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EducaçãoBrasil

Nem o básico para a cidadania: nível de matemática no Brasil

Vinícius de Andrade
Vinícius De Andrade
14 de dezembro de 2023

Sete em cada dez estudantes brasileiros de 15 anos não sabem o mínimo de matemática, revelou o Pisa 2022. De quem é a culpa? Professores indicam problema multifacetado e sugerem abordagem integrada para melhorar o quadro

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Escola brasileira
Foto: Joacy Souza/PantherMedia/IMAGO

"73% dos estudantes brasileiros não alcançaram o nível básico em Matemática, considerado pela OCDE o mínimo necessário para que os jovens possam exercer plenamente sua cidadania”

Essa é a situação atual do Brasil, de acordo com os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, o famoso Pisa. O estudo é realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e é um comparativo internacional educacional entre países.

Na edição atual, aplicada em maio de 2022, 10.708 jovens brasileiros participaram e o país esteve abaixo da média mundial nas 3 áreas que o programa visa inferir sobre: matemática, leitura e ciências.

A cada edição, o Pisa avalia um domínio principal e o escolhido em 2022 foi matemática. A média da OCDE nesta área foi de 472. O Brasil está com uma média de 379 e abaixo de outros países da América do Sul como: Colômbia, Peru, Uruguai e Chile.

Portanto, o desempenho do país na área e as possíveis razões para isso serão o foco desta coluna. Para isso, tive a oportunidade de falar com três professores de matemática que atuam em nossa rede pública de ensino.

Lacunas

Tudo começa na base. Logo no fundamental 1, período correspondente do primeiro ao quinto ano, já há problemas com a introdução às noções básicas de matemática. É difícil pontuar uma razão apenas para isso, pois há uma série delas e todas, de uma forma ou de outra, estão conectadas. Nessa fase da vida escolar, sobretudo, podemos citar a falta de participação das famílias e a grande quantidade de alunos por sala.

Desse modo, o aluno chega no sexto ano, já no fundamental 2, com lacunas da fase anterior e assim os problemas se agravam.

Já faz 8 anos que Isabella Stersa de Oliveira leciona a disciplina na rede paranaense. Segundo ela: "Os alunos não estão chegando no sexto ano sabendo as 4 operações básicas: soma, subtração, divisão e multiplicação. Lá, a gente revê elas e deveríamos ir um pouco além.  Mesmo recapitulando, chega no final do ano e nem lembram a subtração. Eu nem consigo trabalhar a divisão, pois estão muito defasados nas primeiras. Mesmo eu dando a conta que deve ser feita é um problema, mas quando eles têm que armar/montar ela é mais difícil ainda”

Ela continua: "Por conta desse déficit na base, vai ficando mais difícil e acaba gerando mais desinteresse neles. Mesmo eu indo no ritmo deles ou apenas avançando quando todos acompanham, ainda há muito desinteresse e muitos não querem nem tentar. Eles já não estudam mais em casa e, por isso, já tento passar pouca tarefa para casa, pois notei que não é eficiente: a maioria irá copiar do colega ou colocar qualquer resposta apenas por colocar e ter nota. Já não vejo aquela vontade de aprender, mesmo quando tento trazer atividades diferentes”

A Isabella pintou um bom cenário sobre o quanto é desafiador lidar com a disciplina de matemática em um colégio brasileiro, sobretudo em uma escola pública. Vocês podem estar se perguntando as razões para isso.

Walter Fernandes da Silva Junior é professor na rede paulista. Segundo ele, o novo ensino médio agravou uma questão que já existia antes: "Ensino engessado e tecnicista. Excesso de conteúdos e pouco aprofundamento dos mesmos”.

Isabella concorda: "O novo ensino médio diminui a quantidade de aulas. Assim, se vê tudo superficialmente e logo se passa para um novo assunto”

Ouvindo a fala dos dois acerca deste tópico eu lembrei de mim no colégio. Nunca fui um aluno brilhante em matemática, mas também nunca estive entre os piores. De qualquer forma, lembro que eram muitos conteúdos e passados com uma velocidade na qual era difícil eu entender a progressão lógica ou a relação entre eles. Era quase como se não houvesse relação alguma e eu simplesmente precisava "aprender”, para não dizer decorar, rápido o bastante para ter nota na prova e ir para um novo assunto. Hoje me pergunto: isso é mesmo um processo de aprendizagem?

De quem é a culpa? Os professores com quem conversei são categóricos: não há um agente específico. Guilherme Cecilio de Paula, professor na rede carioca, diz: "Responsabilizar agentes específicos pode ser complexo, pois é um problema multifacetado que envolve desde políticas públicas até ações individuais. No entanto, uma abordagem integrada que envolva governo, instituições educacionais, professores, pais e alunos pode ser essencial para melhorar a situação".

Medidas

No entanto, segundo o professor carioca, há uma série de políticas que podem e deveriam ser adotadas a nível Brasil e tendo como agente propulsor o próprio governo. São elas:

 

  • 1. Investimento Significativo: Alocar recursos adequados para melhorar a infraestrutura escolar, fornecer materiais didáticos atualizados e capacitar professores;

 

  • 2. Formação Continuada de Professores: Oferecer programas de formação contínua que atualizem os professores sobre práticas de ensino modernas e promovam aprofundamento nos conteúdos matemáticos;

 

  • 3. Metodologias Ativas: Incentivar o uso de metodologias de ensino mais interativas e práticas, que estimulem o pensamento crítico e resolução de problemas;

 

  • 4. Tecnologia na Educação: Integrar a tecnologia de forma eficaz no ensino, utilizando recursos como softwares educativos e plataformas online para tornar o aprendizado mais envolvente;

 

  • 5. Envolvimento dos Pais: Promover a participação ativa dos pais na educação, incentivando o acompanhamento do desempenho acadêmico e fornecendo suporte em casa;

 

  • 6. Avaliação Formativa: Adotar práticas de avaliação formativa que forneçam feedback contínuo aos alunos e professores, identificando áreas que precisam de reforço;

 

  • 7. Redução das Desigualdades: Implementar políticas que reduzam as disparidades socioeconômicas no acesso à educação, garantindo que todos os alunos tenham oportunidades iguais.

 

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto, escrito por Francisco Souza (nome fictício, pois o autor preferiu não se identificar), docente em uma universidade do Norte do país, reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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A coluna quinzenal é escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade.