Neandertais fizeram as primeiras pinturas do mundo
23 de fevereiro de 2018As pinturas mais antigas do mundo em cavernas foram feitas por neandertais e não pelo Homo sapiens como se pensa, revelou um estudo publicado nesta quinta-feira (22/02) pela revista especializada Science.
Com o uso de alta tecnologia, pesquisadores analisaram três cavernas na Espanha e descobriram que a arte rupestre encontrada no local tinha cerca de 66 mil anos, ou seja, são 20 mil anos mais antigas do que a chegada do Homo sapiens à Europa. As pinturas reproduzem uma série de linhas, alguns discos e o esboço de uma mão.
As novas datações das cavernas de Ardales, Maltravieso e Pasiega, que certificam uma antiguidade até então insuspeitada para as origens da atividade artística, foram possíveis graças ao método de Urânio-Torio (U-Th), que mede o tempo tendo como base a desintegração radioativa do urânio das crostas de calcita associada às pinturas.
As amostras foram analisadas pelos pesquisadores Alistair Pike e Chris Standish, da Universidade de Southampton, e Dirk Hoffmann, do Instituto Max Planck, que mediram miligramas de depósitos de calcita existente sob e sobre as pinturas, nas quais predominam diferentes tons de vermelho. Ao todo, pesquisadores de instituições de cinco países participaram da pesquisa.
As conclusões da pesquisa determinam que uma mão pintada em negativo em Maltravieso foi feita há pelo menos 66,7 mil anos, e que uma formação de calcita foi coberta de pintura há, no mínimo, 65,5 mil anos na caverna de Ardales. Além disso, foi revelado que um sinal com forma de escada da caverna de Pasiega conta com aproximadamente 64,8 mil anos.
"A pintura sempre foi vista com uma atividade muito humana, então se os neandertais fizeram isso, eles são como nós", afirmou Pike.
O estudo mostra que a espécie possuía habilidades específicas para criar uma mistura de pigmentos e escolher as regiões apropriadas para realizar os desenhos. Nas cavernas, também foram encontradas conchas pintadas e perfuradas que, na opinião dos especialistas, estariam vinculadas com decorações corporais usadas pelos neandertais.
De acordo com Joao Zilhão, pesquisador da Universidade de Barcelona, "os neandertais utilizavam misturas de pigmentos sofisticados e praticavam a ornamentação do corpo, inclusive muito antes que tais condutas tenham sido documentadas entre os primeiros homens modernos da África".
Segundo os pesquisadores, a descoberta sugere que os neandertais tinham capacidade cognitiva de compreender representações simbólicas, um pilar central da cultura humana. O estudo também indica que a espécie e os Homo sapiens eram indistinguíveis em termos de habilidades mentais.
Os neandertais viveram na Europa e na Ásia, antes de desaparecerem há cerca de 40 mil anos, logo após a chegada dos Homo sapiens na região. Não se sabe o que causou a extinção da espécie, embora teorias apontem a incapacidade de se adaptar a mudanças climáticas ou a competição com humanos como possíveis causas.
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