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No G7, Lula defende taxação de super-ricos e controle de IA

14 de junho de 2024

Presidente brasileiro também apontou "inoperância" de fóruns internacionais diante das guerras em Gaza e na Ucrânia e fez crítica velada à política migratória da UE, lamentando mortes nas travessias do Mediterrâneo.

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Um homem branco grisalho e uma mulher loira posando para foto
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva posa para foto com a primeira-ministra italiana e anfitriã da cúpula do G7, Giorgia MeloniFoto: Guglielmo Mangiapane/REUTERS

Falando a líderes do G7 reunidos na Itália nesta sexta-feira (14/06), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a regulação da inteligência artificial e a criação de um imposto global para os super-ricos, como forma de combater desigualdades, além de fazer críticas a órgãos internacionais e à política migratória da União Europeia (UE).

Lula participa do encontro na qualidade de representante do G20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo e cuja presidência rotativa é do Brasil em 2024. Já o G7 congrega as principais potências industriais do Ocidente: Estados Unidos, Alemanha, Japão, Itália, França, Canadá e Reino Unido.

"Já passou da hora de os super-ricos pagarem sua justa contribuição em impostos. Essa concentração excessiva de poder e renda representa um risco para a democracia." Essa proposta já foi apresentada pelo Brasil no início deste ano, durante as reuniões ministeriais do G20, e foi endossada pela França e Alemanha.

Na Europa até o sábado, quando termina a cúpula do G7, Lula terá ainda reuniões bilaterais com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Ele já se encontrou com o presidente da França, Emmanuel Macron, e com o papa Francisco.

Presidente Lula e papa Francisco se apertam as mãos
Lula cumprimenta o papa Francisco durante encontro na ItáliaFoto: Vatican Media/REUTERS

Africanos mortos a caminho da Europa são "potencial desperdiçado"

Lula, que tem a ambição de se projetar como líder do Sul Global, também fez um aceno à África ao ressaltar que os países africanos são "parceiros indispensáveis" no enfrentamento de desafios globais. "Com seus 1,5 bilhão de habitantes e seu imenso e rico território, a África tem enormes possibilidades para o futuro", afirmou.

O continente é um dos focos da cúpula do G7 na Itália, país que apresentou um plano de 5,5 bilhões de euros (R$ 31,7 bilhões) em investimentos para ajudar a controlar os fluxos migratórios.

O governo da italiana Georgia Meloni foi eleito sob a promessa de conter a chegada à Itália de imigrantes que tentam chegar à Europa cruzando o Mar Mediterrâneo em barcos precários. 

Meloni restringiu as atividades dos navios de ajuda aos migrantes, proibindo-os de fazer mais de um resgate em cada saída para o mar e obrigando-os a desembarcarem em portos designados pelas autoridades, normalmente em locais longínquos. 

Foi nesse contexto que Lula lamentou as mortes de imigrantes africanos no Mediterrâneo – uma crítica velada não só à Itália, mas também à União Europeia, que cada vez mais tem se esforçado para conter esses fluxos.

"A força criativa de sua juventude não pode ser desperdiçada cruzando o Saara para se afogar no Mediterrâneo. Buscar melhores condições de vida não pode ser uma sentença de morte", censurou o mandatário.

Um agente olha para baixo em um barco cheio de imigrantes negros
Migrantes africanos em bote a caminho da Itália são interceptados pela guarda tunisiana; UE tem buscado colaboração com outros países para deter fluxo migratório (foto de arquivo) Foto: Hasan Mrad/ZUMA Wire/IMAGO

Guerra em Gaza é "vingança"

Ao comentar a situação na Ucrânia e na Faixa de Gaza, Lula acusou as instituições de governança de "inoperância" perante conflitos e de perpetuarem "privilégios".

Mantendo-se fiel à linha de política externa do Itamaraty, que apregoa o multilateralismo, Lula é crítico à estrutura do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), principal fórum internacional para a contenção de conflitos, cujas deliberações têm sido travadas por bloqueios mútuos de Estados Unidos e Rússia, dois dos cinco membros permanentes com poder de veto, ao lado de China, França e Reino Unido.

Segundo o brasileiro, Israel transformou "o legítimo direito de defesa [....] em direito de vingança". "Estamos diante da violação cotidiana do direito humanitário, que tem vitimado milhares de civis inocentes, sobretudo mulheres e crianças."

Em relação à Ucrânia, Lula voltou a insistir em uma negociação que envolva tanto Kiev quanto Moscou: "Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar. Somente uma conferência internacional que seja reconhecida pelas partes, nos moldes da proposta de Brasil e China, viabilizará a paz."

A proposta sino-brasileira não menciona explicitamente a retirada de tropas russas das regiões atualmente ocupadas, algo que ressoa com as demandas apresentadas também nesta sexta-feira por Vladimir Putin. A Ucrânia e seus aliados rechaçam a ideia de ceder território à Rússia.

"Esse é exatamente o tipo de comportamento que não queremos ver", afirmou o secretário americano de Defesa, Lloyd Austin, comentando a proposta de paz de Putin que condiciona o fim do conflito à cessão de território ucraniano. "Não queremos ver um líder de um país acordar um dia e decidir que ele quer apagar as fronteiras e anexar o território do seu vizinho. Esse não é o mundo em que nenhum de nós quer viver."

Regulação da IA

Ao criticar a "concentração sem precedentes" de tecnologias digitais "nas mãos de um pequeno número de pessoas e de empresas, sediadas em um número ainda menor de países", o mandatário brasileiro também defendeu a "governança internacional e intergovernamental da inteligência artificial" em nome de uma IA "segura, transparente e emancipadora". "E, sobretudo, uma IA como ferramenta para a paz, não para a guerra."

Na véspera, falando na sede da Organização Internacional do Trabalho, em Genebra, Lula já havia dito que a IA "não pode ser só para umas poucas empresas que têm todos os nossos dados sem pagar um centavo".

ra/av (EFE, Lusa, ots)