Negociações para formação do novo governo alemão se arrastam
19 de novembro de 2017A chanceler federal Angela Merkel e seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU), continuam a negociar neste domingo um acordo com o Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) e os Verdes para a formação de um novo governo. Mas o cenário parece sinalizar dificuldades para Merkel.
As conversas preliminares, que deveriam ter sido concluídas até às 18h (horário local) deste domingo (19/11), já ultrapassaram a previsão inicial sem que nenhum dirigente partidário tenha comunicado se um acordo foi selado ou se há alguma expectativa de progresso.
Os representantes dos verdes, liberais e da CDU mais o braço bávaro da última sigla, a CSU, estão reunidos desde a manhã deste domingo na sede da representação do Estado de Baden-Württenberg, em Berlim.
Mais cedo, o presidente alemão, Frank Walter Steinmeier, exortou as partes a chegar a um compromisso. "As partes têm uma responsabilidade e devem assumi-la sem devolvê-la aos eleitores”, disse Steinmeier em entrevista ao jornal Welt am Sonntag.
Após o resultado das eleições de setembro passado, a CDU de Merkel, sua ala bávara, o FDP e os Verdes passaram a negociar um acordo preliminar que possa dar início a uma rodada de negociações formais para a formação de uma coalizão de governo.
Esta aliança, apelidada pela imprensa como a "coalizão da Jamaica", porque as cores dos partidos coincidem com as da bandeira do país caribenho, é a única que pode ter uma maioria absoluta no Parlamento, já que o Partido Social Democrata (SPD), que governou ao lado de Merkel nos últimos quatro anos, já decidiu que não quer continuar como parceiro da chanceler federal. Neste domingo, o líder do SPD, Martin Schulz, voltou a assegurar que a sigla não deve mudar de ideia, mesmo se Merkel não conseguir forma um governo de maioria.
Coalizão inédita
Tal coalizão nunca foi testada a nível nacional. A aliança com os liberais e os verdes é vista como fundamental para os conservadores já que, caso ela não vingue, o país poderia estar diante, pela primeira vez, da necessidade de convocar novas eleições – isso se o SPD mantiver mesmo seus planos de romper com Merkel.
Apesar de a CDU/CSU ter recebido a maior parte dos votos nas eleições alemãs de setembro, o resultado surpreendentemente apertado (32,9%) significa que os conservadores precisam dos liberais (10,7%) e dos verdes (8,9%) para ultrapassar os 50% de apoio e formar um governo de maioria.
Divergências
Os partidos têm se mostrado divididos desde o início das conversas. Há discordância sobretudo em relação à fixação de um teto para limitar a entrada de refugiados no país, questão que fez com que a chanceler federal perdesse apoio nas últimas eleições.
Muito da campanha eleitoral foi centrado na política de "portas abertas" de Merkel, que, desde 2015, permitiu a entrada de mais de um milhão de refugiados na Alemanha.
A CDU e CSU desejam limitar em 200 mil anuais o número de pessoas que poderiam entrar na Alemanha por questões humanitárias. Os verdes, porém, rejeitam esse teto.
Outros pontos de discussão são a proteção a crescente integração da Alemanha com a União Europeia. o meio ambiente, transportes e política energética, que causam atritos entre os quatro partidos.
Próximos passos
Se os partidos decidirem que, sim, é possível formar uma aliança, deve ser dado início às negociações formais para a formação do próximo gabinete de governo. Essa fase, porém, só deve começar depois da convenção do Partido Verde, em 25 de novembro.
Se a aliança vingar, tanto o programa de governo para os próximos quatro anos como os nomes que ocuparão os postos ministeriais devem ser conhecidos ainda antes do Natal. No início de janeiro, o novo governo já começaria a trabalhar.
No entanto, mesmo que as discussões avancem nos próximos dias, ainda não há garantias de sucesso. Apesar de semanas de sondagens prévias, as negociações formais ainda podem fracassar caso os partidos não cheguem a um acordo sobre os temas divergentes.
Se isso ocorrer, e um novo pleito tiver que ser convocado, políticos tradicionais temem que o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) ganhe ainda mais terreno depois de ter conseguido entrar no Bundestag (Parlamento alemão) após as eleições de setembro.
Fundada há menos de cinco anos, a AfD sacudiu a política do país ao adotar um discurso anti-imigração, tirar votos dos principais partidos e conseguir entrar no Legislativo.
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