Mídia debate "A Queda" de Hitler
21 de setembro de 2004Literatura condensada – "Digno de nota é o fato de que Bernd Eichinger foi capaz de condensar de tal forma a literatura sobre o período, que cada milímetro de seqüência desse filme deixa a impressão de pesar toneladas. [...] Falou-se que o filme não contribui em nada para a compreensão acerca do Terceiro Reich. Deveríamos protelar a resposta a essa questão. Pois o filme é capaz, primeiramente, de esclarecer algo sobre o que aconteceu. Se isso fizer com que as pessoas se voltem para os livros de Joachim Fest, Ian Kershaw ou Sebastian Haffner, já se atingiu bastante."
Frankfurter Allgemeine Zeitung
O menor denominador comum – "O argumento de que tudo aconteceu exatamente assim pode até ser verdadeiro, mas não importa. Pois a ambição do cinema sempre foi encontrar sua própria economia narrativa: saber observar a massa de fatos e fazer uma escolha, defender uma posição, um ponto de vista. A Queda faz uso do menor denominador comum e do maior efeito possível – mas quem é esse, afinal, que está narrando aqui? [...] A Queda do Terceiro Reich é, sem dúvida, uma grande narrativa. Bernd Eichinger pensou então: vamos mostrar isso exatamente como aconteceu. Mas cada movimento de câmera, cada junção de duas tomadas, cada close é também um posicionamento de valores. De outro jeito o cinema nunca funcionou. E quando um filme vai ao encontro de um fim trágico, acaba transportando uma ideologia clara: a de que existe um destino a ser amargamente cumprido, independente dos atores da história. O gênero clássico para isso é, diga-se de passagem, o melodrama. E que foi, por razões óbvias, o gênero preferido dos nazistas."
Süddeutsche Zeitung
Apocalipse no algodão – "Eichinger se atém ao de sempre: good guys / bad guys, desatino versus razão. Frente ao fanáticos Hitler/Goebbels estão principalmente Speer e o médico da SS, Schenck, que auxilia incessantemente feridos e incorpora heroicamente o humanismo. Isso certamente não foi pensado como salvação da honra da SS. Mas no cinema criado por Eichinger/Hirschbiegel tem que haver bem e mal. A Queda mostra um apocalipse no algodão. No fim, a secretária Traudl Junge, representada por Alexandra Maria Lara com infantis olhos assustados, sai andando de bicicleta em direção à nova República Federal da Alemanha."
taz
Imagens de volta à escuridão de onde vieram – "É evidente que há uma necessidade de reconstrução fílmica do fim da Segunda Guerra. É natural que pessoas que passaram pela guerra, ou aquelas que querem entender melhor o sofrimento de seus pais e avós, se interessem por imagens que tragam esse assunto ao presente. Na Alemanha, faltam formas públicas de memória. A arte do cinema se mostrou no passado como a mais bem-sucedida de todas as possibilidades de lembrar o passado. Pensemos apenas em O Pianista, a obra-prima de Roman Polanski sobre o Holocausto. Embora o espectador não veja ali muita gente morrendo, o filme consegue representar o sofrimento de milhões de pessoas. Na cena mais forte do longa de Hirschbiegel e Eichinger, vê-se seis pessoas inocentes morrendo: os filhos ainda crianças de Goebbels. Uma perspectiva além disso ou, até mesmo como Eichinger anseia, uma perspectiva que leve ao uma reelaboração especialmente alemã do período nazista, o filme não consegue. As imagens que ele mostra acabam voltando para a escuridão de onde vieram."
Frankfurter Rundschau
Perspetiva do camareiro – "Ambivalente parece sobretudo o valor histórico do novo filme sobre Hitler. Como ele vai surtir efeitos: como espetáculo de mídia de grande impertinência, cuja imagem histórica é forte, porém sem conseqüências? O filme nos coloca perto de Hitler, entretanto – para falar junto com Hegel – faz isso sob a perspectiva do camareiro, para o qual não há heróis. O camareiro 'tira as botas do herói, ajuda-o a ir para a cama, sabe que ele prefere tomar champanha'. As personagens históricas, sabia Hegel, sairiam assim deturpadas, pois seriam niveladas pela perspectiva do camareiro. Sobre o Hitler de A Queda seria preciso dizer: ele é desdemonizado sob essa perspectiva. E isso é bom. Mas obviamente muito pouco, quando se abdica ao mesmo tempo de qualquer análise política."
Neue Zürcher Zeitung