Música pop também se aprende na escola
15 de agosto de 2003A indústria musical alemã está em plena crise. Há anos suas vendas caem continuamente; somente em 2002, foram mais de 11%. A primeira tentação é atribuir os prejuízos ao comércio ilegal de música em formato MP3, pela internet. Porém o argumento não sustenta a comparação com países vizinhos, como a França, onde, apesar dos mesmos fatores, as vendas de discos e CDs deram um salto no ano passado.
Uma outra explicação para a situação difícil seria a ausência de uma cena nacional forte. Apostando nesta alternativa, uma iniciativa na cidade de Mannheim visa pôr fim à deficiência. Na primeira academia oficial de música pop da Alemanha, os jovens receberão formação profissional, tanto em instrumentos e canto, como na maneira de lidar com a indústria fonográfica.
A pedra fundamental para o atual projeto existe desde 1996. Na época, o estado do sul Baden-Württemberg e a Rádio SWR criaram a fundação Rockstiftung, com o fim de profissionalizar a cena regional rock e pop. Neste sete anos, cerca de 3500 músicos e empresários participaram de seus seminários. Agora, a fundação se ampliará num projeto bem mais ambicioso, a Pop Akademie, onde se poderá estudar, em nível superior, todo o espectro do mercado pop.
Criatividade e negócios
Mais de mil interessados já se candidataram para as 55 vagas nos dois cursos oferecidos. Design de Música Pop trata dos aspectos artísticos e criativos, com a formação de instrumentistas, cantores, compositores, produtores e disc-jóqueis.
A porta-voz Isabel Palmtag explica que a intenção central é dar formação sólida a verdadeiros talentos, e não treinar "artistas de plástico" para o sucesso rápido. O contato com a prática é extremamente valorizado. Assim, serão formadas bandas fictícias, com determinadas tarefas a cumprir: "Imaginem que há um trabalho como hip-hop act, e o grupo precisa de cinco canções para apresentar-se. Depois de escrevê-las, é preciso decidir qual a melhor forma de produzi-las", exemplifica Palmtag.
O segundo currículo, Business Musical, transmitirá know-how sobre o setor, dirigindo-se a quem pretenda trabalhar numa companhia de discos, dedicar-se ao marketing ou abrir sua própria agência para concertos e eventos. Aqui, os pré-requisitos são apenas o segundo grau completo e experiência no setor musical. Os alunos serão confrontados com desafios concretos, como desenvolver a concepção de marketing para uma banda real.
Idéia nova em modelo tradicional
Os cursos a se iniciarem em outubro deste ano dão direito ao título de Bacharel em Artes. Eles se orientam pelo modelo de academia profissional difundido sobretudo no sul da Alemanha: três anos de aulas teóricas e seminários, entremeados de fases de estágio relativamente extensas, tanto em firmas do setor como na própria academia. As taxas semestrais são de 500 euros.
O projeto Pop Akademie está orçado em 3,6 milhões de euros. Ao lado da participação dos governos municipal e estadual, duas emissoras e o consórcio Universal Music cuidam do financiamento. O músico Xavier Naidoo e seu conjunto, Söhne Mannheims, também contribuirão com 75.000 euros por ano. Considerado o músico alemão mais bem-sucedido dos últimos tempos, o poeta soul explica seu engajamento: "Gostaria de, na minha época, haver aprendido com gente cujo trabalho respeito".
O músico natural de Mannheim também comporá o corpo docente, ao lado de colegas como os guitarristas Klaus Lage e Peter Wölpel, ou o baixista T.M Stevens, que já atuou ao lado de Joe Cocker e Tina Turner.