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México tenta frear brasileiros rumo aos EUA

18 de agosto de 2022

[Vídeo] México passa a exigir visto físico em vez de autorização eletrônica de turistas do Brasil, uma resposta ao aumento no número de imigrantes em situação irregular tentando entrar nos EUA pela fronteira sul.

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Allan é brasileiro. E seu marido, mexicano. O jovem maquiador – que chegou ao México em 2019 como turista – teve que se casar com um nativo para regularizar sua situação no país. Essa foi a única opção diante da impossibilidade de obter uma autorização de trabalho durante a pandemia de coronavírus. Quando sente saudades de casa, ele vai a um restaurante da capital para comer açaí. Ele e outros brasileiros tiveram obstáculos parecidos para regularizar a situação no México.

"A maneira mais simples de poder ficar no México foi me casar, mas, ainda assim, foi muito burocrático. Eles te pedem milhares de papéis e não pode ter uma vírgula fora do lugar, fora o fato de ser caro", afirma o maquiador Allan Cantamessa. "Mas acho que eles dificultam muito, porque pedem milhares de papéis. No Brasil, por exemplo, o sobrenome da mãe vem antes do sobrenome do pai, e esse foi um dos problemas que tive na imigração."

Desde dezembro, o México já exigia dos brasileiros uma autorização eletrônica para entrar como turista no país. Mas, agora, os mexicanos pedem um visto impresso no passaporte. Os novos e mais rígidos requisitos respondem ao aumento do trânsito irregular de brasileiros rumo aos Estados Unidos. No ano fiscal de 2021 – que vai de 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021 –, as autoridades americanas detiveram cerca de 57 mil brasileiros cruzando ilegalmente a fronteira sul do país. Há três anos, foram 1.500. A dona deste restaurante, Viviane Garcia, percebeu esse aumento no fluxo de brasileiros.

"Por exemplo, de uns seis meses para cá deu um boom. Eu recebia de 30 a 40 pedidos de comida por dia para hotéis de trânsito localizados próximos do aeroporto", conta a dona de restaurante Viviane Garcia. "Eu não entendia… Via que eram pessoas, digamos, muito humildes."

O aumento da pobreza e a tensão política – somados a uma maior rede de famílias brasileiras nos Estados Unidos – são os principais motivos dessa migração intensa. A socióloga Amarela Varela explica o papel que o México desempenha como barreira na entrada de ilegais nos Estados Unidos. 

"Os Estados Unidos colocam os critérios de segurança nacional antes de qualquer outro critério. Isso faz com que o México assine uma série de tratados para subordinar sua política de vistos aos interesses da segurança regional", frisa Amarela Varela, professora da Universidade Autônoma da Cidade do México.

No entanto, as restrições também afetam o turismo de brasileiros – a quarta nacionalidade com maior número de visitantes no México. O setor de turismo em Cancún calcula perdas de mais de 5 milhões de dólares, e algumas companhias aéreas anunciaram a diminuição de cinco para três voos semanais. Esse impacto já tinha sido percebido desde junho, quando o site do Ministério do Exterior do México apresentou falhas e o governo brasileiro solicitou providências urgentes. Os entraves, porém, serão maiores agora devido à saturação dos serviços consulares. A advogada brasileira Larissa Rivas, que presta assessoria migratória em Cancún, já observa os efeitos da nova medida.

"No começo, quando a página de autorização eletrônica parou de funcionar, houve gente não conseguiu embarcar. Foi muito complicado. E muitas pessoas desistiram por causa de toda essa instabilidade. Como os consulados não têm como dar conta de tantos agendamentos, não há como atendê-las", diz Larissa Rivas, especialista em migração.

Com a nova política de vistos do México, o Brasil se torna mais um país a colidir com o muro dos EUA.