Negociações entre governo sírio e oposição avançam com cautela
26 de janeiro de 2014A necessidade de garantir a entrega da ajuda humanitária na Síria e a troca de prisioneiros estavam no topo da agenda das negociações de paz entre os representantes do presidente Bashar al-Assad e da oposição, neste domingo (26/01), na conferência Genebra II. No entanto, só o primeiro tema foi abordado.
Lakhdar Brahimi, enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, comentou à imprensa que as conversações têm sido "altamente complicadas". Assim, decidiu tratar primeiramente dos temas de interesse comum a ambas as partes, antes de abordar questões as mais espinhosas.
Na série de encontros na sede da ONU em Genebra, a meta ideal, porém altamente improvável de ser alcançada, é o fim da guerra civil na Síria, que já dura três anos e custou mais de 130 mil vidas. Numa primeira vitória, graças aos esforços diplomáticos de Brahimi, neste sábado os representantes do presidente Bashar al-Assad e os da oposição no exílio, a Coalizão Nacional Síria, sentaram-se frente a frente pela primeira vez.
Oposição impaciente
Após uma reunião preliminar, em que apenas o enviado da ONU se pronunciara, o primeiro tema da tarde de sábado foi a ajuda humanitária à combalida cidade de Homs, dominada pelos rebeldes e há 18 meses sitiada pelas forças de Assad.
Segundo Monzer Akbik, da delegação oposicionista, o governo prometera responder ao pedido de liberação da entrada de ajuda humanitária em Homs. Segundo a oposição, 500 famílias necessitam urgentemente de alimentos e medicamentos.
"Os membros do regime afirmaram que terão que retornar a Damasco para tomar uma decisão final a esse respeito, e que darão uma resposta ainda hoje", relatou Akbik, acrescentando ser essa uma estratégia para ganhar tempo. "Percebemos a falta de seriedade por parte do regime", lamentou. Alguns observadores confirmaram a impressão de tratar-se de uma tentativa de procrastinação.
Governo não honra garantias
Por outro lado, o ministro sírio da Informação, Omran al-Soabi, acenou com incentivos à ajuda humanitária. "Temos que lidar, primeiramente, com os assuntos humanitários de um modo abrangente", declarou. Os esforços para minorar o sofrimento da população síria têm sido prejudicados por ambos os lados do conflito, que com frequência bloqueiam o acesso às áreas dominadas por seus oponentes.
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês) relatou dificuldades de realizar entregas de alimentos e outros recursos em Yarmouk – distrito da capital Damasco habitado por sírios e palestinos que vivem na pobreza – apesar das garantias do governo.
O porta-voz da UNRWA, Chris Guiness, afirmou que a entidade está "extremamente decepcionada que as garantias dadas pelas autoridades, de permitir a entrada rápida em Yarmouk, não foram respaldadas por ações".
Impasse na formação do governo de transição
A discussão sobre a troca de prisioneiros, um tema ainda mais polêmico, foi adiada para a segunda-feira. Até o momento, o governo sírio soltou apenas seus presos políticos, enquanto os rebeldes puseram em liberdade reféns estrangeiros do Irã e do Líbano.
Representantes da oposição disseram ter apresentado uma lista de 47 mil presos a serem libertados, além de 2.500 mulheres e crianças, que consideram prioridade. No que toca aos rebeldes sírios, por outro lado, a questão central é a libertação dos soldados e civis próximos ao regime de Assad em seu poder.
Também na segunda-feira, Lakhdar Brahimi planeja lidar com o que considera o cerne de Genebra II: o estabelecimento de um governo de transição em consenso mútuo, como foi estipulado na conferência de paz de 2012. Como declarou repetidas vezes à imprensa, o mediador da ONU insiste que as deliberações dessa primeira conferência sejam a base para as discussões atuais.
Antecipando a segunda rodada de negociações em Genebra, a Coalizão Nacional Síria havia declarado que as conversações seriam um "balão de testes" para a disposição do governo de negociar. Enquanto os oposicionistas insistem na formação de um governo de transição, os representantes do regime Assad rejeitam terminantemente a proposta – apesar de a terem acatado formalmente em 2012.