No centenário do PCC, Xi exalta ascensão da China
1 de julho de 2021Durante celebração do centenário do Partido Comunista da China (PCC), o presidente chinês, Xi Jinping, exaltou nesta quinta-feira (01/07) o que chamou de ascensão "irreversível" do país para o status de grande potência e alertou contra interferências estrangeiras.
Discursando sobre o grande retrato de Mao Tsé-Tung na Praça da Paz Celestial, do pódio em que o lendário líder comunista proclamou a República Popular da China em 1949, Xi afirmou que a era de opressão internacional à China chegou ao fim.
"O tempo em que o povo chinês podia ser pisoteado, em que sofria e era oprimido se encerrou para sempre. O povo chinês não permitirá jamais que forças estrangeiras o intimidem, oprimam ou escravizem", afirmou.
"Quem ousar tentar fazê-lo terá sua cabeça batida contra a Grande Muralha de aço forjada por mais de 1,4 bilhão de chineses", ameaçou.
Num discurso de uma hora, Xi prometeu investir no Exército chinês, se comprometeu com a "reunificação" de Taiwan e afirmou que a estabilidade social seria garantida em Hong Kong enquanto se protege a segurança e a soberania chinesa.
Após fazer referências às Guerras do Ópio no século 19, ao colonialismo ocidental, à invasão japonesa (1931-1945) e à Revolução Chinesa, Xi elogiou o PCC por trazer o que chamou de "rejuvenescimento" ao país, retirando dezenas de milhares da pobreza e restaurando o orgulho nacional.
"O grande renascimento da nação chinesa entrou num processo histórico irreversível", declarou.
"O povo da China não é bom em apenas destruir o velho mundo, mas também criou um novo mundo", disse Xi, que está no poder há oito anos e é considerado o mais poderoso líder do país desde Mao. "Somente o socialismo pode salvar a China."
"A China se proclama cada vez mais uma superpotência. Xi Jinping envia uma mensagem forte ao Ocidente: qualquer iniciativa de conter a China está fadada ao fracasso", observou o especialista Willy Lam, da Universidade Chinesa de Hong Kong.
Dezenas de milhões de membros
Em meados de 1921, Mao e pensadores marxistas-leninistas em Xangai fundaram o Partido Comunista, que desde então se transformou numa das organizações políticas mais poderosas do mundo.
O PCC conta hoje com 95 milhões de membros, conquistados ao longo de um século marcado por guerra, fome e instabilidade, e, mais recentemente, duras críticas vindas do Ocidente, principalmente dos EUA.
Numa cerimônia repleta de pompa e ufanismo, milhares de cantores e uma banda em marcha fizeram ressoar nesta quinta versos como "Sem o Partido Comunista não haveria uma nova China", enquanto convidados aplaudiam e agitavam bandeiras na Praça da Paz Celestial lotada.
Um voo de helicópteros formando o número 100, acompanhados de uma gigante bandeira com martelo e foice, símbolo do partido, e uma salva de cem tiros se seguiram.
"Graças ao partido temos uma sociedade como esta e o país pôde se desenvolver rapidamente", comentou Li Luhao, um estudante de 19 anos presente na praça no coração de Pequim, à agência de notícias AFP.
O centenário do PCC motivou uma intensa campanha de propaganda iniciada há meses, que culminou com um grande espetáculo no Estádio Olímpico de Pequim nesta segunda, com referências à Revolução Chinesa e à gestão da epidemia de covid-19 no país.
Meios de comunicação chineses atribuem o sucesso no controle da doença ao sistema autoritário de governo em vigor, contrapondo-o ao que chamam de caos epidêmico vivido por democracias ocidentais. Ao mesmo tempo, ignoram críticas de que o sistema autoritário de governo tentou esconder a existência do vírus no início da epidemia e mesmo dificultou o seu controle, dando origem a uma pandemia.
Como era de se esperar, eventos como a violência durante a chamada Revolução Cultural, crises de fome e o massacre da Praça da Paz Celestial em 1989 não figuraram entre os temas abordados no âmbito do centenário do PCC.
Desafios internos e externos
Com um crescimento econômico elevado nos últimos 40 anos, o PCC pode se orgulhar de ter tirado o país do subdesenvolvimento. Mas os líderes da China enfrentam agora uma desaceleração econômica global, desafios climáticos e o envelhecimento populacional.
No âmbito internacional, em meio à covid-19, à repressão à minoria muçulmana uigur na província de Xinjiang e às ameaças a Taiwan, a imagem da China caiu nos últimos dois anos para seu nível mais baixo entre a maioria dos países ocidentais, de acordo com um estudo divulgado nesta quarta-feira pelo think tank americano Pew.
As comemorações do centenário do PCC ocorrem justo um ano depois de Pequim ter imposto a chamada lei de segurança nacional em Hong Kong, que reduziu consideravelmente a oposição política na antiga colônia britânica.
Nesta quinta, também se completam 24 anos da devolução do território à China, data que costuma ser marcada por protestos contra Pequim. A polícia de Hong Kong proibiu manifestações, alegando razões sanitárias.
lf/as (AFP, Reuters)