõem o banco de dados cerca de 300 artigos de referência, 25 livros e 70 vídeos, dedicados a temas como energia alternativa, genética e doping. A oferta deverá ser ampliada nos próximos meses.
Ciência como motor da prosperidade
Durante a apresentação da biblioteca virtual, em Paris, a diretora geral da Unesco, Irina Bokova, lembrou da missão da organização internacional, de promover a igualdade de oportunidades a todos no mundo. Segundo ela, a meta central da WLoS é reduzir as disparidades de acesso ao saber, existentes entre as diferentes regiões.
"O mundo precisa de mais ciência e de mais cientistas, para poder lidar com os desafios atuais", ressaltou Bokova, acrescentando que a ciência é "o motor da prosperidade". Por essa razão, a biblioteca digital visa ajudar especialmente professores e alunos de ciência dos países em desenvolvimento.
Meta da biblioteca é também promover tecnologias de acesso livre (open access) na área da educação, assim como o desenvolvimento de comunidades de estudantes e docentes em todo o mundo. Nesse sentido, a oferta não é apenas um arquivo científico online, mas também uma plataforma interativa que oferece aos usuários a capacidade de se contatarem, trocar ideias e se organizar em grupos de aprendizagem e discussão.
Sinal importante
"A internet permite acesso global a dados de toda espécie. Com a World Library, a Unesco tenta reduzir o fosso social entre os digitalmente privilegiados e outros que não têm acesso à informação", diz Jessica Einspänner-Pflock, pesquisadora de mídia da Universidade de Bonn, em entrevista à DW. "Assim, a organização mostra que está interessada de forma decidida na produção de uma sociedade moderna do conhecimento."
Einspänner-Pflock acha especialmente interessante a natureza interativa da WLoS. Trata-se de garantir que "a informação chegue ao lugar certo". "O conhecimento se gera a partir de redes e, no caso da biblioteca digital, os usuários são diretamente incentivados a entrar em contato entre si."
A pesquisadora considera um sinal extremamente importante uma organização respeitada internacionalmente como a Unesco querer explorar as possibilidades oferecidas pela internet para alcançar gente em todo o mundo através do conhecimento.
Na internet existem há muitos anos plataformas em que universidades e bibliotecas oferecem acesso a periódicos, como o arquivos online americanos JSTOR e Project MUSE, ou o alemão DigiZeitschriften. Estas plataformas operam segundo um modelo de assinatura: quem paga mais, tem acesso a um número maior de artigos de referência.
Projeto com apoio privado
Será que a biblioteca mundial da Unesco, com sua oferta ainda bastante modesta, pode ser concorrência para plataformas muito melhor financiadas? "A biblioteca mundial não tem que substituir nada", responde Jessica Einspänner-Pflock. "Aqui a questão não é concorrência, mas, na melhor das hipóteses, cooperação. Seria interessante, claro, uma espécie de fusão das diferentes plataformas."
Ela ressalta que o especial da WLoS permanece sendo as possibilidades de conexão em rede que oferece. "Mesmo que os usuários conversem na plataforma sobre outros arquivos científicos online, está tudo bem. O importante é a conectividade."
A World Digital Library da Unesco e da Biblioteca do Congresso dos EUA já está online desde 2009. Seu arquivo acessível gratuitamente contém uma ampla gama de livros, manuscritos, mapas, fotos, filmes e documentos de áudio, todos histórica e culturalmente significativos.
Jessica Einspänner-Pflock não vê problema no fato de a biblioteca científica online ser patrocinada por uma empresa farmacêutica. "Há dentro da Unesco mecanismos de controle suficientes para evitar abusos. E por que uma empresa privada não deveria apoiar um projeto importante como essa biblioteca? Isso pode até se tornar um exemplo para outras empresas", argumenta.