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Cresce esperança de fim do conflito armado na Colômbia

Astrid Prange (cn)19 de novembro de 2013

Discussão sobre tráfico e desarmamento foi adiada por prazo indefinido por "precisar de mais tempo". No início do mês, governo e Farc chegaram a um acordo sobre participação política de rebeldes e reforma agrária.

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Militante das Farc em província do interior da ColômbiaFoto: picture-alliance/dpa

Um passo para a frente, dois para trás: as negociações de paz entre o governo colombiano e os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) avançam de forma hesitante.

Depois do progresso promissor no início do mês, a terceira rodada, que deveria começar nesta segunda-feira (18/11) na capital cubana, Havana, foi adiada por tempo indeterminado. Segundo a imprensa local, o adiamento se deve aos preparativos para discutir os sensíveis temas "drogas ilegais" e "desarmamento", que necessitariam de mais tempo, segundo relatos publicados no último fim de semana.

Ainda no início de novembro, o país estava cheio de esperança com as negociações que têm como objetivo acabar com a guerra civil colombiana, que já dura cerca de 50 anos. "Não tenham medo de reveses", exortou o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em discurso na televisão, logo após o acordo sobre as possíveis formas de participação política dos integrantes das Farc.

Há já um ano, em Cuba, representantes do governo colombiano e integrantes das Farc estão negociando a paz. Em maio, eles chegaram a um acordo abrangente sobre a reforma agrária. Deste modo, já estão resolvidos dois dos seis blocos temáticos em discussão. Além do narcotráfico e do desarmamento dos rebeldes, os outros temas são a indenização das vítimas e a implementação concreta do acordo de paz.

Povo quer a paz

Segundo uma pesquisa do "Observatório da Democracia nos Andes", da Universidade de Bogotá, a maioria da população colombiana aprova as negociações de paz em Havana. Dos 1.500 entrevistados nas regiões de conflito, 59% se declararam a favor dos encontros – no restante do país, essa porcentagem é de 53%. A parcela das vozes contrárias fica entre 27% e 33%.

Mas quando se trata da aplicação prática, a situação muda de figura: 69% dos entrevistados são contra a participação política de ex-integrantes das Farc; nas regiões atingidas pelos conflitos, essa rejeição sobe para 83%.

Kolumbien Präsident Juan Manuel Santos
Presidente Santos: mediador das negociações de pazFoto: picture-alliance/dpa

Porém, segundo o acordo entre os negociadores firmado no dia 6 de novembro, ex-guerrilheiros poderão representar, na Câmara dos Deputados, as regiões especialmente afetadas pelo conflito, munidos de um mandato "provisório".

"Essa etapa é importante, pois houve um consenso sobre as regras para uma participação política das Farc – para além da criação de um partido político", comentou Sabine Kurtenbach, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo, em entrevista à DW Brasil. Segundo a especialista, o Estado colombiano se comprometeu a garantir a participação de regiões e setores que antes não tinham quase nenhuma representação.

Desde já, as negociações de paz dominam o debate político e também a campanha para a eleição presidencial, marcada para maio de 2014. O atual presidente, Juan Manuel Santos, precisa decidir até o dia 25 de novembro se irá concorrer à reeleição. Seu interesse é concluir o mais breve possível as negociações em Cuba.

Opiniões divergentes

Ao contrário de Santos, nem todos os partidos concordam com a integração das Farc na política nacional. "É repugnante negociar com as Farc sobre um futuro democrático", disse o ex-presidente Álvaro Uribe, acrescentando que a guerrilha é o maior cartel de drogas, sequestros e assassinatos em todo o mundo.

O repúdio de Uribe ao grupo guerrilheiro tem longo histórico: em 1983, seu pai foi morto pelos rebeldes, após uma tentativa frustrada de sequestro. Na última semana, essa hostilidade atingiu mais um ápice, quando o ministro da Defesa Juan Carlos Pinzón acusou os guerrilheiros de planejar um atentado contra Uribe.

Abkommen zwischen Kolumbiens Regierung und FARC
Comandante das Farc Ivan Marquez anuncia acordo sobre participação políticaFoto: Yamil Lage/AFP/Getty Images

Como afirmou à imprensa em 12 de novembro, o governo descobriu os planos e aumentou a segurança do ex-presidente. Nesta terça-feira, as FARC negaram os planos numa entrevista à rádio Caracol, dizendo que se trata de uma "informação falsa".

O padre Alberto Franco, da Comissão Ecumênica de Justiça e Paz, espera que as negociações ponham fim ao profundo ódio de ambos os lados. "Nós precisamos criar um clima para que a luta social da guerrilha seja travada sem armas no nível político. Uma coisa é pegar em armas para mudanças sociais, outra é a colaboração de paramilitares com o Exército e a polícia por motivos econômicos", diz o religioso. Suas críticas aos grupos que combatem as Farc inoficialmente já lhe acarretaram diversas ameaças de morte.

Movimento perde força

Contudo, 50 anos após o início da guerra civil, começam a surgir sinais de um possível fim do conflito entre rebeldes e tropas do governo. Cada vez menos colombianos estão dispostos a lutar nas alas da Farc. Segundo o Ministério da Defesa, nos últimos dois anos, quase 5.400 guerrilheiros desertaram, e atualmente o contingente do grupo rebelde se limitaria a cerca de 7 mil homens.

Kolumbien Massaker Bojaya
Há 11 anos, granada das Farc matava 78 durante missa em BojayaFoto: Luis Acosta/AFP/Getty Images

Além disso, o país inteiro parece estar cansado de guerra. Desde a criação das Farc, em 1964, o combate aos latifundiários já fez mais de 200 mil vítimas fatais, segundo uma comissão do governo, e cerca de 3 milhões foram expulsos de suas terras. Outras estimativas falam em 600 mil mortos em meio século de conflito.

No entanto, enquanto as negociações transcorrem em Havana, a luta continua na Colômbia. O governo recusa um cessar-fogo, temendo que os rebeldes se aproveitem para se armar. As Farc só se comprometeram a "depor as armas", não a entregá-las definitivamente.