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No G20, Merkel ensaia passagem de poder

31 de outubro de 2021

Social-democrata Olaf Scholz, que virou as costas para Bolsonaro, participa de conversas com Macron, Biden e outros líderes durante cúpula em Roma, em sinal claro de transição política no governo alemão.

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Merkel levou Scholz (à direita) para a mesa de conversas com Biden: sinal claro de transição democrática
Merkel levou Scholz (à direita) para a mesa de conversas com Biden: sinal claro de transição política em BerlimFoto: Oliver Weiken/dpa/picture alliance

A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, usou a reunião de cúpula do G20 neste fim de semana para ensaiar uma transição de poder para seu provável sucessor, Olaf Scholz, e o levou a encontros bilaterais com outros líderes.

Merkel está há 16 anos no poder na Alemanha e anunciou que se aposentaria após as eleições de setembro passado. Ela só não encerrou suas atividades ainda porque Scholz está negociando com outros partidos a formação de um novo governo.

Scholz é do Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, e acompanha a delegação alemã em Roma na condição de atual ministro das Finanças e vice-chanceler de Merkel.

O fato de ele ter acompanhado a governante e sentado à mesa com ela em conversas bilaterais não é habitual e sinaliza que ela está preparando uma sucessão.

Segundo o tabloide alemão Bild, Scholz conversou, em duas reuniões diferentes, com o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, e com o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. Isso aconteceu enquanto outros ministros aguardavam em segundo plano, como é habitual.

G20 Gipfel in Rom
Macron, Merkel e Scholz: transição de poderFoto: Gregorio Borgia/Pool/REUTERS

Mais simbólico ainda foi o fato de Merkel ter levado Scholz para um encontro com o presidente americano, Joe Biden. O provável futuro chanceler federal alemão se reuniu separadamente também como o presidente francês, Emmanuel Macron, no início da cúpula em Roma.

Sem conversa com Bolsonaro 

No sábado, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, chegou a estar na mesma roda de conversa que Scholz. Bolsonaro, porém, dirigiu a palavra apenas ao autocrata turco Recep Tayyip Erdogan. O futuro governante alemão virou as costas e foi falar com o premiê britânico, Boris Johnson.

A postura de Scholz está em linha com a do governo Merkel desde que Bolsonaro chegou ao poder: não busca encontros bilaterais, ao mesmo tempo em que evita antagonizar abertamente o governo brasileiro.

Isolado internacionalmente, Bolsonaro teve uma agenda magra em sua estada na Itália até aqui.

Na reunião do G20, sua programação incluiu até o início deste domingo apenas um encontro com o presidente italiano Sergio Mattarella - reunião foi uma mera formalidade já que a Itália sedia a cúpula - e uma reunião com o secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Mathias Cormann. Outros encontros bilaterais não estavam previstos.

O líder do partido italiano de extrema direita Liga Norte, Matteo Salvini, se reunirá com Bolsonaro na próxima terça-feira (30/10), na cidade de Pistoia, região central da Itália.

Os dois vão participar de uma cerimônia em frente ao monumento erguido em memória dos quase 500 pracinhas brasileiros que morreram na Segunda Guerra Mundial.

Após o encontro do G20, o presidente brasileiro irá na próxima segunda para o vilarejo de Anguillara Veneta, em Pádua, onde nasceu um de seus bisavôs, Vittorio Bolzonaro. Bolsonaro não deve ir à cúpula do clima COP26, que começa neste domingo na Escócia.

Transição na Alemanha até o Natal

O partido de Scholz foi o mais votado nas eleições de setembro passado na Alemanha. Mas não recebeu apoio suficiente para governar sozinho. Por isso, tem que negociar uma aliança com o Partido Verde e com os liberais do FDP para formar um gabinete.

Nas eleições gerais, o SPD recebeu 25,7% dos votos. O Partido Verde obteve o melhor resultado da sua história, com 14,8%, e os liberais alcançaram 11,5%.

As conversas estão em andamento, e as legendas esperam um desfecho antes do Natal.

rpr (ots)